Rodrigo Salem
FOLHAPRESS / LOS ANGELES, EUA
Quando o Pearl Jam lançou “Ten”, seu o álbum de estreia que se tornou um dos maiores sucessos de venda da era grunge da década de 1990, o grupo fez uma pequena apresentação promocional no Troubadour, lendária casa de shows de Los Angeles, em 1991.
Ao sair do furgão e entrar no local que fez a carreira de nomes como Elton John e Joni Mitchell, o quinteto liderado por Eddie Vedder percebeu todas as paredes envelopadas em rosa para replicar o tom da capa do disco, rasgando-as diante da equipe da gravadora que planejou o cenário.
Trinta e três anos depois, a banda retorna ao mesmo Troubadour com uma atitude menos agressiva e mais madura. “Gostaria de pedir desculpas para todos e agradecer por terem ficado ao nosso lado todo esse tempo”, diz Vedder ao subir ao palco para apresentar “Dark Matter”, 12º álbum de estúdio do Pearl Jam, para uma pequena plateia de convidados especiais que inclui o baterista Chad Smith, do Red Hot Chili Peppers.
“Acho que é o nosso melhor trabalho”, diz o vocalista sobre o primeiro lançamento do grupo desde “Gigaton”, lançado em março de 2020, dias antes do planeta inteiro pausar por causa da pandemia. “Mas vocês podem dizer se estou mentindo.”
Julgar se é o melhor álbum do Pearl Jam é uma tarefa ingrata, mas “Dark Matter”, que será lançado na próxima sexta-feira, dia 19, certamente é o mais pesado do grupo em anos, fruto de um encontro entre a urgência do “Binaural” e a melancolia do “No Code”.
Haverá ainda sessões em vários cinemas do Brasil, nesta terça-feira (16), para que os fãs possam ouvir o disco com antecedência, primeiro apenas frente a uma tela preta, e depois recheada de efeitos visuais para acompanhar as músicas.
Trabalho do jovem Andrew Watt, vencedor do Grammy de melhor produtor, em 2021, e um artista que trafega entre Justin Bieber e Ozzy Osbourne com a mesma desenvoltura e energia -além de ter trabalhado com Vedder anteriormente.
As gravações foram transferidas para o estúdio Shangri-La, em Malibu, do produtor Rick Rubin, depois que a casa de Watt ficou inundada. “Aquele espaço tem uma vibração diferente. Aproveitei o máximo que pude”, lembra Vedder sobre as três semanas de convivência com Watt que “usou um chicote” para extrair a energia do quinteto de Seattle. “Somos adultos, mas ele nos fez alcançar o que queríamos”, diz Vedder.
CANSADOS?
Depois de três décadas juntos – com a exceção do baterista Matt Cameron, que entrou para a banda em 1998 -, o Pearl Jam está longe de soar cansado, mas o seu líder parece incomodado com o passar dos anos. “Ainda estamos procurando maneiras de nos comunicarmos”, diz Vedder, que compara a criação do álbum com a tentativa do surfista e amigo Kelly Slater de encontrar a onda perfeita. “É uma obra da engenhosidade humana. Acho que tem uma relação. Em vez de água, queremos passar emoção e transmitir raiva, tristeza e arrependimento em uma música.”
“Upper Hand”, uma das melhores faixas de “Dark Matter”, é um bom exemplo de como ele encara a juventude cada vez mais longe. A fúria do hard rock do Pearl Jam confronta a letra melancólica que dispara logo na abertura: “A distância para o fim está mais perto que nunca”.
A balada “Something Special”, por sua vez, é uma homenagem à filha adolescente de Vedder, que estava na plateia e dançou com o pai. “Algum dia, você vai se ver no lugar onde estou agora”, canta ele na faixa.
Mas, no geral, o álbum segue a linha dos dois primeiros singles, a faixa-título “Dark Matter” e a punk-pop “Running”, energéticos e joviais. Uma piada de Vedder quase passa despercebida no meio dos seus discursos. “Matt Cameron toca demais, especialmente quando vejo que é nosso último álbum”. Quando percebe algumas vaias e o olhar surpreso de Ament e do guitarrista Mike McCready, o vocalista começa a rir. “Estou brincando.”