JR Avelar
Nesta quinta-feira (25) completam dezessete anos do duplo homicídio que chocou o Estado do Pará pela forma cruel e sanguinária como foi devidamente planejado para que fosse o “crime perfeito” e segundo o inquérito policial teve até ensaio meticulosamente executado para que nada desse errado.
Os irmãos Ubiraci e Uraquitã Borges Novelino foram apanhados de surpresa em uma armadilha, planejada pelo empresário João Batista Ferreira Bastos, conhecido na área social e política da época como “Chico Ferreira”, em parceria com o radialista Luiz Araújo.
Os empresários vítimas da armadilha tiveram as mãos presas para trás por algemas, amordaçados e encapuzados, e depois espancados e estrangulados com mangueiras de borracha dentro da empresa Service Brasil do empresário “Chico Ferreira” no bairro de Batista Campos tendo como executores o ex-policial civil Sebastião Cardias Alves e o ex-fuzileiro naval José Augusto Marroquim de Sousa.
Certificados que os empresários estavam mortos eles foram colocados em tambores metálicos e atirados na baía de Guajará a uma profundidade de dezessete metros atados por correntes de ferro, uma âncora e a um peso de concreto fabricado em casa no centro comercial de Belém.
SERIA PERFEITO, MAS…
O crime era visto pelos seus planejadores como “perfeito” e segundo as investigações da época o pai das vítimas, o empresário Ubiratan Lessa Novelino, sentiu a falta dos filhos que tinham uma rotina de contato várias vezes no dia e naquele 25 de abril de 2007 sumiram. Apenas se sabia que eles teriam ido a uma reunião onde tratariam de débitos contraídos pelo empresário Chico Ferreira.
A investigação mostrou que os irmãos esperavam resolver um impasse criado com Chico Ferreira, sobre uma dívida que já estaria na casa dos quatro milhões de reais e antes mesmo de começar a suposta reunião planejada por Chico os irmãos acabaram encontrando a morte.
Tudo girava em torno de vários cheques que representavam parte da dívida de Ferreira que vinha sendo protelada e que neste dia seria a devida quitação desde que os irmãos empresários levassem os cheques que acabaram roubados no evento criminoso dando assim a perfeita quitação.
A reunião foi marcada para uma sala da empresa Service Brasil, que naquele dia teve uma alteração estranha. Todos os funcionários da empresa foram avisados de que o expediente encerraria uma hora mais cedo e que os irmãos teriam que chegar em um carro que não fosse o comumente utilizado por eles para não chamar atenção.
Tudo devidamente planejado e o grupo criminoso após o sumiço dos empresários chegaram até a colaborar com o trabalho até que a “casa começou a cair” quando os delegados Gilvandro Furtado, Sérvulo Cabral e Evandro Bradock chegaram a ponta do “fio da meada” começando a desvendar o crime até então “considerado perfeito”.
Foram presos o barqueiro que levou os toneis para jogar na baia do Guajará com os corpos dos empresários e no dia seguinte o desmonte de um carro no sítio do radialista Luiz Araújo no distrito do Murinin levou a polícia a prendê-lo uma vez que o carro, um Corola preto, era o mesmo que os irmãos emprestaram para irem se encontrar com Chico Ferreira.
Logo o “encaixe” das peças de jogo foram se ajustando e o empresário Chico Ferreira com crises de ansiedade por conta do noticiário buscou atendimento em uma clínica no bairro de Nazaré onde acabou preso.
No dia seguinte com o cerco fechado um os executores dos empresários o ex-policial Sebastião Cardias Alves se apresentou na sede na DRCO, acompanhado do juiz Paulo Jussara e a Polícia Civil com uma rede de informantes 24h prendeu já em Fortaleza o ex-fuzileiro naval José Augusto Marroquim de Sousa que já tinha deixado Belém.
Restavam os corpos, uma vez que a defesa dos suspeitos alegava que “sem corpo não há crime”. No entanto, as evidências como o sangue dos irmãos no chão da empresa Service Brasil aliado a uma imagem de câmera de segurança mantinham a polícia no caminho certo.
CORPOS ENCONTRADOS
Já no dia 7 de maio de 2007 após uma semana de intensa procura os corpos dos empresários Ubiraci e Uraquitã Borges Novelino foram encontrados após uma força tarefa que incluiu, mergulhadores especiais, Capitania dos Portos, Marinha do Brasil, Corpo de Bombeiros, Polícia Militar e Polícia Civil.
Seis meses depois começava uma nova batalha nos tribunais. Pelo menos quatro sessões de julgamentos históricos presididos pelo juiz Raimundo Moisés Alves Flexa tendo na acusação o promotor Paulo Godinho foram realizados com direito a desmembramento de ações judiciais e anulação de julgamento até que finalmente em dia histórico no ano de 2018 saiu a sentença final.
O empresário João Batista Ferreira Bastos, o radialista Luiz Araújo, o ex-policial civil Sebastião Cardias Alves e o ex-fuzileiro naval José Augusto Marroquim de Sousa foram condenados em regime fechado em presídio de segurança máxima a 80 anos de reclusão.
Dos quatro assassinos, um já morreu na cadeia
Logo após a sentença ser lida pelo juiz que presidiu a sessão de julgamento dos quatro homens envolvidos nas mortes dos irmãos Novelino, eles foram levados direto do Fórum Criminal para os presídios designados.
Para a unidade de segurança máxima em Americano foram encarcerados João Batista Ferreira Bastos o “Chico Ferreira”, Luiz Araújo, e José Augusto Marroquim de Sousa, enquanto Sebastião Cardias Alves por ser ex-policial foi encarcerado no presídio Anastácio das Neves designado para servidores e ex-servidores públicos.
Dos quatro condenados, o ex-radialista Luiz Araújo morreu por complicações de saúde quando cumpria pena em uma penitenciária de segurança máxima em Campo Grande, no Mato Grosso, em 2010.
O ex-policial civil Sebastião Cardias Alves que cumpria pena no presídio Anastácio das Neves morreu em janeiro de 2023 em um hospital por problemas de saúde.
O ex-fuzileiro naval José Augusto Marroquim de Sousa mantém uma rotina desde que chegou na cadeia cumprindo pena no Presídio Estadual Metropolitano I em Americano.
João Batista Ferreira Bastos atualmente se encontra em prisão domiciliar por 180 dias desde o dia 10 de abril determinado pela justiça para tratamento de saúde.