Luiza Mello
Inelegível até o ano de 2025, o ex-deputado Wladimir Costa está preso no sistema prisional do Pará. Acusado de cometer crimes de extorsão, violência política de gênero, injúria, difamação, perseguição e violência psicológica contra a mulher (Código Penal Brasileiro o artigo 147-B), ele foi abordado nesta quinta-feira, 18, pela Polícia Federal, no início da manhã, quando desembarcava na capital paraense e encaminhado prontamente ao sistema prisional. A ação aconteceu como desdobramento de investigações solicitadas pela deputada federal Renilce Nicodemos (MDB), vítima de ataques nas redes sociais desferidos pelo ex-parlamentar.
O mandado de prisão, segundo a Justiça Eleitoral, tem como base “prática reiterada” de crimes eleitorais. A prisão é preventiva – sem data para acabar – e foi requerida pela Polícia Federal sob alegação de prática reiterada dos crimes eleitorais de violência política contra a deputada federal Renilce Nicodemos (MDB) pelas redes sociais.
A autora da ação que resultou na prisão de Wladimir encaminhou nota para a redação do DIÁRIO onde relata a violência sofrida por seu ex-aliado: “Há seis meses, venho sendo vítima de toda sorte de crimes por parte do cidadão acima mencionado, motivo pelo qual decidimos defender na Justiça o direito à minha honra, intimidade, condição de mulher e deputada federal do Pará, eleita com 162.208 votos. Com isso, oferecemos Notícia Crime à Justiça Eleitoral, que ensejou a instauração de inquérito na Polícia Federal, que descambou na operação realizada na data de hoje”, afirmou.
Wladimir ficou conhecido por sua postura polêmica e declarações controversas durante o período em que exerceu mandatos políticos. Em dezembro de 2017 foi condenado por unanimidade pelo Tribunal Regional Eleitoral do Pará por abuso de poder econômico e gastos ilícitos na campanha eleitoral de 2014. A decisão determinou a cassação do mandato de Wladimir, além de torná-lo inelegível por oito anos.
Wladimir declarou ter gastado R$ 642.457,48 durante sua campanha para reeleição, mas segundo o MPE, o candidato deixou de declarar R$ 149.950 em despesas de material gráfico, além de mais de R$ 100 mil em despesas efetuadas entre julho e setembro do ano eleitoral de 2014, que não constam na prestação de contas. Ele recorreu da decisão.
Wladimir tem um longo histórico de agressões, polêmicas e escândalos. Durante o processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, em 2016, fingiu ter tatuado o nome do então presidente Michel Temer no ombro. No ano passado, foi condenado por ofensas contra os artistas Wagner Moura, Letícia Sabatella, Sônia Braga e Glória Pires. As ofensas ocorreram em 2017, quando chamou os artistas de “vagabundos”.
Em 2021, foi condenado a pagar danos morais por crime de assédio contra uma jornalista que fazia cobertura política na Câmara dos Deputados, em Brasília. Ao perguntar se o então deputado poderia mostrar a tatuagem feita com o nome “Temer”, em meio à entrevista, sorrindo ele sussurrou para a profissional de imprensa: “para você, só se for de corpo inteiro”. Quando ela insistiu para saber se não era de henna, Wladimir respondeu: “eu tenho várias tatuagens no corpo inteiro, amor”. Outros jornalistas, que acompanhavam a entrevista, reagiram imediatamente em defesa da colega.
R$ 650 MIL EM ESPÉCIE
Em 2013, o DIÁRIO apurou denúncias recebidas sobre a aquisição, por parte do então deputado, de um apartamento de cobertura em um prédio em Copacabana, no Rio de Janeiro, no valor de R$ 2,35 milhão, quando pagou R$ 650 mil usando dinheiro vivo, levado em uma pasta, e conferido dentro do cartório onde esteve para assinar a escritura. A contagem do grande volume de notas foi feita na frente de servidores cartoriais.
O DIÁRIO teve acesso à escritura de compra e venda do imóvel, localizado à rua Xavier da Silveira, nº 28, a poucos metros da Avenida Atlântica, com vista para o mar de Copacabana. Usando passagens emitidas pela Câmara dos Deputados – ou seja, pagas pelo contribuinte brasileiro – Wladimir esteve pessoalmente no Rio de Janeiro, para registrar o documento no Cartório do 14º Ofício de Notas, na Avenida Nossa Senhora de Copacabana, 895.
O ex-deputado viajou para o Rio no dia 7 de agosto de 2013 pela Gol Linhas Aéreas, com o bilhete número B92LHF, saindo de Brasília para o aeroporto Santos Dumont, no valor de R$ 825,03 o trecho. A volta – também paga pela Câmara dos Deputados – se deu pela empresa aérea TAM, bilhete nº 957-2473.679866, no valor de R$ 1.230,57, saindo do aeroporto do Galeão em direção à Belém. O ex-deputado não respondeu sobre a origem do dinheiro em espécie nem sobre o uso de dinheiro público para compra de passagens em viagem para resolver questões particulares.
No final de 2019 a Justiça Federal em Santarém, oeste do Pará, condenou o ex-deputado e o irmão dele, Mário Sérgio da Silva Costa, por improbidade administrativa praticada no Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) quando Mário Sérgio era superintendente local. A ação foi proposta pelo Ministério Público Federal (MPF), depois de apurar que o então superintendente local do Incra usou o órgão para ações de promoção político-pessoal do ex-deputado. Os réus pagaram multa de R$ 30 mil, cada, ao Incra.
No mesmo ano, o Ministério Público Federal pediu o cancelamento da concessão de radiodifusão da Rádio Princesa FM, de Santarém, vinculada aos irmãos Wladimir e Mário Sérgio. Segundo a ação civil pública, fazia parte de um esquema de uso de concessões de terras públicas com fins eleitorais. A investigação apontou várias irregularidades, incluindo o uso de laranjas no quadro societário e transmissões promovendo o político, o que é vedado pela legislação.