Quando ainda trabalhava mapeando a região das ilhas de Belém, a pedagoga Danielly Leite jamais imaginou que, em 2024, seria a empreendedora responsável por comandar uma fábrica de cosméticos naturais instalada no distrito de Icoaraci, a Bioilha. A partir da oportunidade observada no contato próximo com os saberes das populações ribeirinhas, ela encontrou uma maneira de transformar não apenas a sua realidade, mas de dezenas de outras pessoas nas ilhas e na cidade.
Danielly conta que durante os 10 anos em que atuou nas ilhas de Belém, em projetos ligados à educação, conheceu muitas famílias ribeirinhas que extraíam óleos vegetais e, naturalmente, começou a levar essa produção para vender no Ver-o-Peso. Ao compartilhar parte da sua rotina nas redes sociais, viu surgir a demanda por produtos feitos a partir dessa matéria prima natural. “Eu comecei a mostrar o meu dia a dia na internet e, organicamente, em 2019, as pessoas começaram a pedir óleo de Andiroba, o óleo de copaíba e nisso eu percebi que tinha um potencial, que os nossos óleos naturais da Amazônia são muito bem vistos por quem é de fora”, lembra.
“Então, no final do ano de 2019 eu tomei uma decisão de pedir demissão para me dedicar somente à venda de óleos vegetais, de produtos naturais que que eram das ilhas de Belém. Até então eu não fabricava, eu só trabalhava na venda desses produtos que os meus amigos ribeirinhos produziam de forma bem artesanal, bem extrativista mesmo. Eu nunca imaginei que, por exemplo, em 2024 a gente estaria com uma fábrica”.
Quando pediu demissão para se dedicar ao novo projeto, os clientes começaram a perguntar se Danielly trabalhava com sabonetes e alguns cosméticos feitos a partir de óleos vegetais da Amazônia. Foi quando ela começou a estudar o assunto e a fabricar os sabonetes ainda em casa, no início de 2020. “Com isso, os clientes começaram a pedir outros cosméticos, como cremes e esfoliantes e eu continuei a estudar e a me dedicar cada vez mais à manipulação de cosméticos naturais e a fabricar os meus próprios cosméticos com a matéria prima da Amazônia, sempre com a preocupação de utilizar óleos vegetais das comunidades ribeirinhas”.
Um princípio que acompanha Danielly desde o início dessa jornada até hoje é o de não fazer uso de ingredientes derivados do petróleo, priorizando sempre produtos naturais e locais.
“Diferente de outras fábricas, a gente não utiliza BHT, por exemplo, um ingrediente que é derivado do petróleo e que é muito utilizado na indústria cosmética como conservante. Então, nossos produtos são feitos o máximo possível com ingredientes naturais e sempre valorizando a produção extrativista, principalmente das comunidades ribeirinhas”, explica. “Com isso, os clientes abraçaram o projeto da Bioilha, gostaram dos produtos, viram resultados e a gente foi crescendo gradativamente”.
Com a boa aceitação dos clientes, em 2021 a empreendedora tomou a decisão de formalizar a fábrica junto à Anvisa. Hoje, a fábrica emprega uma equipe de mais de 10 pessoas, sendo a maioria mulheres, apenas um homem compõe a equipe. Com o trabalho em rede, não apenas a vida da Danielly se transformou, mas também as das mulheres empregadas na fábrica e das comunidades ribeirinhas que tiveram uma fonte de renda a partir da extração dos óleos naturais da floresta.
“E a gente segue crescendo sem mudar aquilo que a gente iniciou, que é a preocupação de criar produtos que não agridam nem o ser humano e nem a natureza. Então, a gente continua trabalhando com comunidades ribeirinhas, comprando as produções locais como o óleo de andiroba e a copaíba, para criar os nossos cosméticos. Todos os nossos produtos são veganos e naturais”, comenta a empreendedora. “Acaba sendo um movimento porque a gente compra do produtor local, transforma essa matéria prima em cosmético, repassa para o nosso cliente final que recompra da gente e a gente faz a recompra do nosso fornecedor que está lá na ponta. Então, começa lá na ilha e chega até a cidade, na casa do cliente”.