Leão tenta corrigir a rota
O Remo deu início, ontem, ao processo de depuração do elenco formado para a disputa do Brasileiro da Série C. Mandou embora (ainda falta rescindir os contratos) cinco jogadores – Nathan, Echaporã, Ícaro, Renato Alves e Sillas – e analisa despachar mais gente nos próximos dias. É uma tentativa, um tanto tardia, de corrigir a rota dentro da competição.
Diante da sequência de derrotas, a diretoria do clube não poderia se manter alheia ao que vem ocorrendo em campo. As dispensas são o primeiro ato prático depois que o time perdeu o Campeonato Paraense e foi eliminado da Copa Verde. A Série C tem sido um desastre completo até agora, mas ainda há remédio.
As providências precisam, porém, ser cirúrgicas e certeiras para que oportunizem o efeito prático desejado. A essa altura, o que interessa é fazer com que o time adquira capacidade competitiva e reaja de imediato. Após três derrotas, é forçoso começar a vencer.
Restam 16 rodadas e o Remo precisa de, pelo menos, 22 pontos para evitar o rebaixamento à Série D. Serão oito partidas em casa. O primeiro adversário será o Floresta-CE, no próximo domingo. Tornou-se, pelas circunstâncias, uma autêntica decisão de campeonato para os azulinos.
As mudanças anunciadas ontem afetam três setores da equipe: dois defensores (Ícaro e Nathan), um volante (Renato Alves) e dois atacantes (Sillas e Echaporã). Curiosamente, quase todos eram frequentemente escalados pelo técnico Gustavo Morínigo. Apenas Renato Alves era oficialmente um reserva.
De certa forma, as dispensas revelam insatisfação não apenas com o desempenho dos atletas, mas com as escolhas de Morínigo. Ícaro, Sillas e Echaporã jogaram contra o Botafogo-PB, repetindo as sofríveis exibições de outras partidas. O técnico aparentemente não atentou para isso.
É espantoso que o treinador continuasse a insistir com as mesmas peças, tendo opções variadas dentro do elenco. Como era sofrível o nível técnico dos dispensados, o time não sofrerá nenhum time de abalo, desde que os substitutos sejam corretamente escolhidos.
Desde o confronto com o Volta Redonda, Morínigo tem demonstrado hesitações e erros graves nas escalações. Opta normalmente por jogadores recém-chegados, ainda sem qualquer entrosamento com os companheiros. Fez isso contra o Voltaço e o Remo foi derrotado.
Diante do Athletic, novas mudanças na escalação e outra atuação pavorosa. Finalmente, diante do Botafogo, os erros foram potencializados por sete alterações em relação ao jogo anterior. Não há organização tática que resista a tantas mexidas.
Por tudo isso, é natural que a torcida siga desconfiada em relação ao futuro do Remo na Série C. Além dos problemas individuais, o time sofre nas mãos de um comando que não detecta as melhores alternativas para cada jogo. Poupado desse corte de cabeças inicial, Morínigo sabe que corre riscos já a partir do próximo domingo.
A alternativa natural para corrigir a vulnerabilidade defensiva seria adotar um sistema de marcação mais forte, utilizando um volante ou dois no meio-campo. No formato atual, sem volantes, o Remo fica excessivamente frágil e sem força para sair da defesa para o ataque.
Paralisar o Brasileiro ou adiar jogos: novo dilema da CBF
A tragédia climática que assola o Rio Grande do Sul deixou a CBF contra a parede: ou paralisa o Campeonato Brasileiro ou apenas adia jogos que envolvam times gaúchos. Oficialmente, a segunda alternativa prevaleceu. As partidas de Grêmio, Inter e Juventude estão suspensas até 27 de maio.
Os clubes gaúchos reivindicam a paralisação da competição, em função das enchentes que estão causando alagamentos até na capital, Porto Alegre, e desalojando milhares de famílias no Estado, além de resultar na morte de uma centena de pessoas, até ontem.
O regulamento do Campeonato Brasileiro não respalda a paralisação em face de uma tragédia ambiental. Não há, no Regulamento Geral das Competições (RGC) da CBF, previsão de suspensão ou paralisação do torneio por força de problemas climáticos.
Apesar disso, a CBF tem poderes para interromper o campeonato se assim julgar necessário. A rubrica “por motivo de força maior” não especifica motivos para uma decisão mais drástica, mas também não impede.
Uma saída poderia ser o remanejamento de jogos, realocando para as semanas ou meses seguintes, o que na prática equivaleria a uma paralisação. Um jeito disfarçado de paralisar sem paralisar oficialmente.
Os clubes e patrocinadores divergem a respeito, mas o simples adiamento de algumas partidas pode ter consequências sérias a médio prazo. Como a tabela será bastante alterada, isso pode implicar em desequilíbrio técnico, afetando todos os participantes.
Caso a situação no Rio Grande do Sul se agrave nos próximos dias, é pouco provável que o futebol não seja afetado. O próprio clamor nacional e a ampla mobilização em defesa do povo gaúcho irão pressionar a CBF a tomar uma decisão definitiva.
Errata: a taça certa, o craque errado
Uma correção: a foto publicada na coluna de segunda-feira é do jogador Haroldo Maués, um dos destaques da seleção paraense vice-campeã no Brasileiro de Basquete Juvenil de 1965, disputado em Belém. Ele segura o troféu, que misteriosamente sumiu e ninguém consegue encontrar.
No texto, mencionei que Nelson Maués era o atleta com a taça. Na verdade, quem ostentava o troféu era o irmão dele, Haroldo, capitão do time. Lapso do escriba baionense. Ambos eram excelentes jogadores de basquete, entre os melhores de sua geração, reverenciados até os dias de hoje.