TEXTO: ALINE RODRIGUES
Com um recorte especialmente pensado para Belém, abre hoje, 3, no Museu de Arte de Belém – Mabe, uma seleção especial da 35ª Bienal de São Paulo – Coreografias do Impossível, que foi sucesso de público e crítica em 2023. A montagem na capital paraense tem parceria com a Prefeitura de Belém por meio da Fumbel-Fundação Cultural do Município de Belém e patrocínio do Instituto Cultural Vale.
“A Bienal é uma exposição muito grande, são mais de 30 mil metros quadrados em São Paulo. Então, quando a gente viaja com as itinerâncias, tentamos compor núcleos da exposição que por si só consigam estabelecer diálogos com a sociedade local. O núcleo de Belém traz artistas de origem indígena e afrodiaspórica, mas indígena principalmente. Não só indígenas brasileiros, mas também da América Central e fora do Brasil”, falou Antônio Lessa, superintendente executivo da Bienal, destacando ainda que o objetivo ao expor a arte é provocar a discussão e debate com artistas que têm uma conexão direta com o povo, com a sociedade local, o que nem sempre é simples.
CURADORIA TENSIONA ESPAÇOS ENTRE O POSSÍVEL E O IMPOSSÍVEL
Com curadoria de Diane Lima, Grada Kilomba, Hélio Menezes e Manuel Borja-Villel, a 35ª Bienal de São Paulo – Coreografias do Impossível explora as complexidades e urgências do mundo contemporâneo, abordando transformações sociais, políticas e culturais. A curadoria busca tensionar os espaços entre o possível e o impossível, o visível e o invisível, o real e o imaginário, dando voz a diversas questões e perspectivas de maneira poética. A coreografia, entendida como um conjunto de movimentos centrados no corpo que desafia limites, considera diversas trajetórias e áreas de atuação, criando estratégias para enfrentar desafios institucionais e curatoriais. As coreografias do impossível geram suas próprias relações, tempos e espaços, oferecendo uma experiência marcante aos visitantes.
Em Belém, onde permanece até 26 de maio, a exposição inclui obras de Deborah Anzinger, Edgar Calel, Gabriel Gentil Tukano, MAHKU, e Nikau Hindin. “Acho que a exposição ficou linda e na medida. Não é uma exposição enorme, porque nós ocupamos um único prédio, mas é uma expansão potente que todo mundo vai gostar”, pontuou Lessa.
“O Pará é um estado muito grande; no Norte, tudo é muito grande. Trazer uma itinerante para Belém é dar a oportunidade da audiência do Pará ter contato com a discussão que foi feita em São Paulo e no mundo, e também não só trazer para região, mas também viver a região e as experiências locais. Essa troca faz parte da experiência da Bienal de São Paulo, aonde a gente traz gente e leva daqui também um pouco do conhecimento dos paraenses e do pessoal de Belém. É uma troca em que todo mundo ganha, uma troca saudável e boa”, completou o superintendente.
ITINERÂNCIA PROVOCA TROCAS CULTURAIS
O diretor-presidente do Instituto Cultural Vale, Hugo Barreto, reforça essa importância do Pará no cenário cultural. “O Instituto Cultural Vale vem focando muito a nossa atuação de cultura para o estado do Pará, pensando no desenvolvimento da produção local, que a gente vem apoiando. Este ano, estamos com 48 projetos apoiados no estado de um total de 100 projetos na Amazônia. Quase a metade”, destaca.
Barreto também destaca, noutra ponta, exatamente a itinerância de grandes projetos apoiados pelo ICV para o Pará. “Estamos trazendo a Bienal, trouxemos a Deborah Colker, a exposição ‘Brasil Futuro: as Formas da Democracia’, a exposição ‘Nhe’ ē porã’, que está no Museu Goeldi e é belíssima. E também levando produções e artes do Pará, do Maranhão, para o eixo Sul e Sudeste. É um diálogo de mão dupla, os meninos do Vale Música tocando lá no Rock in Rio com a OSB, junto com a banda Sepultura…”, enumera.
Ao todo, mais de dez cidades recebem recortes da Bienal, pensados para cada uma delas. Belém participa pela segunda vez do programa de mostras itinerantes da Bienal. “A gente entendeu que a primeira vez foi muito bem sucedida, então a Fundação repetiu a itinerância agora e tenho comigo que a gente vai repetir muitas vezes ainda, porque o Pará é um berço de grandes artistas, é um nascedouro de tendências de discussão artística no Norte, e essa conexão também lá de São Paulo é muito importante”, disse Lessa.
TRABALHO EDUCATIVO
Durante as itinerâncias, a equipe de educação da Fundação Bienal de São Paulo, em conjunto com as instituições parceiras, realiza duas frentes de trabalho que se complementam. São ações de formação com as equipes de mediadores e educadores da cidade, e ações de difusão para o público interessado geral.
“A gente tem uma parceria grande agora com a Secretaria de Educação, trouxemos técnicos do programa educativo de São Paulo. Eles vão fazer uma formação com os professores locais, mas também vão atender escolas e alunos diretamente, são alunos educadores que vão visitar a exposição. Vão receber a visita dos educadores para discutir esses temas tratados na exposição: inclusão, antirracismo, diversidade e decolonialismo”, contou Lessa, ressaltando o esforço da Bienal em levar a programação a um público o mais amplo possível.
“A gente tenta democratizar a cultura e a arte, colocando sempre a exposição em museus que estejam com as portas abertas. Por isso escolhemos um museu público e não uma instituição privada. O Museu de Arte de Belém foi recentemente reformado, o prédio está lindo e a população da cidade tem que usufruir dele”, diz Lessa.
VISITE
35ª Bienal de São Paulo – Coreografias do Impossível – Itinerância
Quando: De 3 de abril a 26 maio, com visitação de terça a domingo, das 9h30 às 16h30.
Onde: Museu de Arte de Belém (Palácio Antônio Lemos – Praça D. Pedro II, S/N – Cidade Velha)
Quanto: Entrada gratuita