Wal Sarges
A vida e a obra de Manoel Cordeiro ganharão as telas no filme “Luz do Mundo”, dirigido pelo cineasta paraense San Marcelo. Junto com o longa, o músico pretende lançar um livro, em novembro, nas comemorações de seus 70 anos.
Com quatro décadas na cena artística paraense, Manoel Cordeiro é um dos nomes consagrados da guitarrada. É pioneiro em ritmos como a lambada e o brega, além de atuar como produtor musical e arranjador. Ele gravou centenas de discos ao longo de sua carreira, com grandes nomes, como Beto Barbosa, Warilou, Fafá de Belém, entre outros.
Essa celebração em filme e livro veio como uma forma de ressaltar a beleza da vida. Manoel Cordeiro escapou da Covid-19 de forma traumática, no final do ano de 2020, após ter evoluído a um quadro gravíssimo da doença. “Eu tive parada cardíaca, AVC isquêmico, embolia pulmonar. Eu saí do hospital depois de 17 dias entubado, 45 dias de UTI [Unidade de Terapia Intensiva], saí em uma cadeira de rodas, achando que não ia mais acontecer nada, e então rolou. Eu tive de fazer muita fisioterapia e sessões de fonoaudiologia para falar. Penso que é uma felicidade poder contar essa história e dizer para a juventude de hoje o que eu fiz no decorrer da minha carreira pela música”, destaca.
“Eu sou um entusiasta da música da Amazônia. Coincidiu que, no ano passado, eu participei de um evento internacional, em que pude falar da COP-30, da importância da Amazônia através da música”, diz Cordeiro, que esteve entre os artistas que se apresentaram em setembro no festival Pororoca, no Central Park, em Nova York. “A minha música, mesmo sendo popular, eu a construí com um viés cultural que é muito mais forte. Eu quero chegar no ano que vem e fazer esse lançamento do livro. E quando todos os holofotes estiverem ligados em Belém, que eu possa falar da Amazônia enquanto protagonista da nossa própria história. É um momento emblemático”, considera.
PARA SEMPRE
O artista anda rejuvenescido por tantos projetos. E pela troca com novas gerações. “Tem músicas que eu produzi há 30, 40 anos, e as pessoas dançam quadrilha com elas. O que está no passado está posto e hoje eu estou em plena atividade, trabalhando e produzindo disco com um parceiro da Bahia, o Beto Barreto. Estou voltando a produzir com o maior ‘tesão’ do mundo, fazendo a produção de duas cantoras grandes da cena, que são a Layse, carismática e que tem um poder, e a Camila Honda, que gosta de música. Sinto que é um novo na minha vida”, diz, contando que pretende parar mais em casa, em Belém, este ano, porque atualmente faz a ponte aérea Belém/São Paulo incansavelmente.
Manoel Cordeiro conta que hoje está bem de saúde, fazendo caminhadas – inclusive, durante a entrevista, estava no Parque Villa Lobo, em São Paulo. “Estou muito bem, me preparando para fazer esse longa, onde eu quero contar a história toda, porque tem um viés da Música Popular Brasileira feita no Pará, da qual eu me sinto muito cúmplice, muito dentro e muito ligado, até na formatação. Quero que as pessoas entendam o processo de como foi nessa história de lambada, brega, boi, essa coisa mais popular. Às vezes as pessoas não têm informação do que está acontecendo, então é legal essa abordagem histórica da música, porque se você não conhece a sua história, você não se sabe para onde ir. Fazer um longa, nessa altura da minha vida é, de novo, um presente de Deus”, acredita.
A história de Manoel Cordeiro como protagonista de um projeto audiovisual começou no ano passado, com o minidoc de mesmo nome, também dirigido por San Marcelo, mas os dois sentiram que tinham que contar o resto da história, porque a abordagem inicial, segundo Cordeiro, foi muito sintética.
“A gente fez aquela síntese e nós convidamos para o minidoc artistas importantes, com os quais eu tenho alguma relação forte, como o Pinduca. Eu produzi um disco dele e depois a gente foi indicado ao Grammy em 2016”, destaca o músico, citando ainda Dona Onete, Eloi Iglesias e o filho Felipe Cordeiro, relembrando quando ainda era um bebê e o pai tinha que levá-lo para o estúdio para ficar com ele.
Manoel Cordeiro tem uma vasta atuação no Norte. Nascido em Ponta de Pedras, no Marajó, cresceu em Macapá e depois veio para Belém, aos 19 anos. “É muito louca essa diferença entres os estados. O Amapá é muito voltado para o afro. Já em Belém, a gente tem uma referência europeia, ligada ao Caribe. No momento que a gente aprender a potencializar isso, que é uma coisa ‘tsunâmica’ para a cultura, e gerar sustentação, para a gente ter um movimento artístico-musical capaz de sustentar o artista, estúdios, casas noturnas, isso desenvolve a economia a partir do turismo cultural. A hora é essa, o mundo vai se ligar na gente. A nossa música é extremamente potente e capaz”, projeta Manoel Cordeiro.