MARCOS GUEDES
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Cássio recusou a oferta de um jogo de despedida, com festa diante dos torcedores no estádio de Itaquera. Após 12 anos e meio, deu adeus ao Corinthians em uma entrevista coletiva no CT do Parque Ecológico do Tietê, na tarde de sábado (18), na qual repetiu quase incontavelmente as construções “dever cumprido” e “muito tranquilo”.
Incomodado sobretudo com as críticas nas redes sociais a respeito de seu desempenho declinante, o goleiro de 36 anos pediu à diretoria para rescindir seu contrato, que tinha término previsto para dezembro. Atendido, recebeu homenagens e a promessa da confecção de um busto com suas feições no Parque São Jorge, o que lhe deixou convicto de que não está partindo de maneira pouco honrosa.
“Honestamente, com todas as festas, homenagens, não tenho dúvida de que saio pela porta da frente. Não é a situação que muitas pessoas imaginavam, mas a gente não consegue controlar o futuro. Saio em paz, feliz, com o dever cumprido. Tenho tranquilidade, porque sempre tentei ajudar o Corinthians de todas as formas”, afirmou.
“Tem esse papo de que todo jogador sai do Corinthians pela porta dos fundos. Mas não teve atrito, foi tudo conversado. O pessoal [da diretoria], claro, defendeu o lado do Corinthians, mais foi tudo muito bacana. Tenho tranquilidade de ser um dos jogadores mais vitoriosos da história do Corinthians e que sai pela porta da frente, não pelo fundo, como falaram”, acrescentou.
O gaúcho vestiu 712 vezes a camisa do clube da zona leste paulistana e foi nove vezes campeão -estão entre esses títulos dois do Campeonato Brasileiro, um da Copa Libertadores e um do Mundial-, mas o último troféu foi erguido há cinco anos. O período mais recente vinha sendo de derrotas e questionamentos, que acabaram minando a força do jogador.
“Os últimos anos foram difíceis, a gente bateu na trave de quase ser rebaixado. Chega um tempo em que as coisas pesam. Eu sou um ser humano”, afirmou, explicando a sensação de esgotamento e o motivo de ter buscado um novo desafio. “Muitas pessoas entendem ou não entendem. Mas eu acho que tudo aconteceu como tinha que acontecer. Então, fico muito tranquilo.”
Cássio preferiu não falar abertamente sobre seu futuro, mas vai se apresentar na próxima semana ao Cruzeiro, clube com o qual vai assinar um contrato de três anos. O Corinthians procurou igualar as condições oferecidas pela agremiação mineira para que o arqueiro renovasse seu compromisso, porém ele estava decidido.
Parte da torcida torceu o nariz, especialmente pela insistência na quebra do contrato. O goleiro respondeu dizendo que desrespeito teria sido permanecer em uma situação na qual não estava confortável -e na reserva. “Acho que a mudança vai prolongar minha carreira, trazer um novo desafio. Aonde eu for eu vou jogar bem, pode ter certeza.”
No Corinthians, Cássio jogou bem, muito bem. Tido como um dos maiores ídolos na história do clube, certamente o maior do século 21, recebeu placas das organizadas Gaviões da Fiel e Camisa 12. Também deixou suas mãos marcadas na calçada da fama no memorial do clube. E vai ser eternizado em bronze.
“É um dia triste para os corintianos, mas faz parte. Só temos a agradecer a uma pessoa fantástica, um grande homem, um grande ídolo. Obrigado, Cássio, por esses 12 anos, pelos títulos maravilhosos. Você vai estar eternamente em nossos corações”, afirmou o presidente Augusto Melo, que assumiu a agremiação em janeiro e a comandará até o fim de 2026.
“Você vai ser lembrado todos os dias por quem entrar neste CT. É um ciclo que se encerra, faz parte da vida. Que você seja muito feliz. O Corinthians vai seguir seu caminho. Você vai sair na minha gestão, mas vai ser na minha gestão que vamos fazer um busto, e você vai ser eternizado no Parque São Jorge”, concluiu o dirigente.
Em suas palavras finais em preto e branco, Cássio demonstrou carinho especial aos funcionários do clube e fez elogios protocolares a Carlos Miguel, que lhe tomou a posição. Em entrevista acompanhada por agora ex-companheiros como Paulinho, recordou defesas históricas e procurou demonstrar serenidade.
“Para muitas pessoas, pode ser um dia triste, mas olho para trás e vejo muitas coisas boas. Saio em paz, porque tentei de todas as maneiras dar o meu melhor em prol do Corinthians”, insistiu. “Creio que algumas pessoas não ficarão felizes, mas me perdoa. Acho que era o momento de seguir o meu caminho. Meu muito obrigado a todos.”