Ainda sentindo a partida de Mestre Dikinho, na última semana, a ilha do Marajó volta a se emocionar nesta segunda-feira, celebrando a vida de outro grande representante da sua cultura. Hoje, quando Damasceno Gregório dos Santos, o Mestre Damasceno, completa 70 anos de vida, 51 anos dedicados à cultura popular, uma festa reúne grandes nomes da cultura marajoara. As comemorações iniciam com um cortejo, às 17h, e continuam, às 19h, com apresentações no terreiro do mestre, que também vão homenagear Mestre Dikinho, nome do carimbó, toadas e sambas de Soure, que atuava junto ao grupo Tambores do Pacoval e ao grupo Cruzeirinho.
A concentração será na Praça das Comunicações, em Salvaterra, com saída do cortejo em direção à Primeira Rua, esquina com 11ª Travessa, no bairro Caju. O evento é organizado pelo Ponto de Cultura Mestre Damasceno, com apoio da Gutunes Produções. Entre as participações previstas, estão as de Mestre Robledo, Tia Amélia, Mestre Eliezer, Mestre César, Baixinha, Mestre Talo, Conjunto Nativos Marajoara, Grupo Paracauari, Tambores do Pacoval, Grupo Cruzeirinho, Grupo Bendito Carimbó, Zagaia, Sandrinha Eletrizante, Kleyton Silva, Carlinhos FL e a Quadrilha Junina Revelação Junina de Soure.
“Emoção, felicidade, sorte, tudo aquilo que a gente estava esperando aconteceu. [Completar] Setenta anos deve ser comemorado. Homenagens, nós temos que receber em vida. Muitos de nós estamos sendo chamados. Depois, já foi”, diz Mestre Damasceno, sobre os festejos e a expectativa de que os mestres da cultura popular sejam valorizados.
Ele tem se manifestado, em outras ocasiões, sobre a vulnerabilidade social que acompanha a vida de muitos mestres da cultura popular no Brasil, mais especificamente no Pará. Em setembro de 2022, ao ser uma das poucas vozes escolhidas para falar com o então candidato à presidência Luiz Inácio Lula da Silva em uma plenária do setor cultural, em Belém, se emocionou ao pedir a criação de uma bolsa ou auxílio social que possibilitasse a esses mestres saírem da linha da miséria. Desde então, muitos desses nomes partiram sem o devido reconhecimento, reflete Damasceno.
Com mais de 50 anos de atuação, compositor e cantor de carimbos e toadas e criador de comédias de bois, Mestre Damasceno vem experimentando mais visibilidade nos últimos anos. Ao longo da carreira, seu trabalho mobilizou crianças, adolescentes, adultos, idosos e pessoas com deficiência em cortejos populares nas ruas do município de Salvaterra, na ilha do Marajó e no estado do Pará.
Em 2023, foi homenageado na Marquês de Sapucaí, no Rio de Janeiro, pela escola de samba Paraíso do Tuiuti. Não ganhou a competição carnavalesca, já que a agremiação ficou em 8° lugar, mas em seu retorno para Salvaterra, desfilou em carro aberto, sendo recebido com homenagens pelos moradores de seu município.
Uma de suas marcas é a criação do chamado Búfalo-bumbá, que usa um enredo semelhante ao folguedo do boi-bumbá, mas tendo o búfalo como personagem principal. A presença dos búfalos na ilha do Marajó, segundo a história que o Mestre Damasceno conta, começou com um naufrágio de um navio que transportava os animais. Alguns sobreviveram e chegaram nadando em terra, se adequaram ao clima da região e se multiplicaram, se tornando parte da paisagem natural do arquipélago.
Deficiente visual desde os 19 anos, devido a um acidente de trabalho na construção civil, Mestre Damasceno também trouxe a ideia da inclusão para o folguedo. O minibúfalo que criou para o neto mais novo poder brincar, por exemplo, teve um dos olhos pintado de branco, para representar as pessoas com deficiência na brincadeira. Com parceiros como a Associação de Pais e Amigos de Pessoas com Deficiência em Salvaterra, o mestre tem colocado em evidência a questão da acessibilidade de pessoas com deficiência. O mestre, inclusive, ajudou a criar um boi para a instituição.
*Com informações de assessoria.