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Uso de ayahuasca preocupa especialistas após morte de homem

Uso de ayahuasca preocupa especialistas após morte de homem

Muitas pessoas nunca ouviram falar de ayahuasca. A bebida, também conhecida como “chá do santo-daime”, é feita a partir de uma combinação de plantas que possuem substâncias alucinógenas em sua composição.

Bastante utitizada em rituais religiosos e sessões terapêuticas, a ayahuasca tem intrigado especialistas, especialmente após a morte de um jovem de 26 anos, depois de ter ingerido a bebida.

Micael Amorim Macedo faleceu no final de julho, após experiências com o psicodélico em uma chácara no Distrito Federal. A namorada dele, Jaynah Christine, de 29 anos, cobra explicações sobre as causas da morte, que ainda não foi esclarecida e segue sendo investigada pela Polícia Civil do DF.

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Em publicação nas redes sociais, Jaynah diz que Micael tomou três doses de ayahuasca e teve um surto psicótico. Para tentar controlar a situação, os responsáveis pela sessão teriam, segundo ela, aplicado seguidas doses de rapé no rapaz, que, em seguida, desmaiou e morreu. A suspeita é de que tenha sofrido uma parada cardiorrespiratória.

Especialistas ouvidos pela Coluna VivaBem, do Portal UOL, comentam pontos da história contada por Jaynah e suas relações com os efeitos da ayahuasca e rapé no organismo humano.

“O fato de alguém ter morrido sob o efeito da ayahuasca não indica que houve uma relação de causa e efeito entre as duas coisas”, afirma o psiquiatra Dartiu Xavier, da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).

“Se uma pessoa está passando por algum sofrimento psíquico agudo deve evitar beber ayahuasca”, orienta o médico psiquiatra Wilson Gonzaga, que possui décadas de experiência com a bebida psicoativa.

Uma sessão de ayahuasca pode fazer emergir uma quantidade tão elevada de material que, ao invés de ajudar, pode perturbar ainda mais a estabilidade emocional da pessoa, explica o médico.

AYAHUASCA

A ayahuasca é uma bebida que contém substâncias psicoativas, sendo a principal delas a DMT (dimetiltriptamina), um psicodélico poderoso que atua no cérebro ligando-se a receptores de serotonina (responsável pelo bem-estar e outras funções) e causando alterações profundas na percepção.

Por isso, a primeira recomendação do médico Dartiu Xavier é não associar o uso de ayahuasca com remédios que aumentem os níveis de serotonina, como alguns antidepressivos (a fluoxetina, por exemplo).

Micael tinha passado por uma cirurgia no coração ainda na infância, sua companheira afirma desconhecer que ele tivesse algum problema cardíaco. Entretanto, o fato levantou dúvidas se doenças cardiovasculares seriam também um impeditivo para beber ayahuasca.

Xavier observa que isso demanda exames mais profundos, mas não descarta que em alguns casos possa ser uma contraindicação. “Dependendo da patologia e das medicações que o indivíduo esteja tomando, o consumo de ayahuasca deve ser evitado.

Casos mais severos de transtornos mentais também demandam cuidado redobrado, complementa o psiquiatra Wilson Gonzaga. “Os quadros graves de depressão ou ansiedade não devem ser tratados com ayahuasca porque podem agudizar o problema.”

Mas o médico observa que isso não significa que a ayahuasca não traga benefícios para a saúde. “Há muitos relatos demonstrando o poder de cura dessa substância”, diz. Segundo Gonzaga, há evidências clínicas de que os efeitos são muito semelhantes aos dos antidepressivos. Por isso, não deve ser usada junto com esses medicamentos, para se evitar uma crise serotoninérgica.