SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar recuava frente ao real nesta sexta-feira (10), com investidores realizando lucros após salto na véspera. Às 9h08, o dólar à vista caía 0,18%, a R$ 5,1337 na venda.
Queda acontece em momento que mercados continuavam de olho na política monetária do Fed (Federal Reserve, banco central dos Estados Unidos) e nas divisões dentro da diretoria do Banco Central.
Na quinta (9), o dólar fechou em alta de 1,03% e chegou a R$ 5,143 na venda.
O Ibovespa, por sua vez, caiu 1,00%, a 128.188,38 pontos, com investidores repercutindo balanços corporativos e a decisão dividida pela desaceleração do ritmo de corte da taxa Selic.
O Banco Central decidiu cortar a Selic em 0,25 ponto percentual, a 10,50% ao ano, interrompendo uma sequência de seis reduções seguidas de 0,50 ponto percentual e abandonando a indicação sobre o futuro dos juros básicos.
O corte, porém, levantou preocupações sobre mudanças no perfil do colegiado, com o Copom (Comitê de Política Monetária) também destacando em seu comunicado cenários internacional e doméstico incertos.
Segundo participantes do mercado, o que mais pesou foi a divisão na decisão, que, para muitos, revela viés político na autarquia.
De acordo com o comunicado do Copom, a redução de 0,25 ponto foi apoiada pelo presidente Roberto Campos Neto e os diretores Carolina Barros, Diogo Guillen, Otávio Damaso e Renato Gomes. Indicados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Ailton de Aquino, Gabriel Galípolo, Paulo Picchetti e Rodrigo Teixeira votaram por corte maior, de 0,50 ponto percentual.
Pesa ainda a decisão de Galípolo, antes número 2 de Fernando Haddad, ministro da Fazenda, e hoje apontado como o favorito para ser o próximo presidente do BC. No final deste ano, Lula deverá indicar um novo presidente e mais dois diretores, conforme os mandatos de Campos Neto, Carolina Barros e Otávio Damaso se aproximam do fim.
Com Galípolo de um lado e Campos Neto de outro, a análise é que a votação pode ter sinalizado “como será a política monetária do próximo mandato”, avalia José Márcio Camargo, economista-chefe da Genial Investimentos.
Para Alfredo Menezes, sócio da gestora Armor Capital, o fato de todos os indicados pelo governo terem votado por maior flexibilização monetária ainda “pode passar uma percepção de que o novo BC em janeiro será muito influenciado pelo Poder Executivo”.
A percepção de que o BC pode se tornar mais leniente com a inflação a partir de 2025, quando os dirigentes indicados por Lula se tornarem maioria na autarquia, fez as taxas de juros de longo prazo dispararem na tarde desta quinta.
A taxa para janeiro de 2027 bateu 10,88%, ante 10,809%, enquanto a taxa para janeiro de 2028 marcou 11,205%, ante 11,094%. O contrato para janeiro de 2031 ficou em 11,68%, ante 11,511%.
“Na ponta curta, quem controla e quem dita é o BC. E se o mercado entende ou teme que o BC irá, de alguma forma, utilizar uma taxa de juros que não será sustentável para perseguir seu mandato, realmente ele vai demandar mais prêmios para as taxas mais longas. É a dinâmica que está acontecendo hoje”, comentou Daniel Cunha, estrategista-chefe da BGC Liquidez.
“A divisão no Copom de alguma forma pegou os investidores com alguma surpresa e abriu margem para interpretações negativas quanto a desdobramentos de possíveis cenários à frente.”
O cenário, somado a uma série de balanços corporativos que decepcionaram investidores, levou à Bolsa a operar no campo negativo por toda a quinta-feira. Vale e Petrobras, as empresas de maior peso no Ibovespa, avançaram, o que conteve parte da pressão sobre o índice, mas não conseguiu inverter o sinal.