Pará

Fusca: uma paixão em quatro rodas que atravessa gerações

Fusca: uma paixão em quatro rodas que atravessa gerações

Luiz Flávio

O pai de Adiel Ribeiro da Silva Júnior, 53 anos, empresário no município de Santa Bárbara, só teve um único carro na vida: o Fusca. Natural do Estado de Pernambuco, Adiel veio ao Pará no carro com seu pai em 1978. Foi nele que sempre andou quando criança, nele que aprendeu a dirigir e onde sempre namorou. “Tenho um modelo vermelho ano 1995 há 8 anos. O Fusca é minha paixão! ”, conta.

O sentimento do empresário paraense resume o que muitos proprietários sentem por esse pequeno veículo quase centenário, com design clássico e arredondado, semelhante a um besouro. A história do Fusca é antiga e começa na Alemanha de antes da Segunda Guerra Mundial, mas ninguém imaginava que ele se tornaria um clássico atemporal.

O Volkswagen Type 1, popularmente conhecido como Fusca (no Brasil) ou Carocha (em Portugal), foi o primeiro modelo de automóvel fabricado pela companhia alemã Volkswagen, sendo produzido entre 1938 e 2003. O dia nacional do Fusca é comemorado dia 20 de janeiro e a comemoração mundial ocorre neste sábado (22) com programação em vários locais pelo País.

A data foi ideia do brasileiro Alexander Gromow, em 1995, para comemorar o modelo que foi eleito o carro do século. Isso porque em 22 de junho de 1934, há exatos 89 anos, foi assinado o contrato entre a associação nacional da indústria automobilística alemã e Ferdinand Porsche para fabricar o Volkswagen (ou ‘carro do povo’, em tradução livre do alemão).

Em Belém, o Dia Mundial do Fusca será marcado por um passeio automobilístico que terá início às 17h com concentração no Ver-o-Rio com saída às 18h em direção à avenida Pedro Álvares Cabral e passando por diversas ruas e avenidas até chegar na Praça Batista Campos, onde será feita a dispersão. A expectativa é de participação de 80 Fuscas.

O motorista urbano Ronaldo Trindade preside o “Fuskeiros do Pará”, um dos grupos que reúne proprietários do carro. O grupo foi criado em 2009, quando, junto com quatro amigos, decidiu recomeçar o Clube de Fusca em Belém. “Nos encontramos na Casa das 11 janelas e lá surgiu a ideia de reunirmos os proprietários do Fusca. Não havia ainda redes sociais. Então imprimimos panfletos e saímos de rua em ruas onde tinham Fuscas e a gente deixava na porta ou no para-brisa dos carros, junto com nossos contatos”, recorda.

O movimento começou a reunir pessoas e o primeiro encontro demorou cerca de 2 anos. “Lembro inclusive que o saudoso apresentador Luiz Eduardo Anaice participou com seu fusquinha. Reunimos 112 fuscas na praça Amazonas”. Ronaldo acredita que em Belém ainda rodem algo em torno de 300 fuscas. “Muitos ainda estão guardados. Todo tempo a gente vê um novo proprietário de Fusca surgindo no movimento”, conta. Além da capital existem muitos modelos em Ananindeua, Santa Isabel, Barcarena e Castanhal.

EVENTOS

A cada ano a associação promove dois grandes eventos com participação maciça dos proprietários do carro: 20 de janeiro, Dia nacional do Fusca, e no dia 22 de junho Dia Mundial do Fusca. “Fora essas datas, procuramos promover viagens em grupo para municípios mais perto de Belém como Castanhal, Barcarena, Mosqueiro e Outeiro. E todas as quintas-feiras organizamos encontros em algum lugar da cidade”, revela.

Adiel Jr., que comprou seu Fusca numa sucata e mandou reformar, tem um sonho a realizar: voltar para sua terra Natal no carro. “Saio sempre com ele para passear aos finais de semana. Deixo em exposição na beira da pista aqui na estrada Mosqueiro, onde eu moro. Faço manutenção constante nele, sempre mandando lavar e dar polimento. É um orgulho possuir esse carro! ”.

Carlos Roberto de Almeida Alvarez comprou seu Fusca Amarelo em 2000 por R$ 2,5 mil da única dona do carro, que não andava mais no veículo, que ficava guardado, mas em excelente condição e uso. “O ano de fabricação dele é 1972, mas ele está todo original. Comprei apenas um tanque novo e troquei as peças do freio. É um veículo muito gostoso de dirigir. Viajo muito com ele na estrada e nunca tive problema”.

O motorista já viajou mais de 2.100 quilômetros no carro até o Estado de Aracaju e em novembro pretende ir até Olinda, no Estado de Pernambuco, para o Encontro Nordestino de Fuscas. Pelo Pará, já esteve nos municípios de Bragança, Capitão Poço e Ourém. “O carro vai para qualquer lugar. Basta fazer a revisão adequada como em qualquer outro veículo. Saio de vez em quando com ele para passear porque carro parado sempre dá defeito. O segredo é fazer a manutenção”, afirma.

Ele diz que só quem tem um Fusca sabe o que ele representa e revela que já recebeu ofertas altas pelo carro, mas recusou todas. “É o terceiro Fusca que tenho e a minha relação sentimental em relação a esse carro é enorme! Só quem possui sabe o prazer que ele proporciona! Quando saio com ele me param para pedir para fazer fotos. Já fiz amizades só por ter um Fusca, que me traz uma felicidade que dinheiro nenhum compra!”, garante Roberto.

 

HISTÓRIA

l O Fusca é o modelo único mais produzido da história. Nos mais de 60 anos foram produzidas 21 milhões de unidades. O Fusca tem nomes variados ao redor do mundo: os alemães o chamam de Käfer. Os norte-americanos de Beetle; e os portugueses de Carocha.

l Foi primeiro carro da Volkswagen, é considerado por muitos o maior ícone da indústria automobilística e o carro mais vendido do mundo. O último modelo de Fusca foi vendido no México em 2003. O projeto envolveu várias empresas e até o governo alemão, durante o período do nazismo.

l Criado na Alemanha com mais de 3 milhões de unidades fabricadas no Brasil até que sua produção fosse encerrada, o Fusca se tornou um verdadeiro ícone cultural o século XX que virou até estrela de cinema, jamais saindo de cena, caindo no gosto dos brasileiros.

l Inicialmente importado, o veículo teve sua produção nacionalizada em 1959. No Brasil chegou importado, em 1950, e nove anos depois com a instalação da fábrica de Anchieta, da Volkswagen, o Fusca ganhou uma linha de montagem.