Texto: Wal Sarges
Rostos personalizados e histórias contadas por aplicativos de inteligência artificial fazem parte de uma realidade que antes só existia em roteiros de filmes, porém passaram a fazer sentido nesta geração. “Iaia Quebrada – A Pérfida da Jângal” é o nome do novo projeto do performer e cenógrafo Nando Lima, que vincula imagens produzidas em programas de computador a um novo universo que seria a Amazônia do futuro. “Antes que você morra” é o título do primeiro episódio da performance/instalação, que será apresentada hoje, 30, às 21h, em live no Instagram @nandolimaq.
Com uma veia ligada à arte em múltiplas linguagens, Nando Lima tem uma atuação voltada ao teatro, com estreita relação com a performance, a dramaturgia, a direção de espetáculo e a concepção de cenografia e de figurino. Também são áreas de seu interesse, as artes visuais e o audiovisual. “Desde o final da década de 1980, fiz meu primeiro trabalho com vídeos. Então, sempre misturei teatro, vídeo e performance nos meus trabalhos”, conta.
“‘Iaia Quebrada – A Pérfida da Jângal’ é uma brincadeira com essa questão da Inteligência Artificial e de tudo o que está emergindo neste momento, mas busco também refletir sobre como isso tudo é incerto ainda. E que, na verdade, ninguém sabe onde vai dar essas interações com aplicativos e ideias que estão convergindo para essa área da IA, que há 30 anos vem sendo pensada, mas que explodiu nos últimos anos”, diz Nando Lima.
Com concepção e condução de Nando Lima, o primeiro episódio de “Iaia Quebrada” traz Danilo Bracchi, Dudu Lobato e Renan Rosário como performers, com visual criado pelo estilista Maurity Fernandes. A produção teve ainda a colaboração dos artistas e pesquisadores Tadeu Lobato, John Fletcher e Alexandre Sequeira.
A narrativa apresentada em “Iaia Quebrada” traz uma leitura sobre a Amazônia, imaginada no ano de 2227, num cenário trágico do ponto de vista ecológico e econômico, onde os interesses corporativos passam a dominar quase todos os aspectos da vida. Uma megacorporação, conhecida como “ADE-Amazonian Dark Earths”, é a principal administradora pública da região. O que antes era uma floresta exuberante, agora se torna um território controlado e explorado em nome do lucro.
De um lado, estão os executivos, que são os novos senhores da selva e controlam não apenas a exploração de recursos naturais, mas também todos os aspectos da vida dos habitantes da região; e de outro, estão indígenas, ativistas e alguns dissidentes. Este grupo, os defensores da liberdade e da natureza, são os que resistem, sonhando com um futuro em que a selva possa florescer novamente, livre das garras do controle corporativo.
Nessa perspectiva, o artista propõe reflexões sobre qual Amazônia teremos no futuro, trazendo uma crítica que conduz a narrativa, e que se reflete nos desastres ecológicos que existem na nossa região. A ideia é de que é preciso olhar para essas questões sem romantizá-las. “O mundo não vai ser menos complexo, a tendência que a gente vive é essa. Tenho 61 anos e acho que sou parte da última geração analógica. A gente vive coisas que não tinha e passaram a existir”, considera.
Nando Lima conta que o projeto vem sendo gestado há alguns anos, a partir das suas vivências e observações. “Nasci e vivo aqui, então, todo o meu trabalho vem carregado dessas questões de Belém e arredores. Os primeiros textos que eu fiz para construir esse projeto foram feitos em 2012 e 2013, com alguns detalhes desses personagens que foram criados, mas ainda não se falava de Inteligência Artificial como se fala hoje. Ainda assim, os textos já traziam uma forte reflexão sobre esse lugar que projetamos enquanto amazônidas”, descreve Nando Lima, que pretende também usar o projeto para aproximar as pessoas de seu estúdio Reator, seu espaço de pesquisa.
NÃO PERCA
“Iaia Quebrada – A Pérfida do Jangal” – 1ºEpisódio – Antes que Você Morra
Quando: Hoje, 30, às 21h.
Onde: Live no Instagram @nandolimaq
Quanto: Gratuito