Pará

Crianças estão acessando a internet cada vez mais cedo; veja prós e contras

A administradora e funcionária pública Naiana Monteiro Farias presenteou sua filha mais nova, Alice, com um celular quando ela completou 10 anos de idade
A administradora e funcionária pública Naiana Monteiro Farias presenteou sua filha mais nova, Alice, com um celular quando ela completou 10 anos de idade

Luiz Flávio

As crianças brasileiras vêm acessando a internet cada vez mais cedo no Brasil. Levantamento da TIC Kids Online Brasil, divulgado em 2023, revela que 24% dos entrevistados afirmaram ter começado a se conectar à rede na primeira infância, ou seja, até os seis anos de vida, percentual 13% maior do que a pesquisa realizada em 2015, quando a proporção era de 11%.

A pesquisa mostra que 88% da população brasileira de 9 a 17 anos disse manter perfis em plataformas digitais. Entre 15 e 17 anos, a proporção foi de 99%. Conforme o levantamento, 88% das crianças e adolescentes ouvidas tem acesso à plataforma de vídeos YouTube. Já 78%, disseram ter WhatsApp, 66% ter Instagram; 63% TikTok e 41% Facebook.

O Instagram (36%) é a plataforma mais usada pelos usuários de Internet de 9 a 17 anos, frente ao YouTube (29%); TikTok (27%) e o Facebook (2%). Nas faixas de 9 a 10 anos e de 11 a 12 anos, o YouTube lidera com 42% e 44%, respectivamente. Já nas faixas de 13 a 14 anos (38%) e de 15 a 17 anos (62%), predomina o uso do Instagram. A pesquisa da TIC Kids Online Brasil entrevistou presencialmente 2.704 crianças e adolescentes com idades entre 9 e 17 anos, assim como seus pais ou responsáveis, em todo o território nacional.

Natascha Damasceno tem dois filhos, um de 13 e outro de 5 anos. Ela conta que o filho mais velho tem uma relação mais moderada com a Internet e redes sociais. Já com o filho mais novo a realidade é bem diferente. “Ele gosta muito de navegar, de fazer e aparecer em vídeos. Ele tem acesso liberado às telas, mas sempre regulamos o uso porque entendo que todo exagero não é saudável, mas reconheço que vivemos num mundo digital onde é impossível ficarmos 100% off das telas de das redes até porque eu trabalho muito com a Internet”.

Natascha Damasceno tem dois filhos, um de 13 e outro de 5 anos.

Natascha diz que o filho mais novo ganhou o celular da avó e uma das formas de controlar o acesso à rede é retirar o chip que acessa dados do aparelho. “Porém quando viajamos ou saímos no fim de semana, eu ligo os dados. O menor usa o celular desde 3 anos o que não é recomendado, porém é o que eu consegui fazer na minha rotina”, reconhece.

Ela diz que libera o acesso ao filho menor à internet, em média, 30 minutos por dia, a aplicativos como ‘You Tube Kids e a alguns jogos on-line, mas revela que já o flagrou acessando conteúdo não apropriado para a sua idade. “Isso é muito preocupante porque muitas vezes não sabemos quem está por trás dos conteúdos que acessamos e é muito difícil controlar. A saída é restringir e controlar ao máximo. Conversar sempre com nossos filhos e estar sempre atentos ao que eles acessam”, recomenda.

A administradora e funcionária pública Naiana Monteiro Farias presenteou sua filha mais nova, Alice, com um celular quando ela completou 10 anos de idade e desde então controla rigorosamente o uso de tudo que a criança acessa por ferramentas disponibilizadas pelo smartphone. “Ela só tem liberado para uso irrestrito o WhatsApp e ligações. Todos os outros aplicativos eu liberto determinado tempo por dia. Muitas vezes ela pede para liberar mais tempo, eu avalio a cada situação se libero ou não. Ela reclama, mas aceita e assim vamos negociando”, conta.

O aplicativo de TV, por exemplo, é liberado uma hora todos os dias. As redes sociais também são liberadas uma hora. Já os aplicativos de informação, leitura e informação são liberados três horas diariamente. A média diária de tempo de uso de celular por Alice é de 2h46 minutos, diariamente.

“Sabemos que crianças nessa idade são difíceis de controlar. E nós adultos sabemos o quanto as redes sociais viciam e roubam nosso tempo, causando influências negativas nos adolescentes. Converso muito com a minha filha sobre a importância desse acompanhamento nessa fase da sua vida, alertando para os perigos do mundo virtual e os cuidados que precisamos ter”, aponta.

 

Uso abusivo de telas pode trazer até prejuízos físicos

Nathália Otero, psicóloga clínica diz que não há uma idade segura e precisa para aquisição de um aparelho celular para uma criança. “Muitos defendem que é possível a partir do início da adolescência, quando existem níveis de maturidade esperados e, principalmente, esclarecimentos sobre o uso acerca de conteúdos permitidos de serem acessados. Já o acesso ao celular, há pais ou responsáveis que oferecem o aparelho como meios de distração em situações geralmente entediantes para a criança”, esclarece.

Essa decisão, segundo ela, precisa ser avaliada com muita cautela e orientação profissional, pois o uso abusivo de telas pode trazer prejuízos físicos para quem usa. “Mas também há outros riscos, como acesso a conteúdos impróprios e influências negativas de pessoas oportunistas. Além de afastar as relações sociais do convívio diário. As vantagens são o acesso a comunicação, facilidade de comunicação entre pais e filhos, velocidade de resposta e Informações atualizadas dos acontecimentos do mundo, além de aproximar pessoas que estão geograficamente distantes”.

A psicóloga, que também atua com avaliação psicológica e neuropsicologia, diz que jogos online servem como estímulos cerebrais, podendo gerar benefícios ou prejuízos, dependendo do tempo de uso. O mesmo ocorre com os desenhos animados ricos em estímulos áudio visuais. Porém, existem também níveis de dependência a esses conteúdos, gerando afastamento da relação interpessoal e no brincar com a criança.

“O jogo online acaba se tornando mais atrativo do que os brinquedos lúdicos encontrados em lojas magazines, como tabuleiros, quebra cabeça, jogo de memória, etc. Para iniciar, pode-se começar por conteúdos musicais e que envolvam ensinamentos/ conteúdos de valores sociais aceitáveis, como palavras mágicas (obrigada, desculpe, de nada). E outros de boa conduta”, recomenda.

Ela diz que a fase mais indicada para se ter uma rede social é a adolescência, mas ainda sob supervisão dos responsáveis, uma vez que, conteúdos impróprios e acesso a informações não compatíveis com a idade são livremente utilizadas nessas redes sociais. “Existem normas de que somente pessoas com mais de 18 anos pode ter determinadas redes. No entanto, há um processo em massa de burlar essas leis. Os cuidados são necessários e devem ser supervisionados para evitar tais danos e favorecer as relações sociais e familiares”.

O controle pode ocorrer através de acordos com o devido acompanhamento se a utilização está sendo feita da forma correta, saudável e dentro do tempo estipulado. “Há pais que usam apps de controle de uso de Internet e funções de celular. Mas há outros que preferem recolher o celular ou computador em horários já definidos antes. Alguns critérios utilizados podem ser: a finalidade daquele uso, o tempo de uso, quais conteúdos serão utilizados, a necessidade do uso, por exemplo”.

A especialista chama atenção para o fato de que há adolescentes que pouco conseguem se relacionar com as pessoas no mundo ao seu redor, mas que conseguem despir-se para uma pessoa estranha que pode estar no outro lado do mundo, de maneira virtual. Os prejuízos com o excesso de uso de telas e da Internet são inúmeros, dificultando as relações interpessoais “gerando falta de habilidades sociais, baixa tolerância a frustração, irritabilidade, impulsividade, prejuízos cognitivos na atenção, concentração, memoria e inteligência”.

Há ainda comprometimentos físicos como na visão, postura corporal, sedentarismo, ausência de exercícios físicos, preferência por atividades que envolvam tecnologia, desinteresse em atividades ao ar livre ou que tenham interações com pessoas, grandes grupos ou de exposições, além de prejuízos no desempenho escolar. “Há uma espécie de embotamento afetivo, causando manejo inadequados de habilidades sociais como comunicação, empatia, demonstração de afeto, interação social e padrões disfuncionais”, contabiliza Nathália.