É claro que a gente não espera que um filme chamado “Godzilla e Kong – O Novo Império” seja um clássico do cinema, mas o mínimo de coerência do roteiro, para fazer jus à qualidade do trabalho técnico, já seria de bom grado. Principalmente depois de um excelente exemplar do lagarto gigante, em “Godzilla Minus One”, que inclusive ganhou pela primeira vez um Oscar, o de Efeitos Especiais.
Infelizmente, chega a ser um pouco constrangedor como que a história de mais um capítulo americano da série de monstros da Legendary Pictures apela para uma série de incoerências e diálogos ruins para chegar em um ponto da saga de monstros (feito em parceria com a Warner) onde o absurdo não encontra mais verossimilhança em canto nenhum. É mundo dentro de mundo, dentro de outro mundo. Uma “matrioska” de lugares dentro do pobre do planeta Terra. Além, claro, das diversas soluções fáceis e imediatas que os roteiristas (o veterano Terry Rossio entre eles) encontram para resolver problemas simples.
Isso não seria problema se nós conseguíssemos entender, um mínimo que seja, do fio narrativo que conduz a história. Mas nem isso. É uma sequência de situações confusas e desconectadas, que deixam o espectador perdido no meio de uma mitologia sem sentido, envolvendo civilizações antigas e pirâmides, e a gente só querendo ver justificativa para brigas de monstros.
Que, por sinal, são a melhor coisa aqui. Enquanto o elenco humano principal só serve para narrar o que acontece em tela e correr para todo lado (Rebecca Hall, Brian Tyree Henry e Dan Stevens precisando pagar os boletos), o embate entre as criaturas funciona, tanto em funcionalidade, design e, principalmente, em efeitos especiais, o que já é um alento para quem pagou o ingresso do cinema. Sobrou até para a praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, destruída na luta final entre os titãs.
Mesmo que seja bacana ver esse tipo de cena na tela grande, a suspensão de descrença desaparece pela falta de urgência das situações, de foco nos aspectos humanos e nas consequências da destruição ou da presença de monstros em uma sociedade moderna. Tudo isso é deixado de lado para privilegiar aspectos menos interessantes enquanto se espera o próximo embate. Muito pouco para um estúdio que precisa urgente manter uma franquia em pé, mas que não apresenta novidades ou algo interessante em termos de continuidade. Haja bocejos na sala escura do cinema.