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Alok lança álbum no Dia dos Povos Indígenas

Alok mescla suas batidas a cantos entoados por indígenas de oito etnias em seu primeiro álbum. Foto: Divulgação
Alok mescla suas batidas a cantos entoados por indígenas de oito etnias em seu primeiro álbum. Foto: Divulgação

Há quase dez anos, em 2015, Alok saiu de São Paulo e viajou por 28 horas até a aldeia dos indígenas yawanawá, no Acre. Ele sofria de depressão e buscava respostas sobre o sentido da vida. Seis anos depois, o DJ passou por outra crise existencial, se perguntando para onde apontava seu destino.

O futuro é ancestral, foi a resposta que alcançou. Alok transformou isso num mantra e também no título do seu primeiro disco, lançado nesta sexta-feira (19), quando é celebrado o Dia Internacional dos Povos Indígenas. O álbum reúne nove faixas que mesclam as batidas de Alok aos cantos entoados por representantes de oito etnias.

“Como produtor, consigo ser uma plataforma para potencializar as vozes dos indígenas e fazer exatamente o que eles querem. O disco é uma forma de reflorestar as mentes das pessoas e de ressignificar o imaginário coletivo. Quero semear ideias”, diz o músico.

Estão no álbum vozes das tribos huni kuin, kariri xocó, guarani mbyá, xakriabá, guarani-kaiowá, kaingang, guarani nhandewa, além dos yawanawá, que provocaram uma epifania em Alok no passado. “Enquanto eu trabalhava para chegar às paradas de músicas mais tocadas, eles estavam fazendo canções com intenção de curar e levar sua espiritualidade adiante. Perceber isso me transformou.”

É justamente um cântico dos yawanawá que abre o disco. “Sina Yaishu” fala sobre a dedicação da tribo em ligar a ancestralidade às novas gerações. Na faixa seguinte, “Pediju Kunumigwe”, são os guarani nhandewa quem fazem apelo aos jovens, pedindo que se unam por um futuro de paz. Suas vozes ecoam por cima da mixagem de Alok.

Estas e outras faixas do álbum são cantadas nas línguas dos indígenas, desconhecidas da maioria dos brasileiros. O DJ discorda que isso possa tornar o disco cifrado e atrapalhar seu desempenho – o problema para Alok seria forçar os indígenas a traduzir os cânticos para o português.

“Eu criaria uma distância entre eles e o que querem expressar, que é a essência da parada. Como não estou preocupado com a questão mercadológica, fiquei mais próximo das raízes indígenas.”

“O Futuro é Ancestral” de fato tangencia exigências do mercado. Não só pelas línguas pouco conhecidas, mas também porque trata de temas filosóficos e de dores que atravessam grupos específicos. Em nada se parece às composições simples e repetitivas que viralizam hoje em dia, feitas a toque de caixa – e que já integraram o catálogo do próprio Alok no passado.

Não é que ele esteja despreocupado com sucesso ou alheio à indústria pop, mas agora seu anseio é outro. “Estou fazendo músicas que sejam atemporais, não me importa se vão para no top 10 ou não.”

É um movimento arriscado para o primeiro disco de alguém que passou anos colado às tendências, apostando em músicas com forte apelo comercial. Alok explodiu há oito anos, com a faixa “Hear Me Now”, e a partir dali enfileirou hits. Mas nunca se preocupou em fechar álbuns.

“Rapnativo” parece ser a faixa com mais potencial de furar a bolha pela sonoridade próxima ao que figura nas principais playlists de rap das plataformas de streaming. A voz é do rapper Owerá, indígena da tribo guarani mbyá.

Há ainda outra música de rap, com “flow” mais pesado e versos de caráter político entoados pelo grupo Brô MC’s, considerado o primeiro grupo de rap indígena do país. Cantada em guarani, eles fazem uma súplica pela preservação das terras.

Há um recado em português. “A gente grita e ninguém nos ouve/ aprendi a sua língua, não indígena, essa é pra você/ quanta tristeza e pobreza andam lado a lado dentro de um barraco caindo aos pedaços/ passando fome, sem graça, bebendo só água suja, com a roupinha furada.”