Diego Monteiro
A equipe do DIÁRIO conversou com moradores do bairro do Icuí, em Ananindeua, após uma forte ventania que atingiu a comunidade Guerreiros de Jeová, na tarde desta segunda-feira, 13. O fenômeno climático provocou destelhamentos em 49 residências, de acordo com informações da Prefeitura do município, por meio das Secretarias de Assistência Social, Habitação e Urbanismo, e a Defesa Civil.
Nesta terça-feira, 14, moradores da rua João Batista – uma das mais afetadas – organizaram uma força-tarefa para realizar reparos nas casas atingidas. Uma cena frequente, por exemplo, era a de trabalhadores amontoando destroços, carregando telhas ou na parte superior dos imóveis, para garantir o conserto do telhado para evitar que as novas chuvas estragassem o que sobrou.
Rita Pinto da Silva, 57 anos, perdeu quase metade da cobertura devido aos ventos fortes. “Notei que o clima estava fechado, as nuvens estavam escuras”, recorda. “De repente, veio a ventania e quando olhei, vi pedaços de madeira e telhado voando para todos os lados. Foi nesse momento que perdi o meu teto. O barulho era ensurdecedor. Pensei que perderia minha casa”, relata a autônoma.
A “chuva de telhas e madeiras”, como os moradores denominam o evento, causou danos além das moradias. Alguns veículos estacionados na região foram atingidos pelos destroços. O resultado: lataria amassada e parabrisas estilhaçados. Com menos de dois meses de uso, o automóvel do Carlos Sampaio, 47, foi atingido e precisou ser levado para trocar o parabrisa.
“Por um momento até pensei em tirar o meu carro, mas quando eu vi telhas e pedaço de madeira caindo fiquei com medo de ser atingido e deixei lá. Graças a Deus foi apenas esse o meu prejuízo e pelo que eu sei, ninguém ficou ferido. Agora é esperar o serviço para poder voltar a trabalhar, já que eu uso esse bem para poder gerar rendimento para o meu sustento e da família”, explica Carlos.
Depois do susto, veio a preocupação: “Como vou reparar o teto da minha casa?”, questionou Rosa Oliveira, 55. Contudo, assim como a autônoma, todos os moradores estão recebendo apoio do programa municipal “Morar Bem” para realizar os reparos nas residências, incluindo fornecimento de telhas, caixas d’água, portas, janelas e madeiras, entre outros materiais.
O pastor auxiliar Paulo Ferreira, 31, relata que é a primeira vez que testemunha esse tipo de situação. “Nossa igreja perdeu parte significativa do telhado, e nossas atividades estão suspensas. Porém, recebemos muitas ajudas e em breve tudo voltará ao normal. Nossa comunidade é unida e conseguimos reverter rapidamente essa situação triste das vidas e nas casas dos moradores”, afirma.
Meteorologia
Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia no Pará (Inmet/PA), os ventos podem ter chegado a 100 quilômetros por hora, velocidade suficiente para destelhar as casas, além de ter deixado o bairro sem energia. “Desta forma surgiram pequenos redemoinhos com capacidade para comprometer algumas estruturas”, afirma o meteorologista Adriróseo dos Santos, que também é coordenador do Inmet.
De acordo com o representante do Inmet/PA, trata-se de um evento gerado pela umidade vinda do oceano Atlântico, que favorece a formação de nuvens carregadas, uma das principais causas das condições climáticas mais severas em áreas isoladas no Estado, caracterizando o período menos chuvoso que a região Norte está entrando, conhecido também como verão amazônico.
O meteorologista ressalta ainda que o aquecimento global pode ser um importante motor para eventos climáticos mais extremos. “A presença do vapor d’água na atmosfera e os fortes ventos geram uma distribuição irregular dessa chuva, principalmente pelos danos em nossa atmosfera. Resultado: um acúmulo, que na maioria das vezes, cai em forma de pancadas de chuva”, enfatiza Adriróseo.