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Quem foi Anderson Leonardo, vocalista do Molejo

Anderson Leonardo morreu nesta sexta-feira, aos 51 anos.
Anderson Leonardo morreu nesta sexta-feira, aos 51 anos.

RIO (AG) – Filho do produtor Bira Haway – que, como técnico de som do Estúdio Haway, na região carioca da Central do Brasil, gravou nos anos 1970 discos de Jamelão, Elza Soares, Fagner, Alcione, Fafá de Belém, Novos Baianos e Belchior, além de LPs de escolas de samba -, Anderson Leonardo nasceu e foi criado no bairro da Abolição, Zona Norte do Rio, onde viveu cercado pelo samba. Um de seus melhores amigos de infância era Andrezinho, filho de Mestre André, que foi diretor de bateria da Mocidade Independente de Padre Miguel e é o inventor das célebres paradinhas. Os dois meninos fizeram shows folclóricos no exterior, nos quais tocavam músicas de capoeira e apresentavam acrobacias com o pandeiro.

No fim dos anos 1980, Bira Haway montou o Molejo como uma banda de baile – que mais tarde se tornaria um dos grupos mais irreverentes e famosos do pagode. No começo dos anos 1990, o vocalista e cavaquinista Anderson e Andrezinho (surdo e vocal) assumiram a banda e se juntaram a Claumirzinho (pandeiro e vocal), Lúcio Nascimento (percussão e vocal), Robson Calazans (percussão e vocal) e Jimmy Batera (bateria). Orientados por Bira (que mais tarde produziria, além do Molejo, grupos como Revelação, Exaltasamba e Pixote), eles misturaram o samba-pop bem-humorado dos Originais do Samba com as inovações introduzidas no samba de raiz pelo grupo Fundo de Quintal.

Em 1994, o Molejo lançou seu primeiro LP, “Grupo Molejo”, que estourou com o samba-rock “Caçamba”. Os discos seguintes trariam “Paparico”, o hit “Brincadeira de criança” e a também famosa “Dança da vassoura” (“diga aonde você vai/ que eu vou varrendo”).

E o maior dos sucessos, que cunharia uma expressão popular, ainda viria, em 1996, com “Cilada”, samba feito por Delcio Luiz e Ronaldo Barcellos durante um pileque em São Paulo (“inocente, apaixonado, eu estava crente que ia viver uma história de amor/ não era amor, não era, era cilada”). Sem jeito, Delcio apresentou a composição a Anderson num almoço de Natal. “Eu nunca largo prato de comida, e larguei pra bater palmas pra eles”, contou o cantor no programa “Faustão da Band”: “Essa música é tão legal que até Lady Gaga deu uma moral.”

Ele se referia, de forma brincalhona, ao fato de que, em setembro de 2016, logo após a cantora americana ter lançado o single “Perfect illusion”, fãs terem apontado nas redes sociais semelhanças entre a canção e “Cilada”. A brincadeira impulsionou as buscas pelas músicas do Molejo no Spotify, que cresceu 102% em apenas um dia. Logo depois, Lady Gaga fez referência no Facebook ao samba do Molejo para promover o seu álbum “Joanne”.

Com isso, uma nova geração descobriu o grupo (e o celebrou com memes e camisetas que diziam “Molejo maior que Beatles”), então, após seis anos sem lançar um disco de inéditas, eles anunciaram o álbum “Molejo Club”, antecipado pela música “Fofoca é lixo”. Logo depois, foi anunciado que Andrezinho, que havia saído em 2009, voltaria ao grupo.

Para sublinhar a alegria dos sambas, era fundamental a presença de Anderson, com seu riso largo, sua voz rouca e uma dentição muito particular – que ele optou por corrigir em 2015.

Anderson também teve passagens polêmicas em sua vida. Ele enfrentou, inclusive, uma acusação de ter estuprado um fã. Na ocasião, o vocalista falou publicamente sobre sua bissexualidade e, no depoimento à polícia, disse estar sendo vítima de chantagens do jovem. Ao final, a Justiça indeferiu o processo, afirmando que o sexo foi consensual.

Anderson Leonardo morreu nesta sexta-feira, aos 51 anos. O músico estava internado na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) do Hospital Unimed, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio, com um câncer inguinal raro, na região da virilha, contra o qual lutava desde 2022.

O perfil oficial de seu grupo divulgou uma nota:

“Nosso guerreiro ANDERSON LEONARDO lutou bravamente, mas infelizmente foi vencido pelo câncer, mas será sempre lembrado por toda família, amigos e sua imensa legião de fãs, por sua genialidade, força e pelo amor aos palcos e ao MOLEJO. Sua presença e alegria eram uma luz que iluminava a vida de todos ao seu redor, e sua falta será profundamente sentida e jamais esquecida, nós te amamos.”

Artistas e colegas exaltaram o talento de Anderson Leonardo também como cavaquinista e ainda seu conhecimento musical. Nas redes sociais, o cantor Péricles lamentou: “Que tristeza? Deus o receba em sua glória”. Buchecha, que fazia dupla com Claudinho, relembrou momentos importantes ao lado do colega. “Sim , vou postar fotos nossas, em momentos de alegria e zoeira, pois assim você sempre foi, eu lembrarei de cada futebol, de cada gastação e resenhas sobre o Flamengo que era uma das suas paixões, amigo, você vai deixar uma lacuna nos corações dos brasileiros, vá com Deus, descanse em paz”, escreveu o cantor no Instagram.

A dançarina Carla Perez, Compadre Washington, ambos conhecidos pelo sucesso no grupo É o Tchan!, e o marido da dançarina, o cantor Xanddy, também estão entre os que lamentaram a perda de Anderson.

“Que o nosso querido amigo e amado Anderson descanse em paz. Nunca esqueceremos da própria alegria em forma de gente”, escreveu Carla Perez. Xanddy também destacou a contagiante alegria do vocalista do Molejão: “Que Deus o receba, meu amigo. Alegra esse céu aí porque aqui a saudade já está doendo.” Compadre Washington, que permanece no É o Tchan!, disse que recebeu a notícia com muito pesar: “Ícone do pagode brasileiro, criador dos hits ‘Dança da vassoura’ e ‘Garoto Zona Sul’, seu legado ecoará por gerações!”

Anderson Leonardo deixa quatro filhos: Leozinho Bradock, Alissa, Rafael Phelipe e Alice, a mais nova, de apenas 4 anos, de seu relacionamento, desde 2012, com Paula Cardoso. Mestre de bateria da escola de samba Lins Imperial, do Rio, Leozinho Bradock publicou mensagem em rede social com uma foto sua, quando pequeno, nos braços do pai: “Tô no teu colo hoje, sempre, e pra sempre. Essa é a minha sensação.”