RIO (AG) – Após três dias de abandono no Instituto Médico-Legal (IML), o corpo de Paulo Roberto Braga, de 68 anos, será enterrado neste sábado no Cemitério de Campo Grande, na Zona Oeste. O idoso teve a morte atestada por uma equipe do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) na última terça-feira dentro de uma agência bancária, aonde tinha sido levado pela sobrinha Érika de Souza Vieira Nunes, de 42 anos, para assinar um empréstimo de R$ 17 mil. Solteiro e sem filhos, só nesta sexta-feira um parente apresentou documentos à prefeitura solicitando o sepultamento social, sem custos para a família. O pedido foi assinado por uma irmã de Érika, que está presa por vilipêndio a cadáver e furto mediante fraude.
A polícia ainda não conseguiu traçar um perfil do idoso já que não esteve na casa dele, nem localizou qualquer conhecido ou parente, além de Érika e da irmã dela. O delegado Fábio Souza, titular da 34ª DP (Bangu), diz não ter dúvidas de que o idoso já estava morto quando chegou ao banco numa cadeira de rodas empurrada por Érika.
O passo a passo levantado até agora pelas investigações mostra o sofrimento enfrentado por Paulo Roberto em suas últimas horas de vida. Ele passou uma semana internado com pneumonia e dificuldade de andar e falar na UPA de Bangu. Na segunda-feira, quando recebeu alta, ainda muito debilitado, foi levado duas vezes por Érika – que diz ser cuidadora do tio – a lojas de crédito num shopping. O mesmo aconteceu no dia seguinte.
Morador de uma área de risco em Bangu, Paulo Roberto vivia num quarto improvisado no que era para ser uma garagem. No cômodo de pouco mais de quatro metros quadrados, com o chão de terra batida e sem janela, um colchão velho em cima de caixotes, forrado com um lençol fino, evidencia a situação precária. No local, é possível ver um vaso sanitário com o que parece ser uma colcha em cima, uma pequena escrivaninha e alguns objetos. Um buraco coberto por lona é o único ponto de ventilação do cômodo. O lugar é úmido e tem cheiro de mofo.
Na esquina da rua, um ponto de mototáxi garante certo movimento ao local. Os frequentadores dizem que não era comum ver parentes de Paulo Roberto na casa, mas a rotina do idoso era conhecida. Segundo os vizinhos, ele era um homem solitário, que tinha problemas com bebida e passava dificuldades até para se alimentar. Um mototaxista, que preferiu não se identificar, disse que era comum a vizinhança reunir doações para ajudá-lo.
O laudo de exame de necropsia, feito pelo IML, concluiu que Paulo Roberto morreu entre 11h30 e 14h30 da última terça-feira. O perito escreveu no documento que “não há elementos seguros para afirmar, do ponto de vista técnico e científico, se o Paulo Roberto Braga faleceu no trajeto ou interior da agência bancária, ou que foi levado já cadáver à agência bancária”. O laudo diz ainda que a vítima estava “previamente doente, com necessidades de cuidados especiais”.
O idoso foi levado ao banco por volta das 14h da última terça-feira. Durante a negociação para liberar os R$ 17 mil de empréstimo, funcionários da agência perceberam que o homem estava inerte e pálido, e chamaram o Samu, que constatou o óbito às 15h20.
A causa da morte, segundo o documento, foi broncoaspiração do conteúdo estomacal e falência cardíaca. A polícia, no entanto, aguarda o resultado do exame toxicológico, para saber se o idoso ingeriu alguma substância que tenha provocado a sua morte.
Texto de: Jéssica Marques