Luiza Mello
O Dia Nacional de Conscientização sobre a Cardiopatia Congênita foi lembrado no último dia 12 de junho. Anualmente, cerca de 130 milhões de crianças em todo o mundo nascem com algum tipo de cardiopatia congênita. No Brasil, cerca de 30 mil crianças por ano nascem com algum tipo de má formação. Com 90% da incidência ainda na gestação, a condição está entre as malformações que mais matam na infância. Desse total, aproximadamente 40% vão necessitar de cirurgia ainda no primeiro ano de vida. A doença acomete de oito a dez crianças em cada mil nascidos vivos. Os dados foram levantados pelo Departamento Científico de Cardiologia Pediátrica da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).
De acordo com a SBP, há uma carência de leitos de UTI neonatal pediátrica e cardíaca pediátrica no país. “Este parece ser um ponto crítico no processo de atendimento às crianças cardiopatas em nosso país e necessita ser analisado com urgência”, ressaltou a médica Patrícia Guedes, que integra o departamento de cardiologia pediátrica da SBP em participação em audiência pública sobre o tema, realizada na Câmara dos Deputados.
Com base nos dados divulgados na semana da Conscientização sobre a Cardiopatia Congênita, o senador Jader Barbalho encaminhou à ministra da Saúde, Nísia Trindade, um ofício reforçando a necessidade de se criar no Brasil, uma área de atuação específica em cirurgia cardiovascular pediátrica e das cardiopatias congênitas. “Só assim será possível regulamentar os centros formadores e o treinamento dos futuros cirurgiões, possibilitando mais recursos para a prática desses profissionais, promovendo qualidade de vida e eficiência no atendimento das crianças”, escreveu.
“O que mais preocupa é que 21 serviços não estão realizando operações desse tipo por falta de estrutura, de financiamento e de pessoal especializado”, ressalta o senador na manifestação encaminhada ao Ministério da Saúde.
SANTA CASA
Jader Barbalho lembrou que a Santa Casa do Pará realiza, ainda na maternidade, o teste do coraçãozinho, um dos exames de triagem neonatal instituídos como obrigatórios pelo Ministério da Saúde para ser realizado nos bebês ainda na maternidade. O exame contribui para o diagnóstico de cardiopatias congênitas, que são doenças do coração, que o bebê apresenta desde o nascimento.
Ele defende que essa ação, que faz parte dos exames de triagem neonatal instituídos como obrigatórios pelo Ministério da Saúde (Programa Nacional da Triagem Neonatal) deve ser mais amparada em sua estrutura. “Infelizmente, existe no país um elevado déficit de cirurgias cardíacas pediátricas, o que acaba levando a óbito muitos bebês, ainda nos primeiros meses de vida”, lamenta o senador.
A Sociedade Brasileira de Pediatria registra que o tratamento cirúrgico das cardiopatias na criança precisa urgentemente de uma melhor estruturação do sistema de referência e contrarreferência entre serviços terciários de cardiologia pediátrica e os serviços pediátricos de origem, especialmente nas cardiopatias graves.
Segundo os especialistas, existem várias malformações cardíacas congênitas. Entre as mais comuns estão as comunicações interventriculares (defeito no septo que separa os ventrículos direito e esquerdo) e as comunicações interatriais (comunicação entre os átrios direito e esquerdo).
De acordo o Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde, no Brasil, o registro de óbitos relacionados à cardiopatia congênita é de 107 casos para cada 100 mil nascidos vivos, ou seja, cerca de 8% das mortes neste segmento da população. Destes, aproximadamente 30% dos óbitos ocorrem no período neonatal precoce (zero a seis dias de vida).
URGÊNCIA
Ao encerrar o ofício para a ministra Nísia Trindade, Jader Barbalho defendeu que o Ministério da Saúde autorize a criação de um grupo de trabalho específico para estudar o assunto e apresentar soluções para resolver esse problema. “É preciso tratar deste tema com a urgência necessária, pois milhares de famílias brasileiras aguardam ansiosas pela cirurgia de seus filhos”, reforçou.
O Programa Nacional para o Tratamento Integral de Crianças com Diagnóstico de Cardiopatia Congênita foi desenvolvido em conjunto pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), Sociedade Brasileira de Cirurgia Cardiovascular (SBCCV), Sociedade Brasileira de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista (SBHCI) e pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). Instituído oficialmente no Brasil em 2017, o plano não avançou em sua estruturação de apoio ao sistema de referência e contrarreferência entre serviços terciários de cardiologia pediátrica e os serviços pediátricos de origem, especialmente nas cardiopatias graves.