Conhecimentos diversos, incluindo o popular tradicional, estão envolvidos no uso das chamadas plantas medicinais e aromáticas. Saberes que podem subsidiar a produção científica em diferentes áreas do conhecimento e níveis de formação e que, recentemente, foram catalogados em uma publicação da Embrapa Amazônia Oriental. Contemplando 137 espécies de plantas amazônicas e de outras regiões, o livro ‘Catálogo do Horto de Plantas Medicinais e Aromáticas’ traz um banco de dados ilustrado sobre as espécies existentes no horto da instituição, em Belém, bem como os trabalhos técnico-científicos publicados sore elas.
Instalado na sede da Embrapa Amazônia Oriental, no bairro do Marco, em Belém, o horto da instituição foi criado ainda em 1988, a partir da implantação de bancos ativos de germoplasma (uma coleção de plantas) de uma planta chamada Ipeca (ipecacunha), cujo uso medicinal está associado ao tratamento da diarreia, principalmente de origem amebiana.
Já em 1991 houve a implantação de outra espécie, o Jaborandi, conhecido pela ação expectorante; e em 2002 incorporou-se o Curauá, de uso medicinal diurético e anti-inflamatório, dentre outros. A partir de então, outras espécies medicinais e aromáticas foram incorporadas, formando diversas coleções e dando origem ao atual horto.
Foi ainda em 1991 que o engenheiro-agrônomo, doutor em fitotecnia e pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental, Osmar Alves Lameira, iniciou o trabalho com o horto. Autor do catálogo lançado em maio deste ano, o pesquisador explica que o principal trabalho desenvolvido no local visa a conservação das espécies.
“As pessoas confundem preservar e conservar, mas em uma linguagem bem simples, quando se fala em conservar, quer dizer que eu vou usar. Preservar é para não tocar. E o nosso horto tem essa preocupação com a conservação”.
Maioria das espécies é exclusiva do Pará
Osmar aponta que a maioria das espécies presentes no horto são nativas da Amazônia, sendo que algumas são quase exclusivas do Estado do Pará. Porém, outras espécies nativas de outras regiões do país também integram a coleção. Ao todo, são 200 espécies, porém, para a publicação foram selecionadas 137.
“Isso porque tem muita espécie de plantas aqui que a vivência delas é de um curto período de tempo, depois elas desaparecem. A gente chama de ‘planta espontânea’, você planta e daqui seis meses sumiu. E aquelas que sumiram, dali a 5 meses elas já aparecem de novo. Então, nós decidimos pegar as que realmente ficam aqui”, explica Osmar. “É um catálogo dessas espécies que nós temos pesquisa sobre elas. Tem a foto da folha, da flor, do fruto, da semente. E nós colocamos, também, todos os trabalhos científicos que esse horto já gerou”.
Além do trabalho de conservação, o pesquisador destaca que o horto também possibilita o desenvolvimento de pesquisas, gerando informação para usuários que visitam o local, sobretudo estudantes universitários. Osmar aponta que do local já foram gerados trabalhos de conclusão de curso, dissertações de mestrado e teses de doutorado.
Osmar reforça que nenhum pesquisador, técnico ou bolsista da Embrapa tem autorização para indicar o uso de determinada planta para qualquer pessoa, já que tal indicação só poderia ser feita por profissionais da área médica. O que se faz no horto é conservar espécies que podem subsidiar o desenvolvimento de pesquisas por profissionais de diversas áreas que podem comprovar ou não a eficácia das plantas para determinados usos, assim como identificar novas aplicações.
Para isso, por exemplo, é preciso conhecer bem as espécies e saber como fazer a coleta de uma amostra para ser pesquisada. Para se fazer um chá de uma planta medicinal corretamente, por exemplo, Osmar explica que é preciso saber, por exemplo, quando a planta está florando, quando ela está frutificando.
“A gente sempre passa para os profissionais que se você não souber coletar a amostra de uma planta corretamente, você não consegue fazer a análise. Se você for usar uma folha para fazer chá, você tem que olhar se ela não está florando e nem frutificando e aí você pode usar”, exemplifica. “Mas se ela estiver florando e frutificando, eu já não posso mexer nela porque quando a planta está florando e frutificando todas as substâncias se deslocam para ela dar uma boa semente e um bom fruto”.
Para que todo esse trabalho de pesquisa seja possível, além da manutenção das coleções de plantas no campo, o horto também possui um laboratório onde algumas espécies são cultivadas in vitro. A partir do material contido em um único vidro é possível fazer centenas de mudas e tudo o que nascer daquele frasco será geneticamente igual. É a chamada propagação vegetativa. Com isso, no caso de uma intempérie – como chuvas ou secas, pragas, doenças – que destrua a planta no campo, há como fazer novas mudas a partir do material cultivado in vitro.
Texto de Cintia Magno