EDUARDO CUCOLO E NATHALIA GARCIA
SÃO PAULO, SP, E BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central decidiu nesta quarta-feira (8) mudar o ritmo de corte da taxa básica de juros (Selic).
Depois de promover seis reduções consecutivas de 0,50 ponto percentual, a diretoria do BC anunciou uma queda de 0,25 ponto percentual na taxa, que passou de 10,75% para 10,50% ao ano.
A decisão veio em linha com a expectativa de vários economistas, mas a visão do BC não era unanimidade no mercado.
A maior cautela do Copom também vem a contragosto do governo Lula Inácio Lula da Silva (PT), que defende uma queda mais rápida dos juros no país.
O corte de 0,25 ponto percentual era a projeção de 22 dos 33 analistas consultados pela Bloomberg. No relatório Focus, a mediana das estimativas também era um corte para 10,50% ao ano.
Sondagem da XP Investimentos apontava que 55% dos 92 investidores institucionais consultados acreditavam no corte de 0,25 ponto, enquanto 45% esperavam manutenção do ritmo de 0,50 ponto.
Na última reunião do comitê, em 20 de março, o colegiado sinalizou que poderia haver mais um corte da mesma intensidade. Houve, no entanto, mudança no discurso de vários integrantes do BC nas últimas semanas.
Um fator determinante foi a piora no cenário internacional, com o banco central dos EUA, o Federal Reserve, sinalizando que os juros vão demorar mais a cair por lá.
O mercado estava confiante com uma desaceleração da inflação americana, mas o índice de preços tem se mostrado mais resiliente que o esperado.
Por aqui, a inflação passada melhorou, mas as expectativas para o futuro pioraram. O mercado de trabalho continuou forte, e o governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) mudou a meta fiscal de 2025, sinalizando mais gastos.
Há também incertezas ligadas a eventos climáticos, como a questão das enchentes na Região Sul.
Esses fatores também contribuíram para a piora em alguns indicadores domésticos. A expectativa de inflação para 2025 teve ligeira alta, as taxas de juros de mercado subiram e o câmbio depreciou, em um linha com o que ocorreu com outras moedas em relação ao dólar.
A moeda americana estava em R$ 4,96 na última reunião do Copom, chegou a bater em R$ 5,27, mas recuou para R$ 5,14 nesta semana.
Em relatório desta semana, a consultoria LCA afirmou que a redução recente nas tensões externas, que se refletiu inclusive nesse recuo parcial do dólar, permitiria ao Copom manter o ritmo de corte dos juros em 0,50 ponto percentual em maio.
Sérgio Goldenstein, estrategista-chefe Warren Investimentos, afirmou considerar essa reunião do Copom como uma das difíceis dos últimos anos, pois havia bons argumentos tanto para um corte de 0,50 quanto de 0,25 ponto –ele projetava um corte maior.
Em sua análise pré-Copom, o Santander afirmou que a recente virada nos discursos de alguns membros do Copom apontava para uma desaceleração no ritmo de corte dos juros, com a possibilidade de uma votação dividida.
O banco C6 também projetava um corte menor, citando as preocupações do BC com a mudança no cenário internacional, as expectativas de inflação e os riscos fiscais.
Para Hudson Bessa, especialista em mercado financeiro da Fipecafi (Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras), os sinais de que as taxas de juros americanas permanecerão altas por mais tempo do que o estimado elevam o piso até o qual a taxa brasileira pode cair.
O ciclo de flexibilização da Selic teve início em agosto do ano passado e, desde então, foram seis reduções seguidas de mesma intensidade (0,5 ponto percentual). O novo corte, agora de 0,25 ponto, levou a taxa básica ao menor patamar desde fevereiro de 2022, quando estava fixada em 9,25% ao ano.
A meta de inflação definida pelo CMN (Conselho Monetário Nacional) e perseguida pelo BC neste e nos próximos anos é de 3%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. Isso significa que o objetivo é considerado cumprido se oscilar entre 1,5% (piso) e 4,5% (teto).
O último boletim Focus divulgado pelo BC mostra que a projeção de inflação para 2025 –que hoje tem maior peso na determinação do nível da Selic por causa da defasagem dos efeitos da política monetária na economia– voltou a subir, passando a 3,64%.
A inflação está em 3,93% nos 12 meses encerrados em março.
O Copom volta a se reunir nos dias 18 e 19 de junho para recalibrar o patamar da taxa básica de juros.