Wal Sarges
Promover o diálogo com a população sobre o contágio da Doença de Chagas é essencial para melhorar as taxas de tratamento e cura precoces, juntamente com a interrupção de sua transmissão. Esse é um dos propósitos do evento denominado Expresso Chagas, realizado no último sábado, no Centro de Ciências e Planetário do Pará, em Belém, em alusão ao Dia Mundial da Doença de Chagas, lembrado neste domingo, 14.
O coordenador da ação, Robson Domingues disse que o Expresso Chagas é uma iniciativa de educação pensada em conjunto entre a Universidade do Estado do Pará (Uepa) e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) para disseminar informações sobre a doença de Chagas. “Estamos com uma exposição sobre o barbeiro, para que a população tome conhecimento sobre a doença em si, a prevenção e os encaminhamentos que devem ser feitos, em caso de contágio com a doença. A ação serve também para a pesquisa, a extensão da Universidade envolvendo vários programas de pós-graduação da Fiocruz e da própria Uepa, de ensino na saúde”.
O advogado Wilson Lindbergh, 44, visitou o espaço com a família para fazer uma experiência imersiva. “A gente veio atrás dos planetas e descobriu essa área que trata da Doença de Chagas, que é algo que a gente não conhece muito sobre o assunto. Ele é importante para minha filha de quatro anos, por exemplo, ter conhecimento, saber como lidar nesses momentos, é incrível essa interação”, pontuou.
A Doença de Chagas é causada pelo protozoário Trypanosoma cruzi e a transmissão pode ocorrer em diversas condições. Uma delas é o contato com as fezes de parasitos infectados, após a picada pelo inseto barbeiro. Outra forma muito comum, principalmente na região amazônica, é a ingestão de alimentos contaminados. “A transmissão oral é a de maior prevalência, em especial, na fase aguda. É importante ressaltar que a doença não deixou de existir ao longo do tempo e o Pará é o estado com o maior número de casos no Brasil e os municípios paraenses possuem maior incidência”, afirmou o professor Victor Viana, da Uepa.
O estudioso detalhou que a transmissão oral se dá através de um alimento contaminado, que não foi manipulado de forma correta. “É importante dizer que não é somente o açaí, a fonte alimentar que pode veicular o parasito e causar a doença. Mas, pela falta de higiene no manuseio do açaí, o seu preparo acaba sendo uma das principais fontes alimentares que veiculam o Trypanosoma cruzi e causa a Doença de Chagas”.
Quando se trata do açaí, que faz parte da base alimentar da maior parte da população paraense, é preciso ficar atento às regras de Vigilância Sanitária para consumir o fruto. Nesse caso, é importante verificar pontos de venda de açaí que possuem licença de funcionamento e cumpram com todas as normas de higiene e de boas práticas de manipulação do fruto, como a técnica do branqueamento, armazenamento, adequação e limpeza do estabelecimento, vestuário adequado para a manipulação, entre outros fatores.
Na fase aguda, os principais sintomas da doença são: febre prolongada, com mais de 7 dias, dor de cabeça, fraqueza intensa e inchaço no rosto e pernas. Na fase crônica da doença, uma das principais complicações que podem ocorrer são os problemas cardíacos, as cardiopatias e os problemas digestórios. “O Pará, na sua condição enquanto floresta amazônica, detém inúmeras palmeiras que podem abrigar colônias de barbeiros, mesmo às vezes próximas até de residência. Então se o inseto estiver naquele ambiente, pode entrar em contato com a produção do batedor artesanal do açaí, assim como na colheita do açaí, ou ainda adentrar a casa das pessoas”, alertou Victor Viana.
Segundo Sarah Gomes, técnica em Vigilância em Saúde, Setor de Seção de Chagas/ Belém, o índice de contaminação da doença ocorre, tanto da forma primária, a oral, quanto a parte vetorial, em segunda instância. “Os barbeiros têm adentrado as casas da população urbana de Belém dada a mudança da geografia do local. Não são mais apenas as casas de pau a pique e de madeira, mas o barbeiro encontra ambiente favorável também em apartamentos, casas em condomínio, casas comuns, todo tipo, tanto em áreas da periferia quanto em áreas nobres de Belém. O barbeiro é levado, muitas vezes, por pássaros que circulam dentro de condomínios e de prédios”, destacou.
São, atualmente, 151 espécies de barbeiros no mundo todo, segundo a técnica em vigilância. Dentro da Região Metropolitana de Belém, são 6 espécies, até agora catalogadas pelo município.
Ao sentir os sintomas da Doença de Chagas, a população deve procurar a unidade básica de saúde local, que será direcionada a fazer exames clínicos que detectam tanto a Doença de Chagas quanto a Malária. Em caso de observação do barbeiro em ambiente domiciliar, a pessoa pode fazer uma foto do inseto e enviar a imagem para o número de WhatsApp do Posto de Informação de Triatomíneos (PIT) /Belém pelo contato: (98843-5476 (WhatsApp).