Luiz Flávio
A bacharel em Direito Maria Helena da Silva Costa, 60 anos, votou pela primeira vez aos 18 anos, quando pôde exercer o direito democrático de escolher seu representante político. “Sempre votei, nunca abri e jamais abrirei mão desse poder de cidadã. Pretendo votar até quando minha saúde física e mental permitir”, assegura.
Helena está entre os 33,7 milhões de eleitores com mais de 60 anos aptos a votar hoje no Brasil segundo dados consolidados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), referentes a abril de 2024. Desse total, 18,9 milhões estão na faixa até 69 anos, outros 10,1 milhões possuem entre 70 e 79 anos e, por fim, há mais 4,6 milhões com idade superior a 79 anos. Juntos, eles somam exatamente 33.787.121 pessoas e representam 21,4% do total de 157.780.526 eleitores. Isso significa que os idosos representam um em cada cinco dos brasileiros aptos a votar hoje.
No Estado do Pará, dos 6.168.907 aptos a votar, 966.306 (15,66%) possuem 60 anos ou mais. Ou seja: um em cada seis eleitores paraenses são considerados idosos. Desse total a maioria – 5.762.052 – está na faixa etária até 69 anos; 292.033 na faixa de 70 a 79 anos e apenas 114.775 estão acima dos 79 anos. O Tribunal Regional Eleitoral do Pará (TRE do Pará) esclarece que os números ainda podem sofrer alterações devido a solicitações dos eleitores que se encontram pendentes de processamento.
Nem sempre os idosos tiveram esse peso eleitoral no país: em 1994, representavam apenas 11% dos eleitores do Brasil. Com o passar do tempo, esse percentual cresceu e, em 2014, as pessoas com 60 anos ou mais chegavam a 17% do eleitorado. Agora, em 2024, o percentual ultrapassa os 21% do eleitorado, revelando um cenário que não pode mais ser ignorado: os idosos possuem peso importante em nossa balança eleitoral.
Funcionária pública há 38 anos, Helena Costa sempre trabalhou como voluntária para Justiça Eleitoral. “Sempre que sou convocada, presto esse serviço com responsabilidade. Já tive algumas decepções com meus candidatos, mas esse fato não me impede de ir adiante no processo democrático. Acredito na seriedade das eleições e na Justiça Eleitoral !”, garante.
Ela ressalta que o voto na melhor idade é um voto mais responsável “já não votamos com entusiasmo, pela aparência do candidato, mas sim pelas suas propostas e pela sua postura como político, buscando sempre saber se possui coerência no que diz”.
A funcionária pública também analisa se seu candidato está envolvido em alguma ação que comprometa sua imagem, se responde algum processo na justiça de um modo geral, seja eleitoral, penal ou na área cível. “Eu particularmente busco as propostas na área da saúde, educação emprego e renda na hora de me decidir”, aponta.
País tem população cada vez mais idosa, segundo o censo
É inegável que há um processo acelerado de envelhecimento da população no Brasil. O Censo de 2022 mostrou que as pessoas com 60 anos ou mais representavam 15,6% da população no Brasil, enquanto, em 2010, esse percentual era de 10,8%. O crescimento foi de 56% no período e a tendência é que essa curva se acentue ainda mais nos próximos anos. Há previsões de que em 2030 o Brasil tenha mais brasileiros com idade superior a 60 anos do que crianças.
Outro aspecto importante para compreensão do crescimento dos eleitores idosos, é o fato de que a polarização política, radicalizada nos últimos anos, pode estar motivando as pessoas mais maduras a votar. A faixa etária acima de 60 anos é de uma geração que se interessa e se envolve com as discussões de cunho ideológico. São cidadãos e cidadãs que querem participar do processo democrático e, por esse motivo, mantêm a situação eleitoral regularizada para que possam ter o direito de escolher se vão às urnas, ou não.
A gestora de Recursos Humanos Wanda Fernandes Caxias tem 68 anos e também vota desde os 18 anos. Aposentada desde 2012, ela diz que vota porque a Lei obriga, mas também por entender que “é importante que nós, cidadãos, possamos escolher nossos governantes”.
Wanda afirma ainda que mesmo que alguns políticos a tenham decepcionado nas últimas décadas, acha fundamental seguir manifestando a sua vontade nas urnas, votando em quem entende ser o melhor para sua cidade, Estado e país. “Por mais que não concorde com o candidato que ganhou determinada eleição, e que porventura não seja o que eu votei, é fundamental continuar votando, independente da idade. “Enquanto tiver forças com certeza irei as urnas e vou cobrar dos políticos e governantes eleitos para que melhorem a nossa vida e nos deem cidadania. É nosso direito!”, garante.
Campanhas da Justiça Eleitoral facilitam a votação de idosos
O envelhecimento da população brasileira é uma tendência global decorrente de uma complexa interação de fatores demográficos, que têm um impacto significativo na composição populacional do país.
“Nas últimas décadas houve uma diminuição nas taxas de natalidade e um aumento na expectativa de vida, afetando diretamente o perfil dos eleitores. De acordo com o Banco Mundial, a taxa de natalidade no Brasil caiu de 6,06 crianças por mulher em 1960 para 1,72 em 2019, seguindo uma tendência mundial semelhante”, destaca Rafael Willian da Costa, mestre em Ciências Políticas pela UFPA e analista Sênior da Amazon Focos.
Paralelamente, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) registrou um aumento na expectativa de vida, de 45,5 anos em 1940 para 76,8 anos em 2020. “Apesar desse cenário, é notável a falta de atenção dada ao envelhecimento populacional no Brasil, ao contrário de regiões como a Europa”.
Questões previdenciárias e de saúde, antes negligenciadas, agora emergem, segundo Rafael, como temas importantes e impopulares para os candidatos políticos. “Observa-se globalmente que pessoas mais idosas tendem a ter posicionamentos mais conservadores, um fenômeno presente também no Brasil, o que pode gerar resistência a candidatos com propostas consideradas mais progressistas”.
No Brasil o exercício do voto é um dever cívico desde a juventude até a terceira idade. “Embora um voto individual possa parecer insignificante, o conjunto de votos pode influenciar o resultado das eleições. O objetivo é eleger candidatos cujas propostas atendam às necessidades da sociedade. Abster-se do voto é delegar a outros a responsabilidade de escolher representantes, mas votar vai além de depositar um voto na urna; também significa acompanhar o desempenho dos eleitos e cobrar resultados”, observa o cientista político.
Apesar das dificuldades enfrentadas por idosos para comparecer às urnas, o TSE promove campanhas em anos eleitorais para facilitar a votação de pessoas com mobilidade reduzida. Além disso, uma campanha realizada em parceria com o Tribunal Regional Eleitoral do Pará visa incentivar a participação do eleitorado idoso nas eleições, com o slogan “Todo Voto Importa”.
“É importante desmentir as fakenews sobre o cancelamento automático dos títulos eleitorais de maiores de 70 anos que não votaram em eleições anteriores. Os documentos dos idosos continuam válidos, não sendo afetados por essa suposta medida”, alerta Rafael.
Ele ressalta que hoje os idosos estão usando mais a internet, especialmente aplicativos como WhatsApp e Telegram, para se informar sobre os candidatos e discutir assuntos políticos. Mas essa exposição às redes sociais também os deixa mais vulneráveis à manipulação e à propagação de notícias falsas. “Os idosos têm um papel crucial nas eleições brasileiras. Enfrentando os desafios das notícias falsas, podemos garantir que sua participação seja reconhecida e que tenham voz no debate político do país”.