Entenda o que acontece agora:
O Palácio do Eliseu anunciou que Macron aguarda a “estruturação” da nova Assembleia para “tomar as decisões necessárias”. O chefe de Estado defende “cautela” diante dos resultados que ainda podem mudar e quer esperar que a Assembleia Nacional tome forma antes de nomear um novo chefe de governo.
– O indicado a premier não precisa de voto de confiança, só não pode ter uma moção de censura, ou seja, 289 deputados contra você – explicou ao GLOBO Thomás Zicman, cientista político da universidade parisiense Sciences Po. – Mesmo que ele não renunciasse, não conseguiria aprovar nada.
Como nenhum bloco conseguiu maioria absoluta, surgem vários cenários possíveis. Um deles seria uma improvável coalizão entre o bloco da esquerda, o partido no poder e os deputados de direita que não se associaram ao RN. Contudo, se as divergências dentro da esquerda já são delicadas, ajustar as arestas entre Mélenchon (LFI) e Macron parece ainda mais difícil. Apesar da mobilização pelas desistências, o bloco macronista se negou a abdicar dos seus quadros em disputas contra a LFI.
– O bloco da esquerda é diverso, tem motivos para estarem bravos uns com os outros, porque cada um quer hegemonizar à sua maneira. Matematicamente, eu não vejo muita saída para uma aliança entre o centro e a esquerda. O Macron já disse que a França Insubmissa está fora de questão, e a recíproca é verdadeira – disse o cientista político. – O melhor dos cenários seria uma grande aliança com o centro, a esquerda e a direita, mas seria um governo sem pé nem cabeça.
O impasse no horizonte ecoa o destino do ex-presidente Alexandre Millerand (1920-1924), forçado a renunciar, há cem anos, após um bloco majoritário rejeitar todos os nomes indicados por ele a primeiro-ministro. Constitucionalmente, nada obrigaria Macron a deixar o cargo, e impeachments são extremamente raros na França. Com mandato até 2027, ele ainda pode, daqui um ano, dissolver a Assembleia Nacional novamente.