Irlaine Nóbrega
O dinheiro em espécie está cada vez menos sendo utilizado no comércio. Isso porque as transações via Pix aumentaram exponencialmente no último ano, ocasionando em um processo de substituição das cédulas pelo pagamento virtual. Entre os vendedores autônomos, os trocados têm rareado, já que os consumidores têm aderido cada vez mais às transações digitais.
Alguns trabalhadores autônomos de Belém têm sentido dificuldade em passar o troco aos clientes, em especial as moedas de R$0,50 e R$1. “A moeda não está mais circulando no nosso meio, o pessoal tem usado mais o Pix. A gente sofre aqui com isso. Ainda conseguimos moeda trocando dinheiro, mas hoje tá difícil até encontrar essas moedas”, diz o vendedor Jackson Moura, de 56 anos.
Por isso, o feirante costuma ter uma carta na manga para não perder o cliente. “Quando a gente não consegue trocar, vendemos mais barato pro cliente. A gente perde uma porcentagem da venda, por outro lado acaba ganhando o cliente. A gente também costuma trocar de um dia pro outro”, conta o pasteleiro.
Os aposentados clientes de Agnaldo Saraiva, 39, são os maiores adeptos do dinheiro em espécie. Para passar o trocado à clientela, que ainda costuma sacar as cédulas, o feirante se prepara nos fins de semana, quando troca o dinheiro.
“Temos dificuldade de trabalhar com dinheiro, fica difícil de passar troco. Ainda mais que a terceira idade que compra mais. Eles saem do banco com notas altas e vem trocar aqui, tem que estar preparado. Quando não consigo trocar com os colegas daqui eu perco a venda”, diz o autônomo.
Idealizado pelo Banco Central do Brasil (Bacen), o sistema de pagamento instantâneo foi implantado em fevereiro de 2020 e logo caiu no gosto dos brasileiros.
Somente em 2023, os brasileiros realizaram quase 42 milhões de transações via Pix, 75% a mais em relação ao ano anterior. Em outubro, o modo de transação bateu recorde com 168 milhões de transações em um único dia.
Essa forma de pagamento é a principal aliada de Rosângela Machado, 35, que atualmente utiliza apenas o Pix no dia a dia. A substituição das cédulas e cartões pelas transações digitais começou ainda em 2020, quando ela percebeu que o novo modelo de transações facilitava a rotina. Com a mudança, ela passou a frequentar somente os lugares que aceitam esse tipo de pagamento.
“A minha vida é no Pix. Eu não uso mais dinheiro, nem cartão, só quando não tem internet, mas isso é difícil. Até no ônibus eu não preciso mais, passo só o vale ou então eu pego Uber. O Pix facilitou bastante, quando vou no supermercado é mais rápido passar o QR Code. Só compro onde tem Pix”, conta a agente de endemias.
Apesar de possuir chave Pix cadastrada, Margareth Mota, 59 anos, não abre mão das cédulas. Por isso, a transação digital é tida apenas como uma reserva de dinheiro e utilizada em momentos específicos. “Eu uso Pix só pra pagar Uber, mas para as compras de casa eu sempre uso dinheiro. Não deixo de ter dinheiro na bolsa, mas tá tão difícil de conseguir troco que acabo fazendo o Pix. E tem muita gente que me passa o troco no Pix. É sempre bom ter dinheiro na mão e uma reserva no Pix”, conclui a técnica em enfermagem.