PEDRO LOVISI
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A N5X, joint venture entre a EEX (European Energy Exchange) e o L4 Venture Builder, fundo ligado à B3, vai começar a operar em junho no Brasil. A ideia da empresa é se tornar a primeira Bolsa de energia do país, hospedando negociações de derivativos de energia, instrumento de proteção da oscilação de preços que atrai especuladores, segundo a CEO da empresa, Dri Barbosa.
Inicialmente, a plataforma vai se limitar a hospedar informações sobre as negociações bilaterais no mercado livre de energia -onde grandes empresas negociam a compra de eletricidade com geradores, a partir de comercializadoras. Nessa fase, após fecharem acordos, as empresas preencherão uma boleta da N5X, padronizando o formato dessas negociações. A B3 já opera uma ferramenta semelhante.
(Boleta é uma ferramenta que centraliza e facilita a negociação de ativos na Bolsa. Quando se pretende comprar, vender, estabelecer o preço e quantidade de negociação, o investidor insere os dados na boleta. Nela também é possível colocar o tempo em que a ordem acabará ficando no mercado.)
Hoje, as empresas que vendem e compram energia no mercado livre de energia precisam registrar a operação na CCEE (Câmara de Comercialização de Energia Elétrica) até um mês depois do mês de consumo.
Atualmente, 150 empresas estão no portfólio da N5X, sendo algumas subsidiárias dos principais grupos de energia do país, como Cemig e Eletrobras, ou comercializadoras ligadas a instituições financeiras, como a do Banco ABC. Grandes empresas, como Petrobras, Raízen e Assaí Atacadista, também aderiram à plataforma.
Segundo Barbosa, a abertura em junho será gradual, com a N5X selecionando entre 5 a 10 compradores e vendedores de energia para registrar suas negociações bilaterais na plataforma. “Depois desse período inicial, a gente vai abrir para todo mundo”, diz.
O segundo passo da N5X será fazer com que as transações bilaterais entre os grandes atores do mercado aconteçam dentro da plataforma. Hoje, grande parte dessas negociações é feita por email ou telefone, o que torna as negociações despadronizadas.
A N5X se posiciona como concorrente do BBCE (Balcão Brasileiro de Comercialização de Energia), plataforma privada que hoje já hospeda um terço do volume de contratos de entrega física registrados na CCEE. A BBCE também registra contratos futuros atrelados ao preço de energia.
Só depois de todas essas fases, a N5X se tornará, de fato, uma Bolsa de energia, possibilitando negociações em formato semelhante ao que acontece em Bolsa de Valores ao redor do mundo. “Ou seja, eu boto uma oferta e alguém pode pegar a minha ordem; podem ser grandes geradores, grandes consumidores e comercializadoras”, explica Barbosa. Nesse caso, serão também comercializados contratos futuros de energia.
Para isso, porém, a empresa precisa de autorização do Banco Central e da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), o que nas contas da Barbosa deve sair só entre 2026 e 2027.
“Com a plataforma, você tem maior transparência de preço porque todas as negociações estarão lá, então você consegue saber qual é o valor de todos os contratos que foram feitos. Com isso, é mais fácil você falar, por exemplo, quanto está custando o megawatt atrelado a 2026”, afirma Babosa.
A executiva defende que o modelo de negócio da empresa vai aumentar a liquidez do mercado de energia, o que na visão dela, favorece empresas que hoje fazem contratos de proteção do PLD, preço de referência da energia elétrica.
Em média, um MWh (megawatt-hora) de energia elétrica no Brasil passa por mais de quatro atores de mercado antes de chegar ao comprador final; em países com mercado mais desenvolvido, são oito vezes. A meta da N5X é chegar perto desses países.
“A gente quer ter a negociação eletrônica em que as pessoas entrem na nossa plataforma e negociem sem saber quem é quem […], se as pessoas não soubessem que é uma grande empresa que está comprando energia e se houvesse um mercado líquido com vários participantes, poderia haver melhor precificação. Isso é o mercado financeiro [de energia]”, diz Barbosa.
Há, porém, muito chão pela frente até a criação da Bolsa -inclusive de investimentos. Hoje, a receita da N5X vem apenas da mensalidade de R$ 4 mil de todas as empresas que participam da plataforma. A partir de junho, quando a empresa estiver operando, também será cobrada uma taxa de R$ 60 por boleta.
Enquanto isso, o dinheiro fica por conta dos investidores. “Claramente, os R$ 4 mil vezes 150 não é o suficiente para o tamanho do projeto. Mas aqui é um investimento que os acionistas estão fazendo, e eles sabem que custa muito construir uma bolsa de energia; a EEX fez isso em mais de 20 países”, diz Barbosa.
ENTENDA O MERCADO LIVRE
– O mercado de energia no Brasil tem dois ambientes, o ACR (Ambiente de Contratação Regulada), onde estão ligados os consumidores cativos, atendidos por distribuidoras, e o ACL (Ambiente de Contratação Livre), em que os consumidores têm liberdade para escolher de quem comprar energia, qual energia comprar, e também negociar preço
– Até o ano passado, só podiam estar no mercado livre os maiores consumidores do grupo A, de alta e média tensão (A1, A2 e A3), com conta de luz acima de R$ 140 mil e consumo maior que 500 kW (kilowatts)
– A partir de 1º de janeiro deste ano, o mercado livre foi aberto às demais empresas do grupo A, enquadradas como A4, com conta de luz acima de R$ 10 mil e demanda inferior a 500 kW. A mudança está regulamentada na Portaria 50, de 2022, do MME (Ministério de Minas e Energia)
– Essas empresas de porte médio não compram energia diretamente. São representadas por um agente varejista. Hoje, atuam no país 529 comercializadoras e 113 comercializadoras varejistas
– O organismo que reúne os integrantes do mercado e acompanha as transações e o cumprimento dos contratos é CCEE (Câmara de Compensação de Energia Elétrica)