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Doença de Chagas: Transmissão oral é comum na Amazônia 

No Pará, surtos da doença são pontuais em pessoas que consumiram açaí contaminado. Foto: Agência Pará
No Pará, surtos da doença são pontuais em pessoas que consumiram açaí contaminado. Foto: Agência Pará

Cintia Magno

Febre por mais de sete dias, dor de cabeça, fraqueza intensa e inchaço no rosto e pernas podem ser sinais de uma doença que, segundo aponta a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), ocasiona uma média de 14 mil mortes por ano somente na América Latina, a Doença de Chagas. Em todo o mundo, a organização estima que cerca de 7 milhões de pessoas possam estar infectadas pelo protozoário causador da enfermidade.

Podendo ser transmitida por diferentes formas, a Doença de Chagas é causada pelo Trypanosoma cruzi, que é levado aos seres humanos por meio de um inseto popularmente conhecido como Barbeiro. O enfermeiro da Vigilância Epidemiológica da Secretaria Municipal de Saúde (Sesma), Gustavo Cruz, explica que o protozoário se desenvolve no sistema digestivo dos barbeiros infectados.

“Existem várias formas de transmissão da doença, entre elas, há a transmissão vetorial, que acontece pelo contato do homem com excretas contaminadas dos barbeiros, que ao picar os vertebrados para se alimentar costumam defecar, eliminando as formas infectantes do parasita, que penetram pelo orifício da picada ou pelas mucosas”, esclarece. “Temos, também, a forma vertical, que é da gestante infectada para o feto, em qualquer fase da doença – tanto a aguda, quanto a crônica – podendo ocorrer a transmissão durante a gestação ou no momento do parto”.

Há, também, a via oral de transmissão, que para a região amazônica é a forma mais comum. Segundo explica Gustavo, ela ocorre quando há a ingestão de alimentos contaminados acidentalmente, seja com o Barbeiro ou com suas fezes infectadas, principalmente no consumo do açaí. Outras formas menos comuns são transfusional, que ocorre a partir do contato com sangue contaminado com o Trypanosoma cruzi, e também por transplante de órgãos contaminados e transplantados para um doador sadio.

“Tanto a forma transfusional, quanto de transplante são muito raras de ocorrerem no Brasil devido à alta efetividade no controle dos centros de hemoterapia e de transplante de órgãos”, frisa o enfermeiro. “Há ainda a laboratorial, através de acidentes de trabalho com assistentes de laboratório, que acontece com o contato de material contaminado com as formas infectantes do Trypanosoma cruzi com a pele lesada ou mucosas”.

Uma vez infectado pelo Trypanosoma cruzi, o paciente que desenvolve a Doença de Chagas pode apresentar quadro clínico que se divide em duas fases: a fase aguda e a crônica. “A fase aguda é quando acontece a infecção. Essa fase pode manifestar sintomas ou não. Porém, quando se manifestam sintomas, a febre persistente sempre está presente. Já a fase crônica se manifesta muitos anos após a fase aguda”.

Gustavo Cruz considera que as complicações podem surgir tanto na fase aguda, que dura cerca de 60 dias, quanto na fase crônica. “Alguns pacientes podem evoluir para a fase crônica assintomática, principalmente se não tratados corretamente. Nesta fase, que se manifesta muitos anos após o fim da fase aguda, é quando os pacientes desenvolvem as principais complicações, principalmente cardíacas – como insuficiência cardíaca – e/ou digestivas, evoluindo com megacólon e o megaesôfago, que é o aumento no volume do intestino grosso e do esôfago”, pontua. “A pessoa doente, tanto na fase aguda, quanto na fase crônica pode desenvolver quadros graves podendo até evoluir a óbito”. Através do uso de medicamentos, o tratamento da doença tem como objetivo evitar lesões nos órgãos ou prevenir a evolução delas.

POR DENTRO DA DOENÇA DE CHAGAS

O QUE É?

É a infecção causada pelo protozoário Trypanosoma cruzi. Apresenta uma fase aguda (doença de Chagas aguda – DCA) que pode ser sintomática ou não, e uma fase crônica, que pode se manifestar nas formas indeterminada (assintomática), cardíaca, digestiva ou cardiodigestiva.

SINTOMAS

Na fase aguda, os principais sintomas são:

*febre prolongada (mais de 7 dias);

*dor de cabeça;

*fraqueza intensa;

*inchaço no rosto e pernas.

*Em caso de picada do barbeiro, pode aparecer uma lesão semelhante a um furúnculo no local

Após a fase aguda, caso a pessoa não receba tratamento oportuno, ela pode desenvolver a fase crônica da doença, inicialmente sem sintomas (forma indeterminada), podendo, com o passar dos anos, apresentar complicações como:

*problemas cardíacos, como insuficiência cardíaca;

*problemas digestivos, como megacólon e megaesôfago

TRANSMISSÃO

As principais formas de transmissão da doença de Chagas são:

Vetorial: contato com fezes de triatomíneos* infectados após o repasto/alimentação sanguínea. A ingestão de sangue no momento do repasto sanguíneo estimula a defecação e, dessa forma, o contato com as fezes.

Oral: ingestão de alimentos contaminados com parasitos provenientes de triatomíneos infectados ou suas excretas.

Vertical: ocorre pela passagem de parasitos de mulheres infectadas por T. cruzi para seus bebês durante a gravidez ou o parto.

Transfusão de sangue ou transplante de órgãos de doadores infectados a receptores sadios.

Acidental: pelo contato da pele ferida ou de mucosas com material contaminado durante manipulação em laboratório ou na manipulação de caça.

PREVENÇÃO

*A prevenção da doença de Chagas está intimamente relacionada à forma de transmissão e uma das formas de controle é evitar que o inseto “barbeiro” forme colônias dentro das residências, por meio da utilização de inseticidas residuais por equipe técnica habilitada.

*Em áreas onde os insetos possam entrar nas casas voando pelas aberturas ou frestas, podem-se usar mosquiteiros ou telas metálicas. Também recomenda-se usar medidas de proteção individual (repelentes, roupas de mangas longas, etc.) durante a realização de atividades noturnas (caçadas, pesca ou pernoite) em áreas de mata.

Em relação à transmissão oral, as principais medidas de prevenção são:

*Intensificar ações de vigilância sanitária e inspeção, em todas as etapas da cadeia de produção de alimentos suscetíveis à contaminação, com especial atenção ao local de manipulação de alimentos.

*Instalar a fonte de iluminação distante dos equipamentos de processamento do alimento para evitar a contaminação acidental por vetores atraídos pela luz.

*Realizar ações de capacitação para manipuladores de alimentos e de profissionais de informação, educação e comunicação.

Fonte: Ministério da Saúde.