Por Gerson Nogueira
A maldição das ‘panelas’
A ‘panela’ é uma praga que resiste ao tempo e prejudica o futebol. A prática une treinadores e alguns atletas numa espécie de compadrio quase sempre danoso aos clubes. O mal se alastra por todas as divisões nacionais e corrompe de alto a baixo. Envolve até a Seleção Brasileira, cujas convocações passaram a despertar suspeitas desde os anos 90, tendo Carlos Alberto Parreira como peça fundamental nesse processo.
No futebol paraense, a situação atingiu níveis absurdos com o excesso de poder concedido aos técnicos, notadamente os forasteiros. O favorecimento a jogadores de baixa qualidade é o principal sintoma das panelas. Basta observar a insistência na escalação de peças claramente improdutivas.
Às vezes, as próprias diretorias são permissivas com esse desvio de conduta ao permitir que os abusos se perpetuem. Técnicos costumam reivindicar autonomia, mas é comum que essa condição se transforme em exercício de autoritarismo.
Com estruturas frágeis na gestão do futebol, Remo e PSC são useiros e vezeiros nessa prática. São incontáveis os casos de jogadores que ganham a titularidade sem que o futebol apresentado justifique as escolhas.
No Remo, os jogadores saídos da base são as maiores vítimas, ficando sempre em segundo ou terceiro plano, inferiorizados perante reforços importados. É o que se vê na prática quando atletas como Ronald, Kanu, Henrique, Jonilson e Felipinho são deixados de lado, mesmo que sejam tecnicamente superiores.
Ou alguém consegue entender a preferência por João Afonso, Adson e Cachoeira, que ainda não justificaram as contratações? Como a garotada não tem voz, nem padrinho, as injustiças se acentuam. Na rodada passada, Jonilson voltou ao time e atuou muito bem. Ronald só entrou no 2º tempo.
Em alguns casos, nem chega a ser uma ‘panela’ de fato. Muitas vezes, os técnicos preferem por jogadores que têm rodagem, o que necessariamente não garante produtividade quando chegam ao Pará. Como ignoram e menosprezam os nativos, os treinadores apostam tudo nos importados.
No PSC, a situação não é tão diferente. Jogadores oriundos da base não ganham minutagem e nem entram no radar do comando técnico. Tanto é assim que Roger, um atacante promissor, foi cedido por empréstimo ao CSA porque a diretoria entendeu que ele não teria chance na Série B.
Perdem todos quando as ‘panelas’ triunfam. O jogador caseiro não cria raízes no clube e acaba desvalorizado em transações que não levam a nada, enquanto o torcedor é privado de acompanhar um talento formado em casa. Não à toa, muitos jovens desistem por desmotivação absoluta.
Enquanto técnicos tiverem mais poder do que merecem, as injustiças irão prevalecer, sob a indiferença de quem tem o dever de cobrar critérios. Em última análise, o problema não é exclusivo dos treinadores. Coniventes, os dirigentes têm grande responsabilidade pelo descalabro.
Papão sai em busca da primeira vitória
Com um incômodo jejum de vitórias nas cinco rodadas iniciais da Série B, o PSC encara neste sábado o Amazonas, em Manaus. A má campanha se reflete no posicionamento na classificação: o Papão iniciou a 6ª rodada na lanterna da competição, com apenas três pontos.
O desempenho diante do Goiás foi razoável e fez crer num início de recuperação. A entrada de Juninho e Esli García como titulares contribuiu muito para o crescimento do time em termos de organização e ofensividade.
Até Nicolas se beneficiou da estrutura mais leve e ágil no meio-de-campo. Menos isolado, ele teve sua melhor atuação na Série B deste ano e marcou o primeiro gol. Diante do Amazonas, hoje, a expectativa é que o sistema seja mantido, com as mesmas peças utilizadas no meio e no ataque.
Bola na Torre
Guilherme Guerreiro comanda o programa, a partir das 22h, na RBATV, com as participações de Giuseppe Tommaso e Valmir Rodrigues. Em pauta, a atuação dos times paraenses na rodada do Brasileiro. A edição é de Lourdes Cezar.
Uma breve pausa
A partir desta segunda-feira, 20, a coluna entra em recesso por 15 dias para recarregar baterias e dar uma folga aos intrépidos leitores.
Leão busca reduzir erros para superar o Tombense
O Remo vive uma situação curiosa. Conquistou a primeira vitória e, em tese, deveria estar cercado de projeções otimistas. Ocorre que, insatisfeito com a atuação contra o Floresta, o torcedor cobra organização, ações criativas e intensidade.
Tudo isso o time chegou a apresentar na Copa Verde e nos clássicos com o PSC, mas repentinamente perdeu entrosamento e agora busca se reencontrar na competição. Gustavo Morínigo admite que as atuações não inspiram confiança. E aí mora o perigo.
Inquieto e hesitante, o técnico vive modificando a equipe, como se estivesse tateando no escuro. Escalou um time contra o Volta Redonda, outro diante do Athletic, mexeu contra o Botafogo-PB e voltou a mudar a formação frente ao Floresta.
É provável que continue testando escalações, mas deveria atentar para as dificuldades impostas pela forma de disputa da Série C, que não permite redirecionar a rota. Depois do Tombense, restarão 14 partidas ao Remo, sete delas em Belém. Não há mais espaço para o erro.