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Malu Mader voltou para nos lembrar como a Globo já foi grande

Quem cresceu na frente da TV nos anos 1980 e 1990 tem ela no coração como uma das mulheres mais lindas do mundo
Quem cresceu na frente da TV nos anos 1980 e 1990 tem ela no coração como uma das mulheres mais lindas do mundo

Ah, Malu Mader. Quem cresceu na frente da TV nos anos 1980 e 1990 tem ela no coração como uma das mulheres mais lindas do mundo e uma das maiores estrelas do Brasil.

Com Malu, sonhamos com os anos dourados, enfrentamos a ditadura violenta dos anos rebeldes, aprendemos que a mulher mais “cool” que podia existir era uma top model de sobrancelhas grossas brilhando em cima de uma passarela ou uma fera radical descoladíssima, motoqueira sexy, tirando o capacete, jogando o rosto pro lado enquanto seus cabelos esvoaçam, e que ainda por cima sabia tudo de microcomputadores, disquetes e outras relíquias do passado.

Eis que de repente Malu, eterna musa do Gilberto Braga, aparece onde menos se esperava: numa novela do Benedito Ruy Barbosa, em plena fazenda de cacau da Bahia, flertando com o coronel José Inocêncio. Foi como se Maria Clara Diniz, a superprodutora de eventos de “Celebridade”, ressurgisse mais de vinte anos depois para refazer o mesmo casal que fez naquela novela com o Marcos Palmeira.

Talvez um disco voador caindo no meio dos montes de cacau provocasse menos estranhamento. Malu é a nossa eterna Garota de Ipanema, e seu sotaque carioca não nega. De repente ela aparece ali, sem o sotaque baiano treinado do resto do elenco, vinda direto da Cidade Maravilhosa e falando em “arrobash por hectare”, “o facão aush péish do jequitibá”, “a minha holding que opera no Tocantinshhh”.

Estou aqui zoando, mas também preciso defender nossa musa. Malu nunca foi desses atores de composição, dessas camaleoas que se transformam totalmente a cada personagem, como Tony Ramos, Irandhir Santos ou sua best Cláudia Abreu. Mas, se pararmos pra pensar, esse tipo de ator é a exceção na TV. A esmagadora maioria atua dentro daquele naturalismo exaustivo das novelas.

É só pensar em Giovanna Antonelli, Murilo Benício, Taís Araújo, ou em nomes da velha Globo, como Tarcísio e Glória, Francisco Cuoco, Tônia Carrero, Betty Faria. Nas novelas, o talento de cada ator ou atriz se confunde com o próprio carisma, o encanto que exerce sobre quem está do outro lado da tela, fazendo a gente torcer por aquele personagem por mais de 150 capítulos. É sobre isso, e tá tudo bem.

Malu é uma ótima atriz dentro do seu próprio estilo. Sua presença em duas novas reprises – “Corpo a Corpo”, no canal Viva, e “O Dono do Mundo”, no Globoplay – podem confirmar.

O lugar deslocado de Malu em “Renascer” diz menos sobre ela e mais sobre como as novelas perderam grandeza. “Celebridade” foi a última novela de Malu no horário das 21h. Depois que ficou órfã de Gilberto Braga, anos antes de ele morrer, foram quatro folhetins sem brilho, às 18h e 19h, dos quais dois remakes que não pegaram (“Ti-Ti-Ti” e “Haja Coração”, nova versão de “Sassaricando”).

A história da diva Maria Clara Diniz contra sua inimiga Laura (Cláudia Abreu) foi a última novela realmente grande do Gilberto. Logo antes dela, veio “Mulheres Apaixonadas”, a última grande novela de Manoel Carlos; e logo depois, “Senhora do Destino”, a última grande trama de Aguinaldo Silva. Esses grandes autores foram perdendo a força, e aqueles atores imensos, de brilho igual aos de Hollywood, foram ficando cada vez mais raros.

Malu pode ser estrela demais para as novelas de hoje em dia. Mas se ela coube até em “Renascer”, não custa sonhar que outros autores ainda vão escrever personagens que façam jus a tanto carisma. Volta, Malu. Nunca te pedimos nada.

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)