Cintia Magno
Há mais de duas décadas, a iniciativa que começou com a distribuição de 50 pratos de sopa para pessoas que tinham fome se transformou numa rede de solidariedade que, hoje, não apenas alimenta, mas também oferece uma série de outros serviços de forma gratuita e voluntária. Todos os dias, uma média de 800 a 900 pessoas encontram na Casa da Sopa o acesso ao alimento que, muitas vezes, é a única refeição do dia, com a certeza de que, no dia seguinte, poderão contar novamente com a solidariedade dos mesmos voluntários.
O início do que resultou na instituição filantrópica que hoje é reconhecida como de utilidade pública no Estado do Pará, a Casa da Sopa, se deu no bairro do Guamá, quando o Padre Eloi Wayth atuava na Paróquia de Santa Maria Goretti. Ao observar que muitas pessoas no bairro enfrentavam uma situação de fome, o padre teve a ideia que se tornaria a sua missão por mais de 20 anos.
“A ideia da Casa da Sopa começou no Guamá, quando eu estava na Paróquia de Santa Maria Goretti. Eu comecei com 50 pratos de sopa e, com o passar do tempo, eu saí de lá e fui para o Batalhão de Choque e continuei dando a sopa”, lembra o religioso, ao contar que a missão lhe acompanhou por onde ele passou ao longo dos anos. “Foi quando surgiu a necessidade de ter algo maior e foi quando nós montamos a primeira Casa da Sopa, na rua dos Mundurucus”.
Na época, o padre alugou uma casa que pudesse abrigar as ações de distribuição da sopa, que crescia sempre com a doação voluntária. Neste primeiro espaço, os voluntários passaram três anos até que se mudaram para outra casa alugada, na avenida José Bonifácio. A última parada foi no atual prédio, localizado na Rua dos Caripunas, comprada especialmente para receber o projeto social.
“Como passar do tempo eu consegui trabalhar e comprar esta casa hoje, uma casa que eu coloquei para fazer a sopa, a Casa da Sopa”, conta padre Eloi. “A casa montada já tem 20 anos, mas eu comecei antes disso. A nossa história envolve praticamente toda a Grande Belém porque têm pessoas que vêm buscar sopa lá do Outeiro”.
Todos os dias, os voluntários da instituição ajudam a preparar a sopa com as verduras e legumes reunidos a partir de doação. Já por volta de 10h30, começa a distribuição. Além de se alimentar ali, na hora, as pessoas que vão em busca da comida também conseguem levar um pouco da sopa para casa. Todos os dias, de segunda a sexta-feira, até 900 pessoas têm a alimentação garantida. Necessidade que o projeto viu crescer após a pandemia da Covid-19.
“Depois da pandemia agravou-se mais a necessidade das pessoas. Tem muitas pessoas que vivem em situação de rua, tem muitas famílias extremamente carentes. Tem pessoas que comem e levam a sopa. Nós temos um exercício diário, de segunda a sexta-feira, com essa missão e na verdade o nosso trabalho é um trabalho silencioso porque a gente quer ajudar as pessoas”, considera o padre, diretor da Casa da Sopa.
“Tivemos muitas pessoas amigas que abraçaram, empresas que acreditaram e que acreditam no nosso trabalho. Nós, agora, já vamos passar para a segunda casa que a gente comprou. O nosso desejo é fazer algo maior justamente para atender as pessoas que estão passando fome e é muita gente passa fome”.
Da ideia iniciada pelo padre tempos atrás, o projeto da Casa da Sopa acabou se tornando uma rede de solidariedade, em que, atualmente, 130 voluntários contribuem com a missão. Além da sopa, a casa também presta atendimento odontológico, nutricional, jurídico, assistência social e uma rede médica de atendimento, todos trabalhos voluntários.
“A gente conseguiu alcançar um grande trabalho e, acima de tudo, nós temos 130 voluntários no exercício dessa missão. Todos os dias, então, a gente distribui 850 litros de sopa, mas o nosso trabalho não se restringe à sopa”, explica o padre Eloi. “Temos também a nossa farmácia, onde são doados remédios. Além de ter o atendimento com os médicos voluntários, são 25 médicos de várias especialidades, os remédios também são doados. A pessoa traz só a receita e a gente doa o remédio para a pessoa. E tudo isso são doações, as pessoas doam, às vezes alguns laboratórios também fazem doações e, portanto, a gente tem essa missão também”.
Da mesma forma que iniciou, o projeto continua sobrevivendo exclusivamente com doações e o padre Eloi Wayth conta que elas vêm não apenas dos que têm mais condições de ajudar. “É um desafio para a gente porque a gente não tem nenhuma sustentação com o dinheiro público, então, quem ajuda são as pessoas realmente que acreditam nesse trabalho. Todo mundo participa, tanto a pessoa que não tem tanto, quanto a pessoa que tem muito e a gente vive essa partilha”, conta.
“Toda segunda-feira eu criei a ‘segunda da verdura’, então, as pessoas que vão à celebração eu peço apenas uma batata, ou uma cebola, ou um chuchu, ou uma cenoura para não ficar pesado para ninguém e a gente vai fazendo. O consumo é grande, mas com as pessoas ajudando a gente consegue fazer algo até maior”.