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Após 78 mortes no RS, governo Lula fala em plano para evitar tragédias

Lula esteve neste domingo no Rio Grande do Sul. Foto: Ricardo Stuckert
Lula esteve neste domingo no Rio Grande do Sul. Foto: Ricardo Stuckert

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O Rio Grande do Sul chegou, neste domingo (5), à marca de 78 mortes em decorrência das fortes chuvas que atingiram a região ao longo da semana passada. Em meio à pior tragédia climática já vista no estado, com todos os serviços básicos afetados, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que vai destravar obstáculos da burocracia para garantir o socorro às vítimas e prometeu ações de longo prazo.

As enchentes afetaram o acesso a saúde básica, a água potável, a energia elétrica, a telefonia, e os efeitos da chuva bloquearam algumas das principais rodovias gaúchas. O boletim do governo estadual diz que há 844.673 pessoas afetadas pela tragédia e danos em 341 municípios, o que representa mais da metade do estado.

Além disso, a operação de 110 hospitais foi afetada, entre eles, 17 tiveram de suspender os atendimentos a pacientes, e 75 funcionavam apenas parcialmente, segundo a última atualização do governo estadual.

As mortes confirmadas mais do que dobrou em relação à última sexta-feira (3). Entre elas, porém, há quatro mortes em investigação para determinar se, de fato, foram causadas pelas chuvas.

Em viagem ao Rio Grande do Sul pela segunda vez em uma semana, o presidente Lula prometeu neste domingo a criação de um “plano de prevenção de acidente climático”.
“É preciso que a gente pare de correr atrás da desgraça. É preciso que a gente veja com antecedência o que pode acontecer de desgraça”, afirmou o presidente. O plano de prevenção, segundo Lula, deverá ser desenvolvido ministra Marina Silva (Meio Ambiente).

MADRUGADA TEVE CHUVA E ROTINA INTENSA DE RESGATES
O presidente desembarcou na base aérea de Canoas (a 20 km de Porto Alegre) na manhã deste domingo acompanhado de uma comitiva de ministros e sobrevoou municípios da região metropolitana. Horas antes, durante a madrugada, equipes de resgate trabalharam sem parar na busca por vítimas na cidade.

Moradores de Canoas fizeram um cordão humano dentro da água para auxiliar as embarcações que a todo momento chegavam com pessoas resgatadas das áreas inundadas. A chuva voltou a cair na Grande Porto Alegre e em municípios da região norte do estado durante a madrugada deste domingo.

O governador Eduardo Leite (PSDB), que acompanhou a visita de Lula, afirmou que os impactos das chuvas e enchentes trazem reflexos em cadeia para o estado, na distribuição de suprimentos e no colapso de serviços. São mais de cem pontos de bloqueio terrestre no estado, e o aeroporto de Porto Alegre está com atividades paralisadas.

Segundo Leite, serão necessárias diversas medidas para reconstrução do Rio Grande do Sul em um cenário de “pós-guerra”, incluindo linhas de crédito, planos de recuperação para a agricultura e medidas ambientais para recuperação de locais degradados.

As medidas, disse o governador, serão necessárias para auxiliar na reconstrução de um estado que ainda não se recuperou das enchentes de setembro e novembro do ano passado. “São dez eventos climáticos extremos em menos de um ano”, disse o governador.

O número de mortos pode aumentar ainda mais nos próximos dias, pois há um total de 105 desaparecidos, além de 175 feridos. De acordo com a Defesa Civil, há 18.487 desabrigados, instalados em alojamentos cedidos pelo poder público, e 115.844 desalojados.

Segundo o governo federal, mais de 20 mil pessoas foram resgatadas nas ações de socorro. A operação integrada de resgate envolve mais de mil profissionais das Forças Armadas, bombeiros, policiais e agentes da Defesa Civil de vários estados e municípios.
O desabastecimento de água afetava mais de 854 mil imóveis, ou 27% de todos os endereços atendidos pela empresa Corsan, e 424 mil domicílios estavam sem energia elétrica.

A situação é ainda pior na capital, Porto Alegre: 70% da população da cidade enfrenta desabastecimento de água, segundo o prefeito Sebastião Melo (MDB), após o rio Guaíba atingir 5,3 metros, o maior nível em sua história.

Para tentar reduzir o consumo de água, Melo pediu aos moradores da capital gaúcha que tenham casas no litoral que deixem a cidade por alguns dias. O trajeto da capital até as praias, no entanto, só pode ser feito pela RS-040, por Viamão, já que há interdições nas saídas da zona norte da cidade.

Os temporais ainda afeta o serviço de telefonia em várias cidades do estado. Neste domigo, a TIM informava que 34 municípios estavam sem serviços de telefonia e internet na manhã de domingo. O problema atingia a Vivo em 40 cidades, e a Claro em 24 municípios.

As aulas foram suspensas nas 2.338 escolas da rede estadual e quase 200 mil alunos foram impactados. Um total de 278 escolas tiveram sua estrutura danificada pela chuva.

Em todo o estado, os temporais também provocaram também danos e alterações no tráfego nas rodovias estaduais gaúchas. Segundo a última atualização, na noite deste domingo, eram 110 trechos em 61 delas, com bloqueios totais e parciais, entre estradas e pontes. Sete rodovias com bloqueios foram liberadas ao longo do sábado.

Segundo o governo gaúcho, duas barragens estavam em situação de emergência, com risco iminente de romperem.

Uma delas é a usina hidrelétrica 14 de Julho, entre os municípios de Cotiporã e Bento Gonçalves, que teve um rompimento parcial na última sexta-feira (3). Além disso, a barragem de São Miguel, também em Bento Gonçalves, estava em situação semelhante.

Outras cinco barragens no estado estavam em nível de alerta, que ocorre quando “as anomalias representam risco à segurança da barragem, exigindo providências para manutenção das condições de segurança”.

As chuvas que devastaram cidades do Rio Grande do Sul também chegaram a Santa Catarina e ao Paraná, causando outras três mortes.