Wal Sarges
Marcelo Marão foi presidente-fundador da Associação Brasileira de Cinema de Animação (ABCA) e também professor de cursos de animação, além de realizador premiado. Com essa trajetória, ele acumula muitos anos de estudo, pesquisa que rendeu a ele um vasto conhecimento sobre dados vinculados à produção de animação no país. “Com 107 anos de animação no Brasil, podemos dizer que há uma pequena produção nacional nesse campo. Eram algumas iniciativas individuais de curta-metragem, menos de 20 longas em quase um século e praticamente nenhuma série de animação. De 20 anos para cá a produção efetivamente cresceu em progressão geométrica em função de vários aspectos e de outro festival, que foi o Anima Mundi que durou mais de 30 anos no país”.
Hoje, em termos de comparação, segundo ele, são mais de 50 longas de animação, sendo que metade deles foi produzida nos últimos 20 anos e pela primeira vez nas cinco regiões, que antes era restrito apenas ao Sul e Sudeste do país. “A gente tem mais de 80 séries de animação no ar nos canais e nos streamings e em todas as técnicas, em 2D vetorial, em 3D, computação gráfica, stop motion, animação de massinha, animação de recortes e até tradicional, em 2D, a gente tem também. É um momento fundamental que Ouro Preto escolheu para fazer essa celebração da animação brasileira, onde eles estão exibindo principalmente filmes históricos dos anos 1940, 50 e 60, mas principalmente essa produção mais representativa de 20 anos para cá”, enaltece o animador.
PRIMEIRO LONGA
Marcelo diz que o longa ‘Bizarros Peixes das Fossas Abissais’ foi feito em dez anos, um período muito superior ao que levaria uma produção da Disney ou da Pixar, que seria em média, quatro anos. Outra coisa importante é que a equipe dele foi formada essencialmente por mulheres e pessoas muito jovens, algo que aconteceu espontaneamente e deu muito certo, segundo ele.
“O nosso longa é de baixíssimo orçamento e a gente fez de uma forma muito próxima de um trabalho autoral independente com muito pouco dinheiro e uma equipe muito pequena ao invés de 100 ou 200 pessoas, a gente tinha 3 e durante dez anos, a gente trabalhou nesse longa dessa forma tradicional e independente. As cenas eram animadas e improvisadas quase de uma forma teatral, à medida que a história ia avançando”, relata.
“É um filme sobre as profundezas do oceano onde não chega luz, seis quilômetros abaixo do nível do mar, onde tem criaturas quase alienígenas, peixes bizarros, mas que na prática é um filme sobre memória e sobre a minha família. Na superfície é sobre peixes bizarros, mas na verdade é bastante autobiográfico de uma maneira não literal, sobre família e memória. Então, também fiquei bem feliz e achei significativo ser exibido numa mostra que celebra a memória e a história”, diz ele, que fez questão de acompanhar a reação do público de cidades diferentes.
Tem muitas cenas no filme Bizarros Peixes que ao serem assistidas, podem simbolizar metaforicamente momentos de sua vida, como o primeiro namoro ou o primeiro trabalho, diz Marcelo. “Uma dessas referências na cena que é literal é sobre meu avô, que já morreu, mas no filme mostra algumas situações sobre a perda de memória dele. Ele tinha Alzheimer e eu e meus 30 primos acompanhamos a evolução da doença. À medida que ele ia esquecendo das coisas, nos fazia pensar que é como se ele não tivesse vivido aquilo, como se não tivesse conhecido aquelas pessoas. A memória é o que faz a gente ser o que é hoje. Então tem algumas cenas sobre lembranças muito literais ou verdadeiras”, diz ele, remetendo ainda a uma casa desenhada que representa a casa de seus avós onde passaram 40 natais e que ao ver o filme, viu a família se emocionar bastante porque lembrava da casa do avô.
assista
mostra de cinema
de ouro preto
l Quando: de 19 a 24 de junho, em Ouro Preto (MG).
Onde: youtube.com/user/
universoproducao ou cineop.com.br