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Remo longe da elite há 30 anos: os bons tempos voltarão?

O ano de 1994 marca datas redondas que vêm sendo lembradas nos últimos tempos. O tetracampeonato da seleção brasileira nos EUA, o título mundial do basquete feminino e a morte de Ayrton Senna são marcos recorrentes na memória dos brasileiros. No âmbito regional, há também a lembrança da última vez em que a dupla Re-Pa esteve lado a lado na primeira divisão do Campeonato Brasileiro, ainda longe dos pontos corridos. Rebaixado naquela temporada, o Leão Azul nunca mais voltou à elite nacional e há 30 anos transita entre segunda, terceira e quarta divisão, isso quando não ficou sem disputar o Brasileirão.

Curiosamente, o Remo vinha de uma campanha vitoriosa um ano antes, quando chegou à 8ª posição da Série A, melhor desempenho de um clube paraense na história. E, em 1994, com um elenco até reforçado, não conseguiu se segurar e foi rebaixado junto com o Náutico-PE. O técnico Waldemar Carabina tinha à disposição jogadores como Clemer, Belterra, César Pernil, Rogerinho, Helinho, Mazinho, Cleberton, Cuca, entre outros. Neste mesmo ano o Leão conseguiu a inusitada goleada de 5 a 1 sobre o Cruzeiro-MG, em pleno Mineirão.

O campeonato foi disputado entre 13 de agosto a 18 de dezembro daquele ano e a fórmula de disputa reunia numa primeira fase os 24 clubes, divididos em quatro grupos de seis. Classificaram-se para a segunda fase os quatro primeiros de cada grupo, sendo que os vencedores dos grupos já começaram nessa fase com um ponto extra; os dois últimos colocados de cada grupo foram para a repescagem. Foi nessa fase em que o Remo acabou não decolando. Na repescagem, esses oito clubes jogaram todos contra todos, em turno e returno.

Nesses 30 anos, o Paysandu ainda teve algumas passagens pela Série A, com destaque para os quatro anos no começo dos anos 2000. O Remo nunca mais teve essa oportunidade e a distância tem aumentado cada vez mais. Neste ano, o time azulino ainda tem chances de se classificar para a segunda fase da Terceirona, onde será decidido o acesso, mas são pequenas. O jornalista Rui Guimarães, da Rádio Clube do Pará, destaca o quanto os clubes estaduais ficaram para trás em relação a adversários tradicionais.

“Remo e Paysandu pararam no tempo. Quaisquer clubes das Séries A e B têm uma estrutura mínima que seja. A grande maioria tem mais de um centro de treinamento. Remo e Paysandu cuidaram dos times, os clubes ficaram em segundo plano, por isso estão passando pelos perrengues que passam até hoje”, disse. “No momento, eu acho que a primeira grande investida no Remo seria no CT. Pode acontecer, embora eu acho muito difícil, que o time consiga o acesso. Então, se o clube tiver uma estrutura mínima que seja e se organizar para passar para a Série B, pode usufruir dos recursos de uma série acima. Se conseguir, em pelo menos três anos, no máximo, o Remo se posicionaria numa situação bem melhor”, completou Guimarães.

Gerson Nogueira, jornalista também da Clube e do Diário do Pará, afirma que os clubes paraenses entraram naquele grupo de times que, sem recursos como os outros, foram ficando cada vez mais para a periferia. “A gente percebe isso porque até as contratações daquele período eram contratações mais interessantes. Os clubes conseguiam trazer jogadores ainda de qualidade e com o tempo isso também foi mudando. Além da questão financeira, há o amadorismo de dirigentes, isso tudo agravado porque os concorrentes lá de cima cresceram. Aqui, nós continuamos atrás, muito atrás”.

Nogueira ressalta a questão administrativa de Leão e Papão como problemática ao longo desses anos, com os clubes não sendo capazes de darem esse salto de qualidade. “Nossos clubes continuaram a ser dirigidos de madeira armadora, nesse período todo. O fundo do poço do Remo não foi nem a queda para a Série C, foi ter ficado sem divisão, e aquilo ali foi um arco definitivo na história do futebol azulino”.

Clemer: profissionalização é fundamental

Aos 55 anos, o ex-goleiro e hoje treinador Clemer Melo da Silva já vestiu camisas como as do Flamengo-RJ e do Internacional-RS, onde sagrou-se campeão mundial de clubes. Ele esteve no Baenão por quase dois anos, chegando a Belém justamente no ano do rebaixamento. Ele recorda daquele ano em que a queda acabou sendo rígida demais com um elenco com bons nomes. Hoje técnico, ele falou da distância que o Leão Azul está da elite nacional e como as receitas que já deram certo têm que ser repetidas.

P – Como fazer para diminuir essa distância de clubes como o Remo para a primeira divisão do Campeonato Brasileiro?

R – Naquela época, os elencos eram melhores escolhidos, as pessoas tinham muito mais conhecimento dessa área de contratação de profissionais, então conseguiam fazer times fortes. O nosso time era bastante forte para competir na primeira divisão, e isso também fazia com que a equipe, o clube, se estruturasse melhor, porque a participação na elite traz muitos benefícios. Primeiro, é saber escolher qual é o jogador que tem uma característica para jogar no futebol paraense, que não é fácil. Não é só contratar um jogador, é saber se ele tem a característica para aguentar vestir uma camisa do Remo, que tem muita tradição.

P – O que tem faltado para clubes como o Remo, com tradição e torcida, para dar esse salto de qualidade?

R – Acho que é profissionalização, né? É fundamental que você se estruture, que contrate pessoas que conheçam do futebol, não pessoas que estão caindo de paraquedas. O diretor de futebol tem que ter a razão, ele tem que viver pela razão. Ele tem que saber como é que o atleta se comporta não só dentro de campo, mas fora também. Então, tem todos esses detalhes para que o clube cresça. Pode ter torcida, pode ter profissionais que estejam ajudando empresários, mas se não tiver o time… O que faz o clube funcionar é o time de futebol dentro de campo.

P – A estruturação basta ou tem que haver também a excelência da administração?

R – Hoje, os clubes têm uma condições melhores, mas não conseguem fazer times bons, contratar jogadores com qualidade para poder vestir a camisa e ganhar jogos. Fortaleza e Ceará, por exemplo, eles se estruturaram, tanto dentro como fora de campo. E isso faz com que tenham participações em grandes competições. É preciso ter bons números nos bastidores, na administração, de pessoas que conheçam o futebol.