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Paulo Nascimento mostra, em livro e filme “Chama a Bebel”, uma turma pronta mudar o mundo

Foto; Divulgação
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Quando Bebel, uma menina de 15 anos, cadeirante, deixa a mãe e o avô no interior e segue sozinha para a capital, para continuar os estudos, não imagina exatamente que vai embarcar em uma aventura ou se transformar numa heroína na escola. Mas segue com a consciência de que precisa fazer a sua parte para mudar o que enxerga de errado no mundo. É com essa firmeza de caráter que o roteirista, escritor e diretor de cinema gaúcho Paulo Nascimento criou a personagem principal de “Chama a Bebel”, projeto voltado ao público infantojuvenil que chegou ao público neste início de 2024 desdobrado em longa-metragem – disponível no YouTube e nas plataformas de streaming – e também em livro. No filme, Bebel é vivida por Giulia Benite, que se tornou conhecida ao dar vida à personagem Mônica nas adaptações da obra de Mauricio de Sousa em “Turma da Mônica: Laços” e “Turma da Mônica: Lições”.

Não é o público mais corriqueiro na filmografia do cineasta, diretor de histórias densas como “Ainda Somos os Mesmos” – drama baseado em fatos reais, ambientado nos primeiros momentos da ditadura de Pinochet no Chile, com estreia prevista nos cinemas brasileiros em 26 de junho deste ano -, “A Oeste do Fim do Mundo” (2013) e “Valsa para Bruno Stein” (2007), entre outros. Mas surgiu do olhar genuinamente curioso do cineasta sobre a filha adolescente e sua turma de amigos, e as diferenças que enxergava nesta geração em relação à sua própria. E quis contar essa história. Primeiro, veio o roteiro, e no processo da feitura do filme, já com o elenco escalado, começou a adaptar o formato para o livro.

“Comecei observando a minha filha, que na época tinha 14, 15 anos, e vendo a turma dela. A diferença que existia no ponto de vista dela em relação ao mundo e a minha geração. O quanto tinham uma preocupação de não termos um ‘planeta B’”, diz Paulo, em entrevista concedida ao DIÁRIO por telefone.

A pauta ambientalista veio como um dos substratos da história, em que Bebel conta com os amigos para desmascarar a empresa de cosméticos da cidade, que testa produtos em animais, além de construírem juntos um biodigestor no colégio. Bebel é admiradora da ativista sueca Greta Thunberg, hoje com 22 anos, referência que aparece no casaco amarelo inseparável da personagem no filme. E que Paulo conta, também veio da filha.

“Percebi que ela tinha essa referência. Eu mal sabia da Greta, que era uma menina [quando ele começou a pensar a história em 2017]. Um monte de coisa, eu peguei da minha filha, tipo o casaco amarelo igual ao da Greta. Passei um bom tempo sendo reeducado por essa geração e continuo sendo, porque a gente não percebe, comete pequenos erros, que vão se somando no dia a dia, e essa geração, a maior parte, tem intolerância zero para essas coisas. E eles têm razão. A Bebel fala isso: quando o avô pergunta se ela quer mudar o mundo, ela diz, ‘não vou mudar o mundo, eu quero fazer o que eu posso’. E cada um fazendo o que pode, vai mudando. Eles têm essa conscientização. Quando a gente fala que é uma história para uma geração que pensa diferente, é que pensa diferente da minha geração, que naquela época, final da ditadura, tinha uma preocupação política, mas não tinha a menor preocupação de inclusão, de sustentabilidade”, diz o diretor.

Paulo Nascimento diz que chegou a receber críticas de que “Chama a Bebel” levantava pautas demais ao mesmo tempo, inclusão, meio ambiente, cuidado com os animais… “Perguntavam, ‘mas qual é o foco?’. E eu dizia, o foco dessa história é a vida, a vida é tudo isso junto. A Bebel é o conjunto de todas essas coisas. Tanto que ela é PcD, ela é cadeirante, mas no início da história, ela diz, ‘isso não faz a menor diferença para o que eu sou, meus objetivos de vida, pelo que luto, então a gente não vai mais falar sobre isso’. E é isso que eu queria mostrar.”