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Análise: 'Fogueira de vaidades contamina ambiente no Papão'

Foto: Jorge Luís Totti/Paysandu
Foto: Jorge Luís Totti/Paysandu

Fogueira de vaidades contamina ambiente no Papão

Coincidência ou não, bastou uma derrota em casa para que o ambiente interno do PSC se revelasse um autêntico paiol de pólvora. O primeiro sinal foi dado pelo lateral Edilson, que após o jogo com o Novorizontino disse que, para voltar a vencer, o Papão precisa resolver “problemas internos”.

Horas depois, surgiu a informação de que o técnico Hélio dos Anjos teria procurado a diretoria para pedir a saída do executivo Ari Barros, na base do “ou eu ou ele”. Não seria a primeira vez. Em 2020, Hélio entrou em choque com o então executivo Felipe Albuquerque.

Presidente à época, Ricardo Gluck Paul criticou a postura do treinador e decidiu demiti-lo, prestigiando Albuquerque. Hélio saiu disparando contra o executivo e o próprio mandatário do clube.

Nesse retorno ao Papão, Hélio não havia tido nenhum conflito sério, mas a desavença com Ari Barros chega no pior momento possível, após uma sequência de duas derrotas e antes de dois compromissos difíceis na Série B, contra Vila Nova (fora) e Santos, em Belém.

A diretoria tem a obrigação de agir para estancar o problema. Não se pode esquecer que, em meio à fogueira de vaidades, só quem tem a perder é o clube.

Mitos e enganos olímpicos

Os atletas brasileiros estão se comportando nas Olimpíadas absolutamente dentro das expectativas para um país que não é potência olímpica. Alguns lamentam e reclamam, sempre de quatro em quatro anos. Nos três anos de intervalo, os críticos olímpicos ignoram a necessidade de apoio a políticas públicas direcionadas ao esporte.

Quando se observa que o programa Bolsa Atleta existe há apenas 20 anos – foi instituído em 2005, no primeiro governo Lula –, é possível ter a exata dimensão do pouco que o esporte olímpico teve antes disso.

Da atual equipe brasileira nos Jogos de Paris, formada por 277 atletas, 247 fazem parte do Bolsa Atleta e 77 do Bolsa Pódio, programa instituído no governo de Dilma Rousseff em 2013. E há quem reclame, desavisadamente, como o desinformado apresentador Marcos Mion.

Com ar choroso, ele gravou um vídeo lamentando que os atletas brasileiros se desculpem após insucessos nas Olimpíadas. Afirma, enganosamente, que a média de ganhos de um atleta olímpico no Brasil é de R$ 2 mil – o Bolsa Atleta paga, em média, mais de R$ 6 mil.

As emissoras de TV que transmitem competições costumam omitir essa ajuda exponencial que o governo federal dá aos atletas. Parece proposital, por várias motivações e interesses, o que acaba gerando uma cadeia de ignorância acerca das fontes de apoio ao esporte no país.

Os próprios atletas silenciam sobre as bolsas que recebem, talvez pelo receio de dificultar a captação de patrocínios junto às empresas, embora a Lei 12.395/11 permita que tenham outros patrocínios, o que propicia que consigam mais uma fonte de recurso para suas atividades.

Sob o governo Lula, em 2023, as bolsas tiveram expressivo reajuste depois de quatro anos de congelamento na gestão de Jair Bolsonaro, que também extinguiu o Ministério do Esporte, cancelou o edital do Bolsa Atleta e vetou auxílio emergencial para atletas durante a pandemia de Covid-19.

Pela tabela atual da Bolsa Atleta, os atletas olímpicos recebem entre R$ 3.437,00 a R$ 16.629,00, dependendo do nível de desempenho e das chances de conquista olímpica em cada modalidade.

Ganha mais quem tem melhores resultados a apresentar ao longo da carreira. Desde que a categoria Pódio foi incorporada ao Bolsa Atleta, em 2013, foram beneficiados 815 atletas, com 2.605 bolsas concedidas, configurando um investimento de R$ 347 milhões.

É, portanto, um suporte expressivo e raro, que nem todos os países concedem. Claro que muito ainda precisa ser feito, inclusive quanto à mudança de mentalidade e investimentos, mas é desonesto negar o que já existe em termos de apoio aos atletas.

Medina, Marta e as pachecadas da mídia brazuca

A cena de Marta dando pontapé na cabeça de uma adversária, ontem, no jogo entre Brasil e Espanha, chocou não apenas pela violência do lance, mas pelo posicionamento da camisa 10 no time brasileiro. Ela estava na defesa, dando chutão e ajudando a enfrentar o bombardeio espanhol.

Foto: Rafael Ribeiro/CBF

O time de Artur Elias parecia uma equipe de 3ª divisão enfrentando um time de primeira linha. E olha que a Espanha estava poupando várias titulares. Enquanto o Brasil passava maus pedaços, a mídia reagiu com condescendência, passando pano para a ruindade da seleção.

A crítica é fundamental quando exercida construtivamente, mas é deletéria quando é substituída pelo elogio gratuito e despropositado. Depois da partida, uma mesa-redonda na ESPN se dedicou a relativizar o fracasso, deixando de dimensionar a importância do torneio olímpico.

Afinal, daqui a três anos, tem uma Copa do Mundo no Brasil. Portanto, é legítimo cobrar evolução técnica de um time que tem sido tratado como prioridade. Há investimentos e estruturação da modalidade, o que inclui os certames estaduais e nacionais.

Narradores, repórteres e comentaristas adquiriram um cacoete que muitas vezes atrapalha, pelo excesso de oba-oba. Começou com o voleibol, cujos times sempre foram tratados com infantilismo adulatório. “Meninas e meninos do vôlei”, gritava Galvão Bueno lá nos primórdios.

Aos berros, os locutores seguem tratando veteranos desse mesmo jeito, prática que se estende ao futebol feminino, mesmo que Marta já tenha 38 anos. Judô, natação e surfe não merecem o mesmo tratamento. Justo seria acriançar apenas as equipes de ginástica rítmica e skate.

São ganchos que buscam agradar um público receptivo a esses truques apelativos. O problema é que alguns atletas parecem incorporar essa síndrome de Peter Pan, com efeitos quase sempre nocivos.

Sorte de Gabriel Medina, protagonista da cena mais icônica das Olimpíadas até agora, pairando sobre as ondas da Polinésia Francesa com o dedo para cima. Pouco badalado, faz uma Olimpíada de altíssimo nível. O mesmo vale para o mesatenista Hugo Calderano, que avançou às quartas, sem ser zicado pela turma do pachequismo midiático.

Por Gerson Nogueira