Dr. Responde

Café pode ajudar a diminuir o vício do cigarro, segundo estudo

O Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) divulga aos consumidores 16 novas marcas de café torrado desclassificadas após a detecção de matérias estranhas
Pesquisadores brasileiros fazem estudo preliminar com 60 fumantes

SÃO PAULO (AG) – Pesquisadores do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (IDOR) identificaram um alvo que pode ajudar a diminuir o vício em cigarro: o café. De acordo com uma nova pesquisa, o aroma da bebida ativa uma região específica no cérebro, conhecida como sistema de recompensas, em especial o núcleo acumbens, que é a mesma estrutura cerebral afetada por substâncias psicoativas, como a cocaína.

Estima-se que haja 1,1 bilhão de fumantes no mundo. O tabaco mata mais de 8 milhões de pessoas no mundo por ano – mais de 7 milhões delas por uso direto do tabaco, outro 1,2 milhão como resultado de não fumantes expostos ao fumo. Sem contar o câncer.

– O diferencial do projeto é utilizar a fragrância do café para redução do desejo pelo consumo de substâncias aditivas por usuários crônicos. É extremamente gratificante porque se trata de um projeto totalmente nacional que traz inovação em uma área que impacta tanto a saúde pública quanto ambiental e social – explica Silvia Oigman, pesquisadora do IDOR e diretora científica da Café Consciência, uma startup de biotecnologia, parceira do IDOR.

Para o experimento, foi produzido um óleo a partir de grãos de cafés de alta qualidade, que é inalado por meio de um dispositivo adaptado, já aprovado pela FDA, órgão regulador de medicamentos nos Estados Unidos.

A pesquisa foi realizada com 60 fumantes que foram expostos às fragrâncias de grãos de café, enquanto outro grupo controle foi exposto às fragrâncias de sabão. Logo após a intervenção, observou-se, no grupo que inalou grãos de café, que 50% voltaram a fumar e, enquanto no grupo controle exposto à fragrância de sabão, mais de 70% continuaram fumando.

– Desconheço outros grupos que utilizem a inalação inócua do aroma de café como ativador do sistema de recompensa para fins medicinais e, nesse sentido, acredito muito no potencial de inovação do nosso trabalho. É uma forma não invasiva que consegue muita informação sobre a atividade cerebral do paciente. Fiquei maravilhada, impressionada – relata a pesquisadora.

Oigman explica que os resultados animadores e a perspectiva de um possível alvo terapêutico para diminuir ou cessar a adição por tabaco levaram o grupo a depositar patentes. Já são nove pedidos nos Estados Unidos, Europa e China e mais três em andamento.

A pesquisadora diz ainda que os dados são importantes indicadores de um possível alvo farmacológico e mecanismo de eficácia de compostos voláteis do café na modulação de circuitos neurais mediadores de adição, servindo como base para o avanço do desenvolvimento clínico do candidato terapêutico.

– Nós queríamos entender se os participantes que foram expostos à fragrância do café fumariam menos do que os participantes que inalaram a fragrância neutra. Esse resultado animador nos motiva a dar continuidade ao desenvolvimento do dispositivo eletrônico que será utilizado em novo ensaio clínico- afirma.

Como objetivo final, Oigman pretende desenvolver um dispositivo eletrônico contendo uma formulação terapêutica, a qual será utilizada em novos ensaios clínicos. Se for bem-sucedida, pode virar uma nova patente.

A pesquisa recebeu investimentos de cerca de R$ 373 mil da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro.

Os benefícios da cafeína são objeto de muitos estudos da ciência. Recentemente, um novo trabalho, publicado na revista Neurology, descobriu que beber café pode ajuda a reduzir o risco de desenvolver doença de Parkinson.

Os resultados apontaram que os 25% maiores consumidores de café tinham 40% menos perigo de ter a doença em comparação com quem não ingeria a bebida.