Igor Gielow/Folhapress
A anistia para os envolvidos nos ataques de cunho golpista do dia 8 de janeiro de 2023 contra as sedes dos três Poderes é rejeitada por 63% dos brasileiros, revela a mais recente pesquisa do Datafolha. São a favor do perdão 31% dos ouvidos, ante 2% que se dizem indiferentes e 4% que não opinaram.
Conhecido como o Capitólio brasileiro, em referência a ato similar ocorrido contra a sede do Legislativo americano em circunstâncias semelhantes em 6 de janeiro de 2021, o ataque gerou uma reação institucional e legal sem precedentes.
Assim como nos Estados Unidos manifestantes vandalizaram o Congresso por não se conformar com a derrota de Donald Trump para Joe Biden no pleito de novembro de 2020, em Brasília foram bolsonaristas insatisfeitos com a vitória de Lula (PT) sobre seu líder.
A mão da lei foi dura. Houve mais de mil prisões, que geraram cerca de 1.400 denúncias. Um dos presos morreu na cadeia esperando julgamento, gerando acusações de maus-tratos por parte de bolsonaristas, e até aqui 145 pessoas foram condenadas a penas que vão de 3 a 17 anos de prisão.
A anistia é um tema caro a Jair Bolsonaro (PL), que a pediu em um grande ato em seu apoio ocorrido na avenida Paulista, em São Paulo, no dia 25 de fevereiro.
Não foram poucos que viram ali um pedido não só para os já presos, mas para si: o ex-presidente é objeto de investigação sobre um plano para manter-se no cargo após a derrota de 2022.
Assim, há um apoio maior no bolsonarismo ao tema do perdão, mas ele não é avassalador como em outras questões, comparado com a opinião dos petistas.
Segundo o Datafolha, se dizem a favor da anistia 40% dos eleitores de Bolsonaro no segundo turno de 2022, ante 25% dos de Lula. Contra o instrumento estão 71% dos votantes petistas e 53%, dos bolsonaristas.
No sábado passado (23), manifestantes de grupos de esquerda protagonizaram protestos dispersos pelo país contra Bolsonaro e, especificamente, a ideia de anistiar os réus e condenados do 8/1 –medida que não está colocada no Supremo, de todo modo.
Mesmo entre segmentos que costumam se alinhar ao bolsonarismo, não surgem discrepâncias muito grandes. Para 59% dos evangélicos, por exemplo, a anistia não deve ser concedida, ante 33% que a defendem.
Os números foram aferidos nos dias 19 e 20 de março com 2.002 entrevistados. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.
ATUAÇÃO DE MORAES
Símbolo da ação da Justiça na apuração e julgamento dos envolvidos nos atos golpistas do 8 de janeiro de 2023, o ministro do Supremo Alexandre de Moraes tem sua conduta no caso avaliada de forma mista pelos brasileiros. Segundo o Datafolha, 37% aprovam seu trabalho, ante 33% que o reprovam.
Outros 24% dos 2.002 ouvidos consideram que a condução do magistrado no episódio é regular. A pesquisa foi feita em 19 e 20 de março, e a margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou menos.
Moraes tornou-se um dos mais polêmicos ministros da história recente da corte devido a sua ação em casos envolvendo o radicalismo populista de direita que emergiu com a chegada de Jair Bolsonaro (PL) à Presidência, em 2018.
Ele é o relator do inquérito das fake news, que apurava inicialmente ataques pessoais a ministros do Supremo, o que gerou críticas: o magistrado estaria julgando um caso em que é vítima potencial. A corte rejeita tal colocação.
O inquérito acabou se tornando um guarda-chuva sobre diversos atos associados ao golpismo bolsonarista, que hoje é apurado na questão da trama para manter o ex-presidente no poder e no caso do 8/1 no qual 145 pessoas já foram condenadas.
Para críticos do ministro, é um poder excessivo e discricionário, e aliados do ex-presidente dizem que ele o persegue. Há também erros formais apontados na sua ação. Seus apoiadores veem no trabalho de Moares um esteio da defesa da democracia em um momento crucial da história recente do país.