Entretenimento

Nada Será como Antes: Líbero exibe filme sobre Clube da Esquina

Documentário refaz a trajetória criativa de Lô e Márcio Borges, Milton Nascimento, Beto Guedes e outros músicos do Clube da Esquina. FOTO: JUVENAL PEREIRA/DIVULGAÇÃO
Documentário refaz a trajetória criativa de Lô e Márcio Borges, Milton Nascimento, Beto Guedes e outros músicos do Clube da Esquina. FOTO: JUVENAL PEREIRA/DIVULGAÇÃO

TEXTO: Naief Haddad/FOLHAPRESS

Numa tarde no início dos anos 1960, dona Maricota pediu a Lô Borges, um dos seus 11 filhos, que fosse comprar pão e leite para a família. O menino de dez anos começava a descer a escadaria do edifício Levy quando ouviu uma voz e um violão que o deixaram alucinado.

Seguiu degraus abaixo e pediu para se sentar ao lado do dono daquela voz, um rapaz dez anos mais velho, que havia acabado de se mudar para o prédio no centro de Belo Horizonte. Era Milton Nascimento. Tornaram-se amigos e, aos poucos, começaram a compor juntos.

A história, contada por Lô, é um pouco do que se pode esperar do documentário “Nada Será como Antes”. O filme dirigido por Ana Rieper lembra como surgiram algumas das canções e busca as origens da essência musical do “Clube da Esquina”, disco lançado em 1972, com participação de Milton, Lô, Beto Guedes, Fernando Brant, Márcio Borges (irmão de Lô), Wagner Tiso, Toninho Horta, entre outros.

Além de batizar o álbum, Clube da Esquina é o termo usado para se referir àquele grupo de amigos que começaram a se reunir na década de 1960, na capital mineira, para fazer canções ao violão ou ao piano. Temos, então, um filme sobre música e amizade – nesse caso, um provavelmente não existiria sem o outro.

Entre os momentos curiosos do documentário, Milton se recorda da insegurança de Brant ao lhe entregar a letra de “Travessia”, que se consagrou como uma das canções mais conhecidas daquela geração.

Aparecem ainda reflexões que não se restringem a composições específicas. Beatles e bandas de rock progressivo, como Genesis, são frequentemente mencionados como influências para os mineiros. Novelli, produtor de “Clube da Esquina 2”, disco de 1978, mostra que aqueles compositores se alimentaram de outras referências, como o jazz de Miles Davis e a música clássica de Debussy. O baterista Robertinho Silva aponta a presença da música afro em canções como “Cravo e Canela”, parceria de Milton e Bastos.

Assim, “Nada Será como Antes” cumpre bem um papel de construção da memória, lembrando músicos relevantes – alguns menos reconhecidos do que deveriam – e suas criações. Além disso, sempre vale a pena voltar a canções como “Cais” e “Paixão e Fé”.

Que não se espere, porém, grandes momentos de inventividade na maneira de contar essa história. São poucas as passagens em que o documentário escapa da trinca entrevistas, interpretações musicais e imagens antigas, um formato que soa monótono às vezes.

Mais de meio século após vir à tona, o Clube da Esquina ainda soa vigoroso e surpreendente, qualidades que, de modo geral, faltam ao documentário. O cinema brasileiro ainda deve um filme à altura desses mineiros.

Documentário tem cenas históricas, entrevistas e muita música. FOTO; JUVENAL PEREIRA/DIVULGAÇÃO

Filme terá exibição seguida de debate com críticos nesta terça-feira (9)

Em cartaz no Cine Líbero Luxardo, em Belém, desde a última quinta-feira, 4, o documentário “Nada Será Como Antes” terá uma exibição especial nesta terça-feira, 9, às 20h20, dentro do projeto Sessão Cult Debate. Depois do filme, haverá um bate-papo sobre a produção, com a participação do jornalista, radialista e crítico musical Edgar Augusto, colunista do Você, com sua “Feira do Som”, nome do programa que também apresenta na Rádio Cultura FM – agora semanalmente – e que já completou mais de 50 anos no ar. A mediação será do crítico e curador de cinema Marco Antônio Moreira, nome ligado à Associação de Críticos de Cinema do Pará e também ao Centro de Estudos Cinematográficos do Pará.

Em exibição normal, sem debate, o filme ainda poderá ser visto na sala amanhã, 10, às 20h40. Belém foi uma das 20 cidades incluídas na agenda de estreia do documentário, dentro do projeto Sessão Vitrine Petrobras.

A diretora do filme, Ana Rieper, é documentarista e vem atuando na direção e roteiro de filmes que abordam a relação entre música e sociedade. Seu trabalho mais conhecido é “Vou Rifar meu Coração” (2011), sobre o imaginário romântico no Brasil a partir do universo da música brega. Também roteirizou e dirigiu “Clementina” (2018), sobre a cantora Clementina de Jesus. (Texto: Da Redação)

ASSISTA

Quando: Terça,9, às 20h20, na Sessão Cult Debate, e quarta, 10, às 20h40.

Onde: Cine Líbero Luxardo (FCP/Centur – Av. Gentil Bittencourt, 650 – Nazaré)

Quanto: R$ 12 (inteira) e R$ 6 (meia), à venda por Pix, débito e dinheiro, uma hora antes de cada sessão.

O FILME

Nada será como antes

Sinopse: O filme mergulha na musicalidade de um excepcional time de músicos – Milton Nascimento, Lô Borges, Beto Guedes, Toninho Horta e outros – para entender como referências diversas refletiram na música que criaram.

Produção: Brasil, 2023.

Direção: Ana Rieper.

Avaliação: Bom.

Duração: 79 minutos.

Classificação: 10 anos.