GIULIANA MIRANDA
LISBOA, PORTUGAL (FOLHAPRESS) – Dados divulgados pela OMM (Organização Meteorológica Mundial), ligada à ONU (Organização das Nações Unidas), revelam que os três dias mais quentes da história recente da Terra aconteceram nesta semana.
O recorde de calor foi documentado em 22 de julho, última segunda-feira, que teve temperatura média de 17,16°C. O resultado superou o recorde anterior, que havia sido catalogado apenas 24 horas antes, no domingo (21), com média de 17,09°C.
Na terça-feira (23), o planeta registrou mais uma jornada tórrida, com média de 17,15°C.
Antes desta semana abrasadora para a humanidade, o ranking de calor era liderado pelo 6 de julho de 2023, que teve temperatura média global de 17,08°C.
As medições são de uma das bases de dados usadas pela OMM para monitorar o clima mundial: o conjunto de dados ERA5, que remonta a 1940, do Serviço de Mudança Climática Copernicus da União Europeia. Embora as cifras ainda possam variar em relação a outras instituições, o resultado foi motivo de alerta, sobretudo pela atual trajetória de aquecimento do planeta.
Depois de 2023 ter sido declarado o ano mais quente da história da humanidade, o clima segue abrasador.
“Além dos três novos recordes diários de temperatura global desta semana, temos visto recordes de temperatura mensal por 13 meses consecutivos”, disse Celeste Paulo, secretária-geral da Organização Meteorológica Mundial.
De acordo com medições do observatório Copernicus, o mês passado foi o junho mais quente da série histórica, com média de 16,66°C, o que representa cerca de 1,5°C acima da média do período pré-industrial.
Esse resultado representou o 12º mês consecutivo com temperaturas iguais ou superiores a essa marca, que é o limite preferencial de aquecimento estabelecido pela comunidade internacional no Acordo de Paris.
Ainda que essa sequência seja considerada alarmante por especialistas, os cientistas destacam que o período de 12 meses ainda não configura que a barreira de 1,5°C tenha sido definitivamente ultrapassada.
Nesta quinta-feira (25), o secretário-geral da ONU, António Guterres, fez um apelo mundial para o combate à “epidemia de calor extremo”, pedindo mais ação por parte das lideranças do países.
“Bilhões de pessoas estão enfrentando uma epidemia de calor extremo, desfalecendo sob ondas de calor cada vez mais mortais, com temperaturas ultrapassando 50 graus Celsius ao redor do mundo”, afirmou o português.
O líder das Nações Unidas destacou ainda os impactos negativos do aquecimento à saúde das populações, enumerando acontecimentos recentes.
“Neste ano vimos uma onda de calor mortal atingir o Sahel, com um pico de hospitalizações e mortes. Recordes de temperatura foram quebrados nos Estados Unidos, colocando 120 milhões de pessoas sob avisos de alerta de calor”, relembrou.
“Condições escaldantes mataram 1.300 peregrinos durante o Haj [na Arábia Saudita]. Atrações turísticas foram fechadas nas cidades mais quentes da Europa. Fecharam-se escolas na Ásia e na África, afetando mais de 80 milhões de crianças”, continuou.
Mencionando a farta evidência científica que documenta o ritmo acelerado das mudanças climáticas, Guterres salientou que há grupos particularmente vulneráveis.
Estima-se que o calor esteja relacionado a quase 500 mil mortes anuais no mundo. António Guterres salientou que, entre as pessoas com mais de 65 anos, os óbitos relacionados às altas temperaturas aumentaram 85% em 20 anos.
Em seu pronunciamento, o secretário-geral da ONU voltou a defender a necessidade de limitar o aquecimento global a 1,5°C, afirmando que a expansão do uso de combustíveis fósseis é incompatível com esse esforço.
Guterres concluiu sua fala criticando a postura dos países ricos, que seguem concedendo licenças para exploração dessas fontes de energia.
“Devo chamar a atenção para a enxurrada de expansão de combustíveis fósseis que estamos vendo em alguns dos países mais ricos do mundo. Ao assinarem essa onda de novas licenças de petróleo e gás, eles estão entregando o nosso futuro.”
O secretário-geral citou abertamente o G20, atualmente presidido pelo Brasil, afirmando que o grupo deve “transferir os subsídios aos combustíveis fósseis para os renováveis e apoiar os países e as comunidades vulneráveis”.