Carol Menezes
Pode ser extremamente desafiador garantir à crianças e adolescentes um espaço de escuta e acolhimento no ambiente familiar para assuntos considerados delicados ou complexos – sentimentos, relacionamentos, doenças, luto e tantos outros que parecem de difícil compreensão para pessoas de tão pouca idade, mas que com acesso à internet, acabam muito cedo sendo expostos a eles, e nem sempre da forma mais adequada.
Enquanto há quem espere o alcance de uma idade mínima para conversar sobre determinados temas, há quem tome a equivocada decisão de ignorar. Para especialistas da área da Psicologia e da Psicopedagogia, é fundamental observar e acompanhar o comportamento da criança e do adolescente, para então verificar a melhor forma de abrir esse lugar de diálogo.
Psicóloga hospitalar da Santa Casa do Pará e atual presidente do Conselho Regional de Psicologia 10ª Região Pará – Amapá (CRP 10), Jureuda Guerra avalia ser mais cabível ficar atento aos interesses manifestados pela criança ou pelo adolescente, e então se preparar para uma abordagem. “É bom estar aberto a responder perguntas, abrir esse espaço, que não necessariamente vai acontecer em determinada faixa etária”, orienta ela.
“À medida que os filhos vão amadurecendo é importante se preparar para alguns tipos de conversa, buscar ler sobre determinados assuntos, ouvir podcasts, ouvir especialistas. Não é bom entrar no assunto com falas do tipo ‘no meu tempo não era assim’, ou baseadas em achismo, fundamentalismo religioso, especialmente quando o assunto é relacionamento, dizer que determinada coisa é errada ou que é pecado, isso nunca funciona e nem funcionou. Crianças e adolescentes têm suas opiniões, que precisam ser respeitadas”, reforça.
NEGATIVOS
A profissional também recomenda o cuidado com o uso de exemplos e vivências possivelmente negativas na hora desse tipo de conversa. “A perspectiva de ‘dono da verdade’ na hora da abordagem também pode não ser o melhor caminho, por isso é importante observar o desenvolvimento, estar aberto para ouvir opiniões, e se achar que não tem preparo para isso, recorrer mesmo a um mediador que fique neutro, nem de um lado nem de um outro”, aconselha Jureuda.
Para a assistente social, pedagoga e psicopedagoga Maria da Penha Bastos, esse “momento ideal” para conversas sobre temas mais complexos pode variar de acordo com o desenvolvimento emocional e cognitivo de cada criança e adolescente. No entanto, em geral, é indicado iniciar essas conversas de forma gradual e adaptada à idade. Fundamental ainda que os pais e/ou responsáveis estejam presentes e disponíveis para dialogar com seus filhos, tirar dúvidas, orientar e oferecer o apoio necessário. Além disso, é importante acompanhar e monitorar o uso da internet, garantindo um ambiente seguro e saudável para o pleno desenvolvimento da criança e do adolescente.
“Temas complexos e polêmicos podem despertar emoções intensas e levantar questões delicadas, por isso é essencial estar preparado para lidar com possíveis reações e questionamentos das crianças e adolescentes, para garantir um diálogo saudável, acolhedor e construtivo. Antes de iniciar a conversa, é importante refletir sobre a forma como o tema será abordado, garantindo que a linguagem utilizada seja adequada e a informação apresentada de forma clara e objetiva à idade e desenvolvimento emocional e cognitivo da criança e do adolescente”, justifica a educadora.
Ela também propõe que tanto as experiências positivas quanto as negativas devem ser abordadas de maneira sensível, sempre levando em consideração a idade, maturidade e contexto individual de cada um. “A comunicação e a escuta atenta são fundamentais para ajudar a criança e adolescente a lidarem e superarem as experiências, principalmente quando são negativas. Essas experiências podem servir como aprendizados e incentivos para o enfrentamento de desafios futuros”, finaliza Bastos.