Cintia Magno
Foi com a missão de investigar relatos de aparições de seres extraterrestres que sugavam o sangue de seres humanos e de animais que, no ano de 1977, a Força Aérea Brasileira (FAB) se fez presente no município de Colares, na microrregião do Salgado, nordeste paraense.
Ainda sob o regime da Ditadura Militar no país, o fenômeno que ficou conhecido como chupa-chupa tomou as páginas dos principais jornais da época e motivou a criação daquela que até hoje é considerada a maior missão militar já realizada para investigar oficialmente fenômenos ufológicos, a Operação Prato.
Passadas mais de quatro décadas do ocorrido, as histórias por trás da operação encerrada de maneira inesperada e sobre os avistamentos relatados ainda se mantêm presentes em Colares. À medida que se percorre a Rodovia PA-238 rumo à ilha, as primeiras referências aos seres extraterrestres começam a aparecer na beira da estrada, seja através de alguma placa parcialmente encoberta pelo mato, ou até mesmo de alguma lixeira de concreto enfeitada com as feições dos seres de cor esverdeada.
O comerciante Adriano Moraes, 37 anos, sequer era nascido quando os relatos de contato entre seres humanos e os misteriosos feixes de luz que vinham do céu começaram a agitar a rotina dos moradores do município paraense. Nascido e criado em Colares, porém, não demorou para que as histórias acerca da visita dos extraterrestres chegassem aos seus ouvidos, ainda durante a infância.
“Essa é uma história que eu sempre ouvi dos mais antigos, desde a minha infância eu ouço falar”, conta, ao relatar se ainda hoje essas conversas transitam pelas ruas de Colares. “Eu acho que ainda tem algumas aparições deles, só que mais discretas. O pessoal que mora nos sítios diz que, de madrugada, ainda escutam barulhos estranhos, tipo de umas esferas vindo do mato. Então, eu acredito que eles ainda estão por aqui”.
Aproveitando a curiosidade que a história ainda desperta em quem visita Colares, Adriano decorou e nomeou o restaurante que mantém há oito anos com esculturas e desenhos que fazem referência à imagem que se convencionou relacionar aos extraterrestres: seres normalmente muito magros, com braços compridos, grandes olhos pretos e inteiramente verdes.
“Sempre tem turistas que vêm de outros estados, de outros países e perguntam sobre a Operação Prato, os avistamentos. Quando eles param para almoçar, eu sempre coloco na TV as reportagens sobre a Operação Prato que eu tenho para eles verem”, conta. “Hoje essa história é um atrativo de turismo para Colares. Uma vez, há uns anos atrás, fizeram um congresso ufológico aqui na ilha, com várias atrações e naquela época apareceu muita gente aqui na ilha, muitos turistas de vários países. Pena que não fizeram mais, foi só um ano”.
A história que hoje é lembrada com certo humor pelas ruas do município já foi motivo de muita preocupação na década de 70. Isso porque os relatos daquele período apontam que o contato entre os seres extraterrestres e os moradores não foi nada tranquilo. Segundo a população relatava, os ETs sugavam o sangue de seres humanos e de animais, daí o fenômeno ter ficado conhecido como chupa-chupa.
Ufólogos apontam que, à época, o fenômeno se locomoveu desde a divisa do Maranhão com o Pará até a divisa do Amazonas com o Peru, porém, nada que se assemelhasse à experiência relatada em Colares, devido à quantidade numerosa de ataques que teriam se estendido por meses. Ainda que a Operação Prato tenha se feito presente no município à época, ela foi encerrada dentro de alguns meses, e os resultados obtidos com a operação foram oficialmente mantidos em segredo.
Em 1997, o coronel Uyrangê Hollanda chegou a conceder entrevistas revelando alguns detalhes da investigação ufológica. A mais emblemática delas foi concedida à Revista UFO, idealizada pelo ufólogo Ademar José Gevaerd. Mas, para a surpresa de muita gente, dois meses depois da entrevista o coronel Uyrangê Hollanda cometeu suicídio.
Dos moradores que presenciaram toda a movimentação da operação à época, poucos ainda vivem em Colares. Não é nada difícil encontrar referências sobre eles, onde se pergunta na cidade, prontamente são indicados os moradores antigos que vivenciaram o período das aparições e da ação militar, mas, ainda que tenham histórias para contar sobre a época, nem sempre o convite para relembrar o assunto é bem recebido.
Por outro lado, nas ruas, o que não faltam são referências à operação. Não apenas nos comércios, mas nas próprias praças da cidade e até mesmo nas praias, é comum encontrar estátuas de ETs e até mesmo placas que fazem referência à famosa Operação Prato. Durante um bate-papo rápido com quem segue a rotina pela cidade também não é difícil trazer a história à tona, ainda que quem receba bem o assunto saiba dele através dos relatos de terceiros.
“Eu sou de Soure, moro 45 anos aqui em Colares. Quando eu cheguei por aqui já tinha acontecido, a minha mulher que diz tudo porque ela é filha daqui. Aí eu já conto o que eu ouvi”, relata o pescador Pedro dos Santos Souza, 72 anos.
Ainda que durante as mais de quatro décadas de pescaria ele nunca tenha avistado nenhum objeto voador estranho pelo céu de Colares, dos relatos que ele já ouviu, não fica nenhuma dúvida de que o fenômeno que até hoje garante fama a Colares realmente aconteceu.
“Quando eu cheguei o pessoal me contou que teve esse ET que chupava o sangue das pessoas. Ele chupou um cunhado meu, uma mulher daqui e outra do interior. As mulheres já morreram, mas foi de doença, anos depois. Mas o meu cunhado está vivo ainda, só que agora está operado”, conta. “Esse meu cunhado conta tudo o que aconteceu. E eu acredito que teve mesmo, isso é verdade. Atacou o meu cunhado”.
UFO
Em outubro e novembro de 1997, a Revista UFO publicou a emblemática entrevista concedida pelo coronel Uyrangê Hollanda sobre a Operação Prato. Passados 20 anos do encerramento da operação em Colares, o militar relatou na entrevista que ele e sua equipe ficaram frente a frente com um objeto voador não identificado que sobrevoava o rio Guajará-Mirim e que, dentro dele, havia um extraterrestre. À época, a entrevista foi concedida ao ufólogo e criador da publicação, Ademar José Gevaerd, que faleceu em dezembro de 2022.
Ainda em 2019, durante visita a Belém para participar de um evento de ufologia, Ademar José Gevaerd concedeu entrevista ao DIÁRIO e, na época, relatou que “a onda chupa-chupa é algo que nunca aconteceu em lugar nenhum no mundo. Nunca em lugar nenhum acontecera tantos ataques a pessoas da maneira como aconteceu aqui. O que temos são um ou outro caso isolado no mundo em que houve algum tipo de ataque às pessoas, mas uma concentração durante meses como em Colares, jamais”.