Pará

Todos os homens de Daniel Santos: quem é quem na suposta quadrilha

A empresa funciona no terceiro andar do Hospital Santa Maria, e possui 40 equipamentos de hemodiálise e 26 funcionários, segundo o Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES).
Foto celso Rodrigues/ Diário do Pará.

Ana Célia Pinheiro

Segundo o que o Diário apurou, o MPPA estaria investigando o chefão da suposta quadrilha, o médico e empresário Elton dos Anjos Brandão, dono do Hospital Santa Maria. E quem fazia a ponte entre Elton e o Iasep era um servidor público chamado Ed Wilson Dias e Silva: só após reuniões com ele é que André Luiz Oliveira de Miranda, que coordenava a quadrilha dentro do Iasep, acionava os outros quatro servidores, “para acelerar ou diminuir o volume do esquema”.

Investigações jornalísticas do DIÁRIO demonstram que o aparecimento dos nomes de Elton Brandão e Ed Wilson nas investigações, além do próprio Santa Maria, tornou praticamente impossível que o MPPA deixe de investigar o prefeito.

Ed Wilson, por exemplo, sempre foi homem de confiança de Daniel. Tanto assim que foi chefe de Gabinete e diretor de Planejamento Estratégico do prefeito, desde 2021 até 05 de abril deste ano. Ou seja, durante boa parte do período de ocorrência das fraudes e durante quase toda a administração de Daniel, só se afastando de cargos estratégicos da Prefeitura às vésperas da operação do Gaeco, realizada em 29 de abril. Além disso, Ed Wilson também teria sido chefe de Gabinete da Assembleia Legislativa do Pará (Alepa), quando Daniel presidiu aquela Casa de Leis. No entanto, nem mesmo essa proximidade se compara à existente entre Daniel e Elton dos Anjos Brandão, supostamente o chefão da “organização criminosa”.

O DIÁRIO ainda não sabe quando eles se conheceram. Mas o fato é que desde pelo menos 2013 e até hoje, tornaram-se inseparáveis. Tanto assim, que acabaram até indo morar no mesmo condomínio de luxo, em Ananindeua, como vizinhos. Elton foi um dos fundadores do Hospital Santa Maria, em 2013. Mesmo ano em que Daniel começou a trabalhar lá, como médico, e apenas três meses depois de ter iniciado a sua carreira política, como vereador. Em meados de 2014, Geciara dos Santos Barbosa (uma das envolvidas na suposta quadrilha) se afastou do hospital. E quem assumiu o lugar dela, como sócio da empresa, foi Daniel.

Formou-se, então, uma parceria curiosa entre Daniel e Elton, os únicos sócios do hospital desde então, com metade para cada um. Perante a Junta Comercial do Pará (Jucepa) e a Receita Federal, quem administrava o Santa Maria era Elton, até porque a Lei proíbe que políticos eleitos e funcionários públicos administrem empresas. No entanto, o Cadastro Nacional de Estabelecimentos Saúde (CNES) revela que era Daniel quem mais estava presente no cotidiano do Santa Maria, o único hospital em que trabalhou, desde 2013 até julho do ano passado. Já Elton Brandão, o administrador formal, teve de “se virar nos trinta”: trabalhou no Santa Maria como médico, e em uma filial do hospital, em Marituba; na UPA II da Prefeitura de Ananindeua, como contratado, até dezembro de 2017, e ainda aceitou um trabalho no estado
do Maranhão.

Fraudes e lucros extraordinários

Segundo o que o Diário apurou, as fraudes investigadas pelo MPPA podem chegar a um lucro superior a 700% sobre o faturamento normal para o hospital, em apenas quatro anos, entre 2019 e 2023. As denúncias sobre o caso teriam chegado ao MPPA no começo deste ano, e ele então pediu esclarecimentos ao Iasep, que lhe enviou documentos de investigações internas que já haviam resultado na demissão de servidores, e que levariam até mesmo, em 28 de março, à anulação do contrato mantido com o hospital, para o atendimento dos seus segurados.