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Entenda a diferença entre o mosquito da dengue e o pernilongo

Foto: Celso Rodrigues/ Diário do Pará
Foto: Celso Rodrigues/ Diário do Pará

Eliminar focos de reprodução, aplicar repelente e instalar telas protetoras em portas e janelas são métodos amplamente conhecidos para conter a propagação do Aedes aegypti, o mosquito vetor de doenças como dengue, Zika e chikungunya. No entanto, compreender o comportamento desse inseto, incluindo seus hábitos de alimentação e locais preferenciais para picadas, é igualmente crucial para a prevenção, especialmente quando se trata de distingui-lo de outros mosquitos, como o pernilongo.

“Se você for picado por um mosquito em casa à noite, principalmente em áreas urbanas, há uma grande probabilidade de ser um Culex quinquefasciatus, conhecido como ‘pernilongo comum’ ou ‘muriçoca’. O Aedes aegypti, por sua vez, tende a picar principalmente durante o dia, pois seu ciclo biológico sugere que a noite é um período de descanso”, explica Flávia Virginio, curadora da Coleção Entomológica do Instituto Butantan.

Embora as pernas listradas sejam uma característica distintiva do A. aegypti, essa marca não é exclusiva e pode ser encontrada em outras espécies do gênero Aedes, como o Aedes albopictus, que também está presente no Brasil. No entanto, ao contrário do que acontece no sudeste asiático, onde é o principal transmissor da dengue, o Aedes albopictus não é considerado um vetor da doença no Brasil.

O tamanho corporal dos mosquitos adultos também pode ajudar a diferenciá-los, embora isso possa variar dependendo das condições ambientais e da disposição de alimento que os representantes de cada espécie sejam expostos.

“O tamanho corporal muda conforme o sexo, sendo em geral, fêmeas maiores do que os machos. Considerando minha experiência vendo diariamente mosquitos das três espécies, em geral, Culex quinquefasciatus costuma ser mais ‘robusto’ e maior que os Aedes aegypti e Aedes albopictus”, explica Flávia. Porém, essas características podem variar se um exemplar de uma espécie comer mais do que o da outra durante a fase larval. “Certamente o que comeu mais será maior do que o que comeu menos”, reforça.

 

Atração por sangue, …

Os mosquitos A. aegypti e A. albopictus despertam com o nascer do sol, período conhecido como crepúsculo matutino, e procuram por alimento geralmente nas primeiras horas da manhã. 

O oposto ocorre com o pernilongo (C. quinquefasciatus), que tende a permanecer atrás de armários, sofás, em casas de cachorro ou outros lugares com pouca luminosidade durante o dia e sai do repouso no fim da tarde. Seu pico de atuação ocorre por volta da meia-noite e vai decrescendo até a manhã do outro dia.

Apesar de agirem em horários diferentes, tanto as fêmeas do Aedes aegypti quanto as do Culex quinquefasciatus vivem à base de sangue humano porque o líquido é essencial para nutrir seus ovos, embora também consumam seiva de plantas. As fêmeas do A. albopictus também se alimentam de sangue, mas “se viram bem” sugando aves e mamíferos por viverem em áreas de mata ou de intersecção entre áreas rurais e urbanas, ocupando principalmente o que chamamos de “peridomicílio” – o quintal destes ambientes.

“Quando acaba o alimento das fêmeas do A. albopictus em áreas florestadas, o que já vem ocorrendo por causa do desmatamento e pela urbanização, elas vêm para as cidades e se alimentam de humanos também”, ressalta Flávia.

Ao sugar o sangue de alguém infectado pela dengue, o A. aegypti se contamina com o vírus, embora não possa transmiti-lo a outras pessoas instantaneamente. A fêmea não adoece como o ser humano, mas pode ter diminuição de sua capacidade de voo e reprodução. Em questão de dias se torna capaz de transmitir o vírus para o humano pela sua saliva. O mesmo ocorre com os vírus Zika e chikungunya.

Já os machos de Aedes e Culex se alimentam somente da seiva de plantas, fontes de carboidratos necessários para sobreviverem. “Em raras exceções, até onde se sabe, alguns machos podem nascer infectados, devido à transmissão transovariana, onde a fêmea infectada passa o vírus para seus filhos, e consequentemente, estes machos podem transmitir o vírus sexualmente para as fêmeas. Mas isso ainda está sob investigação dos cientistas”, afirma Flávia. O tempo médio de vida dos mosquitos Aedes e Culex é de 30 dias.

… temperatura e cheiros 

Além do sangue, as fêmeas de Aedes e Culex também são atraídas por “cheiros” e gases expelidos por humanos e animais, captados através de quimiorreceptores nas antenas e em outras estruturas do corpo. “Apesar de elas não possuírem narinas, como os humanos, quando sentem o “cheiro” de suor, entendem que há vida ao redor e se aproximam para tentar se alimentar. É a mesma coisa quando sentimos cheiro de um bife na grelha e temos vontade de comer”, explica Flávia.

Além do cheiro, estes mosquitos também são atraídos pela temperatura corporal humana e por pessoas que vestem roupas de cores mais escuras, como preta, azul e vermelha. Da mesma forma que existem cheiros atrativos, existem os odores que repelem os mosquitos. O exemplo mais popular são os repelentes de uso tópico ou de ambientes.

Fonte: Instituo Butantan