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Gastos com Previdência e BPC sobem R$ 11,3 bi e forçam bloqueio no Orçamento

Ministro da Fazenda afirma que encontro com secretário do Tesouro foi cancelado por pressão de aliados de Trump, após declarações sobre aumento de tarifas.
Ministro da Fazenda afirma que encontro com secretário do Tesouro foi cancelado por pressão de aliados de Trump, após declarações sobre aumento de tarifas.

BRASÍLIA (AG) – Em aumento ininterrupto, os gastos com aposentadoria e assistência social foram uma nova surpresa para o governo no terceiro bimestre de 2024 e levaram ao bloqueio de R$ 11,2 bilhões no Orçamento deste ano anunciado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Juntas, essas duas despesas subiram R$ 11,3 bilhões em relação à previsão do último bimetre, obrigando o governo a segurar gastos em outra ponta para cumpir o arcabouço fiscal. Os dados foram divulgados no 3º Relatório Bimestral de Avaliação de Receitas e Despesas.

Além do bloqueio, o governo também contingenciou R$ 3,8 bilhões de modo a cumprir a meta fiscal deste ano diante da frustração com a arrecadação. No total, R$ 15 bilhões foram congelados do Orçamento.

O relatório aponta para um déficit de R$ 28,8 bilhões neste ano, no limite do permitido no arcabouço fiscal.

O governo bloqueia gastos para cumprir o limite de despesas previsto no arcabouço. E faz contingenciamento de despesas para chegar à meta fiscal.

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A meta é de um déficit zero. Ou seja, receitas iguais às despesas. Mas há um limite de tolerância de déficit de 0,25% do PIB, ou R$ 28,8 bilhões. Sem o contingenciamento, o déficit ficaria em R$ 32,6 bilhões. No último relatório, divulgado em maio, a previsão deficitária era de R$ 14,5 bilhões.

O relatório esclarece que o detalhamento da contenção de R$ 15 bilhões, por órgão, será divulgado na próxima semana, em decreto que será publicado no dia 30. “Após a publicação do decreto, os órgãos terão cinco dias úteis para indicar as programações a serem bloqueadas ou contingenciadas”, disse o Ministério do Planejamento em apresentação à imprensa.

Em relação às despesas obrigatórias, o relatório mostra que a estimativa aumentou de R$ 2,000 trilhões para R$ 2,029 trilhões, impulsionada pela elevação da projeção com benefícios previdenciários.

As despesas com benefícios de Previdência, do INSS, subiram R$ 4,9 bilhões, para R$ 923,1 bilhões.

A expectativa para o Benefício de Prestação Continuada (BPC) avançou de R$ 105,1 bilhões para R$ 111,5 bilhões. Alta de R$ 6,4 bilhões. O BPC equivale a um salário mínimo para pessoas com deficiência e idosos de baixa renda.

No caso do BPC, o Ministério do Planejamento explicou que a variação decorre principalmente do aumento nos quantitativos de benefícios concedidos face ao Programa de Enfrentamento à Fila da Previdência Social, bem como do aumento da quantidade de requerimentos novos e analisados.

Já em relação aos benefícios previdenciários, a pasta justifica o aumento devido principalmente ao fato de as despesas dos últimos dois meses terem sido executadas acima do previsto inicialmente em decorrência de mudanças de fluxos internos e comportamentos inesperados de entrada de pedidos.

Como essas despesas subiram e elas são obrigatórias, o governo precisará bloquear gastos de outras áreas para cumprir as regras fiscais.

Como já mostrou O GLOBO, a concessão de BPC, especialmente para pessoas com deficiência, vem batendo recordes este ano. Houve também aumento da projeção para gastos com abono salarial e seguro desemprego, de R$ 81,3 bilhões para R$ 81,6 bilhões.

O secretário de Orçamento Federal substituto, Clayton Montes, ainda destacou que a previsão com créditos extraordinários subiu de R$ 13,8 bilhões para R$ 28 bilhões, impulsionados pelas despesas para o enfrentamento da calamidade no Rio Grande do Sul, causada pelas fortes chuvas. Esses gastos não são considerados para fins de contabilidade da meta de resultado das contas públicas. A projeção de despesas discricionárias caiu de R$ 208,8 bilhões para R$ 200,4 bilhões.

— Chama a atenção o aumento de despesas obrigatórias, de R$ 29 bilhões – disse, em coletiva de imprensa, citando os aumentos previstos em benefícios previdenciários e no BPC. —- Evidentemente, resultou na necessidade de bloqueio de R$ 11,2 bilhões, que é realizado em despesas discricionárias (não obrigatórias).

O governo planeja iniciar neste semestre um pente-fino nos benefícios previdenciários e assistenciais para combater fraudes e outros problemas, mas ainda não considera no orçamento deste ano alguma economia com a medida. A expectativa é economizar R$ 25,9 bilhões em 2025. Segundo mostrou O GLOBO, a previsão é reduzir em R$ 9 bilhões os gastos com auxílio-doença e BPC no ano que vem.

Já a estimativa para a receita líquida do governo caiu. Saiu de R$ 2,181 trilhões para R$ 2,168 trilhões. O governo revisou novamente para baixo a estimativa para a arrecadação com concessões e permissões este ano, e subiu a de dividendos. Uma queda de R$ 13,2 bilhões.

A atualização do orçamento não conta ainda com as receitas para compensar a desoneração da folha de pagamento dos 17 setores que mais empregam no país e de municípios pequenos. O tema está em discussão no Senado e pode significar a entrada de cerca de R$ 17 bilhões nos cofres públicos.

Como mostrou O GLOBO na quinta-feira, o relatório aponta que o governo teve que contingenciar despesas após a estimativa de déficit público para 2024 subir para R$ 32,6 bilhões. Até maio, o governo previa déficit de R$ 14,5 bilhões neste ano.

Com o congelamento, a estimativa de déficit em 2024 foi ampliada para R$ 28,8 bilhões, nas contas do governo federal.

Haverá ainda relatórios bimestrais do Tesouro em setembro e novembro. E, até lá, a tendência é que a projeção de déficit melhore. Isso pode levar o governo a liberar os recursos.

Caso o governo entregue um resultado pior do que o limite da meta, há uma série de medidas de contenção de despesas que precisam ser acionadas para o ano seguinte (ou seja, 2025).

Texto de: Thaís Barcellos