Mundo

Netanyahu defende continuidade de guerra em Gaza após protestos

Netanyahu defende continuidade de guerra em Gaza após protestos Netanyahu defende continuidade de guerra em Gaza após protestos Netanyahu defende continuidade de guerra em Gaza após protestos Netanyahu defende continuidade de guerra em Gaza após protestos
Segundo um oficial da Casa Branca, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, disse a Netanyahu que Washington não vai participar de qualquer contra-ofensiva israelense.
Segundo um oficial da Casa Branca, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, disse a Netanyahu que Washington não vai participar de qualquer contra-ofensiva israelense.

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, fez um pronunciamento neste domingo (31) para responder aos protestos que tomaram o país na noite da véspera, os maiores desde a eclosão da guerra Israel-Hamas segundo os veículos locais.

Na ocasião, dezenas de milhares de pessoas reuniram-se em cidades como Tel Aviv, Jerusalém, Haifa, Be’er Sheva e Cesareia para demandar novas eleições e a devolução dos aproximadamente cem sequestrados no atentado de 7 de Outubro que continuam nas mãos do grupo terrorista de acordo com cálculos das forças israelenses, cerca de outros 110 foram libertados como parte de um acordo de cessar-fogo em novembro, e mais ou menos 20 teriam morrido em cativeiro.

Em seu discurso, Netanyahu disse estar comprometido com o retorno dos reféns; defendeu a continuidade da guerra na Faixa de Gaza; e reafirmou que pretende invadir Rafah, cidade na fronteira com o Egito que hoje abriga mais da metade do total de cerca de 2,3 milhões dos habitantes do território.

“Como primeiro-ministro de Israel, estou fazendo e farei de tudo para trazer nossos entes queridos para casa”, disse ele, acrescentando que a melhor forma de resgatá-los é combinando pressão militar e negociações.

Bibi, como o premiê é conhecido, ainda tentou se proteger politicamente ao afirmar que a convocação de eleições agora, como pediam alguns manifestantes, paralisaria as negociações para a libertação dos reféns. “O primeiro a celebrar isso seria o Hamas.”

As declarações, feitas pouco antes do líder se submeter a uma cirurgia de correção de hérnia, aparentemente não foram suficientes para aquiescer a população. Depois do pronunciamento televisionado, uma multidão ainda protestava em Jerusalém exigindo um novo pleito.

Nesta semana, os representantes do Knesset, o Parlamento israelense, votaram a favor da manutenção do recesso anual de seis semanas entre abril e maio a despeito da guerra em curso, o que provocou consternação em parte da sociedade local.
“Este governo é um desastre completo e absoluto”, disse à agência de notícias Reuters Nurit Robinson, 74, durante a manifestação. “Eles vão nos levar ao fundo do poço.”

Os manifestantes também se queixam da isenção do serviço militar, obrigatório para homens e mulheres do país, para os judeus ultraortodoxos. Netanyahu a princípio tinha até este domingo para apresentar uma legislação para resolver o impasse de décadas sobre o assunto, mas na semana passada, submeteu um pedido de mais 30 dias de prazo à Suprema Corte.

A Justiça concordou e deu ao governo até 30 de abril para submeter argumentos adicionais. Em uma decisão provisória, porém, ordenou a suspensão do financiamento público para alunos de seminários ultraortodoxos que seriam passíveis de recrutamento, válida a partir da segunda (1º).

“As luzes do gabinete de Netanyahu estão acesas há uma semana […] para garantir que os ultraortodoxos possam continuar fugindo do recrutamento apesar da guerra”, afirmou o líder da oposição, Yair Lapid, em frente ao prédio do Legislativo, em Jerusalém, segundo o jornal Times of Israel.

“Se um centésimo, um milésimo, dessa eficiência tivesse sido dedicada aos reféns, aos refugiados, à gestão da guerra ou à economia, nossa situação seria completamente diferente. Mas só há uma coisa importante para Netanyahu; permanecer no cargo”, completou. Os ultraortodoxos são uma importante base da coalizão do governo de Bibi, a mais à direita da história israelense.

Para o porta-voz do Fórum de Reféns e Famílias Desaparecidas, Haim Rubinstein, os protestos do sábado representaram um ponto de virada. “Esta noite é nada menos do que um divisor de águas na luta para devolver os 134 sequestrados e sequestradas que estão morrendo nos túneis do Hamas. As famílias estão fartas”, afirmou ele no X. “Tudo explodiu numa noite, quando todos juntos deram uma mensagem clara a Netanyahu: não permitiremos que você impeça um acordo!”

Bibi afirma que Tel Aviv está mostrando flexibilidade nas negociações com o Hamas, retomadas há alguns dias. “Estou comprometido a trazer todos os reféns para casa, homens e mulheres, civis e soldados, vivos e os que foram mortos. Não deixaremos ninguém para trás”, declarou no pronunciamento.

Já no que se refere à invasão terrestre de Rafah, Bibi não tentou demonstrar maleabilidade. A comunidade internacional tem expressado apreensão com a perspectiva de combates na cidade densamente populada, mas Netanyahu reafirmou que pretende adentrá-la. “Leva tempo, mas será feito. Não há vitória sem isso”, afirmou ele.

Ao mesmo tempo, o líder citou planos para a retirada da população civil e a distribuição de ajuda humanitária antes dos combates. Tel Aviv mantém Gaza sob cerco total desde o início do conflito, em 7 de outubro, restringindo a entrega de carregamentos sob a alegação de que parte dos materiais pode representar um risco à sua própria segurança. À medida que a insegurança alimentar se alastra por Gaza devido aos bloqueios, contudo, o Estado judeu passou a ser acusado de usar a fome como uma arma de guerra.

Bibi também cumprimentou o Exército e a Agência de Inteligência de Israel por sua incursão ao hospital Al-Shifa, um dos principais no norte de Gaza, iniciada há cerca de duas semanas. De acordo com ele, as forças de segurança mataram mais de 200 terroristas no centro médico e suas adjacências, além de terem encontrado armamentos e componentes usados para lançar mísseis anti-tanque no local.

“Nenhum hospital do mundo é assim. Isso como um lar de terroristas se parece”, disse o premiê. Funcionários do Shifa, que já tinha sido invadido anteriormente, afirmam que as vítimas incluíram pacientes do local e refugiados palestinos que se abrigavam em seu entorno.

Tel Aviv ainda ocupa vários outros hospitais na faixa, sendo dois deles em Khan Yunis, no sul, e o Al-Aqsa, em Deir Al-Balah, no centro. Neste domingo, quatro pessoas morreram em combates no Aqsa e diversas outras ficaram feridas, incluindo cinco jornalistas, disseram autoridades palestinas —o Exército israelense informou apenas que um combatente sênior do Jihad Islâmica, facção aliada do Hamas, veio a óbito.