Com a cor bordô, maio é o mês de combate à cefaleia, distúrbio neurológico mais prevalente do mundo, que atinge 190 milhões de pessoas por ano, variando entre dor de cabeça tensional e enxaqueca, segundo estudo global publicado no The Journal of the American Medical Association2. Em mulheres, o problema é três vezes mais predominante,1 sendo a condição mais incapacitante entre as jovens3 com idade entre 15 e 49 anos, período da vida em que enfrentam os maiores desafios por estarem em idade reprodutiva e com foco no crescimento relacionado à carreira.
A neurologista especialista em cefaleia, Eliana Melhado, liderou o estudo Headache classification and aspects of reproductive life in young women, com 422 estudantes universitárias, cujo resultado apontou que a grande maioria delas tem cefaleia (79%), sendo 31,8% enxaqueca menstrual4, a forma mais incapacitante desse tipo de condição5. “Para se ter uma ideia, mais de 80% das mulheres com enxaqueca têm uma redução nas atividades sociais e domésticas e 45% delas relatam limitação no trabalho em períodos de crises, que na fase menstrual costumam ser mais longas e graves5”, explica, e completa: “os episódios dependem da variação dos níveis hormonais, e a preparação do corpo para a menstruação é um gatilho para as crises6, já que o cérebro é sensível à subida de estrogênio no organismo e, quando há a queda, a dor é desencadeada”.
A médica, que é parceira da Libbs Farmacêutica, conta que a enxaqueca é uma doença genética neurológica séria, cujo tratamento deve ser individualizado e realizado por um especialista, pois a automedicação é um grande risco para o desenvolvimento de uma cefaleia crônica por uso excessivo de medicação. “O tratamento é baseado no tripé manejo da crise, tratamento preventivo e terapias complementares. Praticar atividades físicas por pelo menos 150 minutos por semana diminui as crises pela metade. Ioga, acupuntura e fisioterapia também são estratégias que podem ajudar”, recomenda ela. A especialista também pontua que a continuidade do tratamento por pelo menos seis meses, mesmo após a fase aguda da dor ter passado, é o autocuidado necessário para melhorar a qualidade de vida das pacientes. “Ter uma dieta saudável e cuidar da saúde mental tem um papel decisivo nos resultados.”
5 mitos e verdades sobre a enxaqueca em mulheres:
1 – Depressão e ansiedade estão relacionadas com a enxaqueca.
Verdade. A enxaqueca é uma comorbidade de várias situações de saúde como asma, fibromialgia, endometriose e acidente vascular cerebral (AVC). Nesse sentido, pode ser uma condição associada também a questões psicológicas como estresse, depressão, ansiedade, transtorno bipolar e transtorno de personalidade. A neurologista conta que pessoas com enxaqueca têm de três a quatro vezes mais depressão e vice-versa. Por isso é importante o acompanhamento de uma equipe multidisciplinar no tratamento. Fazer acompanhamento psicológico melhora a condição do paciente”.
2 – Jejum, cheiro e estresse desencadeiam as crises.
Verdade. Não se alimentar por longos períodos é um dos principais desencadeadores da enxaqueca, chegando à marca de 70% de casos. Já 20% dos pacientes com o problema relatam outros fatores que, de forma subjetiva, podem desencadear as crises, como alimentos específicos, cheiros, exposição à luz, barulho. “Cada caso de paciente é único e devemos tratar o cérebro de forma individual”, explica a dra. Eliana.
3 – As mudanças hormonais pioram a enxaqueca.
Verdade. Diferentemente dos homens, ao longo da vida as mulheres têm grandes oscilações de níveis hormonais, que começam na puberdade e se alteram na gravidez e na menopausa e isso tem impacto direto na relação com a enxaqueca. Para se ter uma ideia, a prevalência da dor de cabeça a partir da primeira menstruação é de 33%, condição que tem cerca de 40% de melhora com o uso de anticoncepcionais6.
4 – Enxaqueca piora na gravidez.
Mito. A pesquisa Management of primary headaches during pregnancy, postpartum, and breastfeeding, publicada no Headache Journal, apontou que 1/5 das mulheres evitou a gravidez por causa da enxaqueca e uma das principais preocupações é o medo da piora dos sintomas durante a gestação7. Em contrapartida ao que se supõe pelo senso comum, a dor de cabeça pré-existente melhora ou desaparece em 55% a 90% das mulheres durante a gravidez8-9, segundo estudo do mesmo órgão, liderado por Eliana, principalmente a partir do 2º trimestre6.
Vale pontuar que, após o parto, período denominado puerpério, há uma queda rápida de estrogênio, o que pode resultar no aparecimento da enxaqueca6. Para ambos os casos, gravidez ou puerpério, é importante entender que a enxaqueca tem tratamento. Além de existirem tabelas de segurança de medicamentos, outras abordagens são ainda mais importantes, como diminuição do ritmo de trabalho e ioga.
5 – A menopausa intensifica as dores de cabeça.
Mito. Com a chegada da menopausa é comum que haja o desaparecimento dos sintomas da enxaqueca na maioria dos casos6. Quando a dor permanece mesmo após essa fase da vida, a reposição hormonal pode ser uma aliada, pois 64% dos casos melhoram ou desaparecem com a terapêutica10, segundo a pesquisa Migraine, menopause and hormone replacement therapy, publicada no periódico científico Post Reproductive Health Journal.
*Parágrafos não referenciados correspondem à opinião e/ou prática clínica da médica.
Sobre a Libbs
A Libbs, farmacêutica 100% brasileira com 65 anos de história, opera na área de sistema nervoso central (SNC) há mais de 25 anos, com 14 marcas e 60 apresentações e é líder em seu mercado de atuação. A área busca ser o elo entre o conhecimento científico e a compreensão do indivíduo. Entende a importância da saúde mental, olha além da doença, acolhe o paciente por meio de seus programas “Falar Pode Mudar Tudo”, “Alzheimer Se Trata”, “Enxaqueca Não” e “Te Vejo por Inteiro” e contribui com a ampliação do conhecimento científico para a comunidade médica, fortalecendo, assim, a conexão com o médico, sempre com um olhar atento para o paciente.
Referências
1 Victor TW, Hu X, Campbell JC, Buse DC, Lipton RB. Migraine prevalence by age and sex in the United States: a life-span study. Cephalalgia. 2010;30 (9):1065–72. https://doi.org/10.1177/ 0333102409355601.
2 GBD 2017 US Neurological Disorders Collaborators. Burden of Neurological Disorders Across the US From 1990-2017 A Global Burden of Disease Study. JAMA Neurol. 2021;78(2):165-176. doi:10.1001/jamaneurol.2020.4152 Published online November 2, 2020
3 Steiner TJ, Stovner LJ, Jensen R, Uluduz D, Katsarava Z. Lifting The Burden: the Global Campaign against Headache. Migraine remains second among the world’s causes of disability, and first among young women: findings from GBD2019. J Headache Pain. 2020;21(1):137. https://doi.org/10.1186/ s10194-020-01208-0.
4 Melhado, E.M., Bigal, M. et al. Headache classification and aspects of reproductive life in young women. Arq Neuropsiquiatr 2014;72(1):17-23
5 Warnock JK. Et al. Hormone-related Migraine Headaches and mood Disorders: Treatment with Estrogen Stabilization. Pharmacotherapy 2017 Jan;37(1):120-128. doi: 10.1002/phar.1876. Epub 2017 Jan 6
6 Melhado EM. Cefaleia Na Mulher. Atheneu 2011
7 Ian J. Saldanha; Wangnan Cao; Monika Reddy Bhuma et al. Management of primary headaches during pregnancy, postpartum, and breastfeeding: A systematic review. Headache. 2021;00:1–33. DOI: 10.1111/head.14041
8 Melhado E.M.; Maciel JA; Guerreiro CA. Headaches during pregnancy in women with a prior history of menstrual headaches. Arq Neuropsiquiatr;63(4):934-40, 2005 Dec.
9 Melhado E.M.; Maciel JA; Guerreiro CA. Headache during gestation: evaluation of 1101 women. Can J Neurol Sci;34(2):187-92, 2007 May
10 E Anne MacGregor. Migraine, menopause and hormone replacement therapy. Post Reproductive Health. Vol 24, Issue 1, 2018 -11-18. Link