Seu bolso

Elas assumiram a missão de cuidar do próprio bolso

Francisca Ponte, 50, pequena empresária. Foto: Wagner Almeida / Diário do Pará.
Francisca Ponte, 50, pequena empresária. Foto: Wagner Almeida / Diário do Pará.

Diego Monteiro

O estudo “A Relevância das Mulheres nas Finanças Brasileiras”, elaborado pela Serasa, revela que 93% das mulheres têm um papel central na economia dos lares brasileiros. Além disso, do total, 32% afirmaram serem as únicas encarregadas de sustentar a família. A pesquisa contou com a participação de 2,1 mil entrevistadas de todas as regiões do país, incluindo o Pará.

A renda financeira provém principalmente do emprego em tempo integral sob o regime CLT. No entanto, 79% delas disseram precisar realizar algum trabalho extra ou informal para complementar a renda. Aquelas que lideram as finanças no núcleo familiar estão na faixa etária dos 30 aos 49 anos, sendo que 32% possuem ensino médio completo, 64% são solteiras e a maioria têm filhos.

Na casa de Andreza Alves, 26 anos, as despesas são compartilhadas com o esposo, englobando gastos relacionados ao cartão, custos com a filha, plano de saúde, entre outros itens. Segundo a vendedora, essa parceria visa evitar sobrecarregar as finanças de ambas as partes, além de garantir economias para futuros projetos de curto e longo prazo.

Para Andreza, essa contribuição financeira é sinônimo de satisfação. “Eu me sinto muito feliz em poder colaborar com meu esposo e assumir responsabilidades de maneira equilibrada e independente algumas vezes. Não desejo passar pelo que minha mãe e tias enfrentaram, dependendo totalmente dos seus maridos para prover o lar ou até mesmo comprar itens pessoais, como roupas ou maquiagem”.

Solange Patrícia, 48, garante que atualmente as mulheres estão mais independentes financeiramente. “Em casa, tudo é dividido, mas por minha escolha. Trabalho desde os 15 anos e sempre entendi a importância de ter minhas próprias coisas, do jeito que eu quero. Ter o próprio dinheiro e assumir as responsabilidades faz bem até para a nossa saúde mental”, explicou a ambulante.

Belém Pará Brasil Cidades. Solange PAtrícia, 48, ambulante. Foto: Wagner Almeida / Diário do Pará.

Protagonistas

Conforme a Serasa, além do trabalho formal, muitas precisaram aceitar extras para complementar a renda principal, sendo a limpeza e o trabalho como revendedora as principais atividades relatadas. Os três primeiros motivos para essas escolhas foram: oportunidade que surgiu (36%); a necessidade de ajudar nas despesas com os filhos (23%); e não ter salário satisfatório (20%).

Relativamente a esse grupo, a pesquisa identificou que 91% estão ou estiveram com o nome negativado. Já as mulheres que contribuem para manter a família, mas não são as principais provedoras, representam 27%, com um perfil não diferente em termos de idade, escolaridade, estado civil, filhos e situação profissional das que são totalmente responsáveis.

Jaqueline Lima, 38, conta que sua participação nas despesas de casa é crucial. Desta forma, a vendedora afirma que consegue se sentir mais valorizada tanto como profissional quanto como pessoa, além de poder participar de forma mais ativa em relação aos projetos e desejos junto com o esposo. “Isso é muito importante para o casal, pois proporciona uma condição melhor para nós e nossos filhos”, disse.

E ao falar de filhos, Jaqueline ressalta que eles são o cerne da discussão quando se trata de dinheiro. “Por causa deles, busco diariamente fazer algo extra, mas sempre com o objetivo de acrescentar à renda. Se colocarmos tudo na ponta do lápis, há muitas despesas: alimentação, contas, metas, educação, saúde, então é um desafio. Tudo para o nosso conforto e conforto deles”, acrescenta.

Quanto à classe social, percebe-se que a maioria divide igualmente a responsabilidade de sustentar a família com outras pessoas (19%) e pertence à classe C. Este grupo é composto principalmente por pessoas casadas sem filhos. Por outro lado, apenas 7% pontuaram não contribuir financeiramente para a família, sendo que 49% dessas mulheres não têm filhos e 60% pertencem às classes D/E.

A empresária Francisca Ponte, 50, conclui ao garantir que a mulher está mais ativa na sociedade. “Antigamente, por uma questão social mesmo, a mulher ficava em casa para cuidar dos filhos. Hoje estamos demonstrando nosso valor, mostrando que temos competência e sabemos atuar no mercado, comprar, vender, tão bem quanto muitos homens. E continuaremos seguindo e crescendo”.

Belém Pará Brasil Cidades. Jaqueline Lima, 38, vendedora. Foto: Wagner Almeida / Diário do Pará.

Crédito

Outro destaque da pesquisa é que alguns dos diversos grupos de mulheres que contribuem ativamente para as finanças familiares já enfrentaram a necessidade de recorrer a crédito, além de problemas de inadimplência. No entanto, na maioria das vezes, as trabalhadoras tiveram seus pedidos negados pelas instituições financeiras. (Ver box)

De acordo com o educador financeiro Haelton Costa, nos últimos anos, a sociedade tem testemunhado uma transformação significativa, especialmente no que diz respeito ao papel das mulheres, que estão cada vez mais presentes e ativas em diversas esferas. Essa mudança é notória desde a década de 80, quando passaram a ingressar de maneira mais expressiva no mercado de trabalho.

Apesar dos desafios ainda existentes no mercado, como disparidades salariais e de ascensão profissional, é possível observar uma tendência crescente de mulheres assumindo papéis de liderança e tomando as rédeas das finanças de seus lares. Esse fenômeno demonstra a capacidade e competência do público feminino em lidar com questões financeiras de forma eficiente e responsável, declara Haelton.

Haelton acrescenta: “É comum hoje em dia vermos mulheres sustentando seus lares e assumindo a responsabilidade da gestão financeira. Esse é um aspecto muito positivo, pois elas estão ocupando os espaços que sempre lhes pertenceram e demonstrando uma habilidade notável na administração dos recursos familiares, que quase sempre, é melhor do que muitos homens”, enfatiza.

Para concluir, Haelton Costa garante que a presença ativa das mulheres na gestão financeira é uma realidade incontestável e que merece ser reconhecida e valorizada. Seja no mercado de trabalho ou no ambiente familiar, elas têm demonstrado uma capacidade ímpar de lidar com os desafios financeiros, contribuindo assim para um futuro mais equitativo e próspero para todos.

Mas para isso, o especialista chama atenção para a educação financeira correta. “Como qualquer outra pessoa, é preciso saber como usar o dinheiro, pois se não souber ‘como, quando e onde gastar’, ou ‘quando poupar’, vai acabar caindo na armadilha da inadimplência. Por isso, o ideal é sempre buscar um profissional que lhe ofereça todas as ferramentas corretas para uma boa gestão”.