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Salve o livro! Um dia de quem gosta de abrir páginas para refletir ou sonhar

Ana Laura Costa

Neste Dia Mundial do Livro (23), data que visa incentivar o hábito da leitura, homenagear autores e refletir sobre seus direitos legais, bibliotecas públicas e livrarias de rua mostram que, apesar das novas tecnologias, os acervos encontrados nas prateleiras físicas possuem leitores ávidos e fiéis.

A Livraria Ifá, localizada na travessa Barão do Triunfo, no bairro do Marco, em Belém, é um bom exemplo. Quem entra na livraria se depara com um rico acervo de livros que abordam ciências humanas e sociais, questões étnico-raciais e de gênero, cultura e literatura negra, assim como feminismo e meio ambiente.

De acordo com o proprietário Juarez Coqueiro, a livraria tornou-se referência para o público acadêmico. “O grande acervo da livraria é formado por essas temáticas, dos mais recentes aos clássicos. Nem sempre foi assim, no entanto, após um tempo a livraria assumiu essa característica”, pontua.

Para Davison Rocha, professor de pedagogia da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa), 35 anos, e um dos clientes assíduos da livraria, o espaço é como se fosse uma parada obrigatória: sempre visita ao chegar na capital paraense. Segundo ele, a diversidade de livros com a temática étnico-racial, é o que lhe chama atenção no lugar.

Além disso, o professor pontua que, em tempos de inteligência artificial e leituras rápidas rolando a tela de um celular, tablet ou computador, frequentar espaços como a Ifá, que dispõe de livros que se aprofundam sobre os temas, é importante.

“Estamos numa época em que todo mundo está conectado, on-line, e a gente acaba tendo leituras rápidas, fáceis, sem o aprofundamento necessário. Então, acho que em livrarias como essa, a gente encontra esse aprofundamento teórico. E os livros que adquiri aqui, compartilho com meus orientandos e alunos, porque o prazer da leitura é esse: dialogar com os outros”, disse.

E para que acervos específicos como o da Livraria Ifá continuem de portas abertas para o acesso ao conhecimento, Juarez Coqueiro, destaca a necessidade de pensar programas que incentivem a leitura, a criação de mais bibliotecas e pontos de cultura. “É necessário fomentar o mercado local, as livrarias locais, pensar em subsídios para as livrarias existentes para que possam continuar possibilitando o acesso à leitura, a compra de livros e um acervo de qualidade”, comenta.

BIBLIOTECA

Gerações de estudantes e leitores paraenses também já passaram horas a fio estudando ou escolhendo o livro, dessa vez entre as prateleiras da Biblioteca Pública Arthur Vianna (BPAV), do Centro Cultural e Turístico Tancredo Neves (Centur), situada no bairro de Nazaré.

De acordo com a bibliotecária Simone Rabelo, em média, cerca de 400 pessoas circulam diariamente no espaço. Rabelo destaca que a biblioteca pública, com 153 anos de atividade, continua demonstrando ser um espaço democrático e acrescenta que o avanço da tecnologia não interfere em nada a sua visitação. “Você encontra de dona de casa a graduando, mestrando ou doutorando usando o espaço. É um universo, uma comunidade de pessoas que vêm estudar, emprestar um livro, acessar a internet pelos computadores. Uma variedade de perfis de leitores imensa”, afirma.

Ainda de acordo com Simone Rabelo, “A menina dos olhos” na biblioteca é o acervo histórico, onde pode-se encontrar obras raras e a sessão de jornais raros do século XVIII. “Sobre os jornais raros, o público-alvo são os pesquisadores, em sua maioria pesquisadores, mestrandos e doutorandos. Nós temos eles (jornais raros) micro filmados, porque os jornais antigos, se manusear muito, começa a ficar quebradiço. Diariamente muitas pessoas vêm fazer essa pesquisa”, disse.

A estudante Luê Amaral, 18, diz que é visitante assídua porque o espaço proporciona um ambiente tranquilo para a leitura e os estudos. Moradora do bairro Cremação, Luê conta que está se preparando para o vestibular militar e aos poucos vem retomando o hábito da leitura. Dos gêneros, contos são seus preferidos. “Aqui tem um acervo muito interessante, muita coisa mesmo. E venho reconstruindo esse gosto pela leitura, pois senti necessidade. E não há melhor lugar para isso”, ressalta.

PROJETO

BIBLIOTECA

l Em alusão ao Dia Mundial do Livro, nesta terça-feira (23), o projeto “Literatura Para Gente Miúda”, da Biblioteca Arthur Vianna, vai desenvolver várias atividades lúdicas de promoção à leitura junto a estudantes de Escolas Públicas. O projeto é realizado semanalmente às terças e quintas-feira, de 9h30 às 11h e, no período da tarde, 14h às 15h.

Fotos: Wagner Almeida / Diário do Pará.
Simone Rabelo trabalha na biblioteca Arthur Vianna, que recebe cerca de 400 visitas por dia
Juarez Coqueiro