Ana Célia Pinheiro
Em apenas 12 anos, os bens do prefeito de Ananindeua, Daniel Barbosa Santos, saltaram de apenas R$ 126 mil para cerca de R$ 30 milhões, pelo menos. E o pior é que, em uma estimativa mais realista, essa fortuna já deve, na verdade, ultrapassar R$ 50 milhões. São fazendas, aviões, milhares de cabeças de gado e cavalos de raça. Um extraordinário patrimônio do qual não há nem sinal nas declarações de bens de Daniel e da esposa dele, a deputada federal Alessandra Haber Carvalho Santos, à Justiça Eleitoral. Em 2020, ele declarou possuir cerca de R$ 2 milhões em bens. Em 2022, ela declarou menos de R$ 700 mil.
No entanto, o DIÁRIO conseguiu comprovar nos sistemas da Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Semas), a existência de 5 fazendas nos CPFs de Daniel, de Alessandra e da mãe dele, Deuseny Barbosa Santos. As fazendas somam 1.800 hectares (cada hectare equivale a 10 mil metros quadrados) e estão localizadas em Tomé-Açu. O preço mais barato que o DIÁRIO localizou na internet para fazendas naquele município foi de R$ 5.500,00 por hectare, em valores atualizados pelo IPCA de maio.
Mas essa fazenda, vendida em 2022, possuía apenas água, luz, um curral “funcional” e um barraco. Em fazendas mais bem estruturadas (como parecem ser as de Daniel), o preço do hectare chega a alcançar R$ 25 mil.
Além disso, o DIÁRIO comprovou a propriedade de dois aviões pela Agropecuária JD Ltda (CNPJ 34.381.158/0001-70), de Tomé-Açu, que pertence a Daniel. O primeiro avião é um jatinho Citation, vendido pela Textron Aviation, ano 1999, com 8 assentos, adquirido em março do ano passado e que é usado, frequentemente, por Alessandra, em seus deslocamentos entre Belém e Brasília.
No mercado, uma aeronave desse tipo custa cerca de 2 milhões de dólares, ou mais de 10 milhões de reais. O outro avião é um king air, fabricado pela Beech Aircraft, ano 1981, com 10 assentos, que custa cerca de 1,5 milhão de dólares, ou cerca de 8 milhões de reais. Ele foi transferido para a Agropecuária JD, no último 2 de maio, pelo Hospital Santa Maria de Ananindeua, que pertenceu ao prefeito.
PATRIMÔNIO
Feitas as contas, só as 5 fazendas, já comprovadas, nos CPFs de Daniel Santos e de seus familiares, valeriam cerca de R$ 10 milhões: basta multiplicar esses 1.800 hectares por R$ 5.500, o valor mais baixo do hectare, em Tomé-Açu. Somados os dois aviões, a conta chega a R$ 28 milhões, fora outros bens que ele declarou à Justiça Eleitoral, em 2020: casa, carros, terrenos, por exemplo. No entanto, há indícios de que essa fortuna, na verdade, já ultrapassa R$ 50 milhões.
Em julho de 2022, a Exagro Consultoria, do estado de Minas Gerais, que havia sido contratada para realizar o planejamento das atividades da Agropecuária JD, informou, em seu Instagram, que aquela fazenda possuía 4.869 cabeças de gado e 4.200 hectares de área de pasto. Na última segunda-feira, o DIÁRIO entrou em contato com a Exagro. Mas, estranhamente, a empresa não quis confirmar a postagem do seu próprio Instagram, que foi até retirada do ar.
No entanto, se essa informação for verdadeira, como parece ser, só aquela fazenda vale mais de R$ 23 milhões (é só multiplicar 4.200 hectares por R$ 5.500,00). E ainda há as 4.869 cabeças de gado, informadas pela Exagro. Na internet, o valor mais baixo para essa mercadoria é de R$ 2.000,00, a unidade. Assim, essas 4.869 reses devem valer, pelo menos, R$ 9,7 milhões. Feitas as contas, chega-se à fabulosa quantia de R$ 50,7 milhões.
Sem contar outros bens declarados pelo prefeito, em 2020. Sem contar o fato de que o número de reses informado pela Exagro é de 2022 e que aqueles 4.200 hectares são apenas de área de pasto. E sem contar os cavalos da raça mangalarga marcha picada, que a Agropecuária JD vem comprando, através de leilões e do Haras Cibele Fraga, do estado de Sergipe, como mostram várias postagens nas redes sociais.
São cavalos caros, especialmente os garanhões, que podem chegar até a R$ 60 mil. E só do Haras Cibele Fraga, o prefeito de Ananindeua comprou uns 10 desses cavalos. Entre eles, um garanhão, o “Xuá da Chacrinha”. Uma venda que deixou o dono ou funcionário do Haras tão empolgado, que ele até gravou um vídeo mostrando um passeio do cavalo pelas ruas, e dizendo: “Olha aí, doutor Daniel, o seu novo brinquedinho, o Xuá da Chacrinha”.
No entanto, não existe nas declarações de bens de Daniel e de Alessandra, à Justiça Eleitoral, em 2020 e 2022, qualquer menção à cavalos de raça, rebanhos e aviões. E das 5 fazendas, só duas foram declaradas por Daniel: a Agropecuária JD, da qual ele declarou apenas o capital social da empresa, que é de apenas R$ 100 mil; e uma “propriedade rural localizada em Tomé-Açu”, que ele avaliou em apenas R$ 350 mil.